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    CRÍTICA

    Drama 'O Estado das Coisas' se desequilibra entre caos e redenção

    ANDREA ORMOND
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    05/11/2017 02h00

    Divulgação
    Troy (Austin Abrams) é filho de Brad (Ben Stiller, ao fundo) e Melanie (Jenna Fischer)
    Troy (Austin Abrams) é filho de Brad (Ben Stiller, ao fundo) e Melanie (Jenna Fischer)

    O ESTADO DAS COISAS (regular)
    (BRAD'S STATUS)
    DIREÇÃO Mike White
    ELENCO Ben Stiller, Austin Abrams, Jenna Fischer, Shazy Raja
    PRODUÇÃO EUA, 12 anos
    Veja salas e horários de exibição

    *

    O leitor talvez se lembre de "Beleza Americana".

    Kevin Spacey interpretava Lester Burnham, anos antes de "House of Cards".

    Lester era o quarentão frustrado, alguém que percebeu a própria mediocridade e caiu de amores por uma ninfeta. Narrava o filme em off, em evocação de clássicos como "Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder.

    "O Estado das Coisas" não tem a ninfeta. Tem o filho. É Troy (Austin Abrams) quem catalisa a história. Mesmo sem querer, chuta a sanidade mental do pai (Brad, Ben Stiller) para o abismo. Troy representa a mocidade. Brad começa a sentir a velhice.

    Brad Sloan dirige uma ONG. Age como ser humano ungido por todos os mandamentos da responsabilidade social e, no entanto, é mordido pela mosca azul: a inveja.

    Como caricatura do anglo-saxão protestante de Max Weber, a inveja de Brad aumenta porque ele deseja dinheiro. Sente-se mal ao ver que amigos de faculdade enriqueceram. Não é a busca pela transcendência, é a busca por dólares. E assim Sloan anda aborrecido. Poderia imitar a hiena Hardy, dos desenhos antigos.

    A situação piora porque Troy vai fazer o circuito das universidades.

    Nada semelhante existe no Brasil, então nessa hora o espectador pode se perder na diluição cultural.

    O fato é que os pais roem as unhas, tentando uma vaga para os filhos na Ivy League ou se contentando com faculdades menos badaladas.

    E tome narração em off de Brad, verborrágico, confrontado pela sensação de ser um "loser".

    Conhece colegas de Troy. Claro que Ananya (Shazy Raja) será uma idealização de moça alfa: brilhante, bonita, musicista. E claro que Ananya lembrará Brad de si mesmo. Dos seus tempos de ventura, quando novo, desimpedido e cheio de sonhos.

    Ponto favorável, o personagem histérico não sobrou para uma mulher. Ficou para Sloane mesmo, cujo momento de epifania é realizado de modo ingênuo pelo diretor-roteirista-ator Mike White.

    Na sala de concertos, a música talvez toque o coração de Brad, mas a construção da cena remete aos comerciais de margarina. Pode-se perceber a intenção catártica do roteiro, mas, entre o feito e o desejado, existem léguas.

    "O Estado das Coisas" desperdiça a oportunidade e não joga luzes sobre um dos cânones do cinema norte-americano —a crise de gerações—, sem alcançar uma linha tênue entre a redenção e o caos da derrota.

    Assista ao trailer de 'O Estado das Coisas'

    Assista ao trailer de 'O Estado das Coisas'

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