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    Irmã quer tirar biografia de Belchior de circulação e irá lançar sua versão

    AMANDA NOGUEIRA
    DE SÃO PAULO

    07/11/2017 02h01

    Quando Belchior morreu, em abril deste ano, encerrando o mistério sobre seu paradeiro, uma biografia do cantor já havia sido escrita, mas ganharia, a partir dali, seu capítulo final antes de ser publicada pela Todavia, quatro meses mais tarde, em agosto.

    "Apenas um Rapaz Latino-Americano", de Jotabê Medeiros, se tornaria pouco depois alvo de críticas feitas por Ângela Belchior, irmã do cantor.

    "[O livro] é ofensivo à nossa honra e principalmente à honra de Belchior, que não está mais presente fisicamente na Terra", diz a socióloga Ângela Belchior, que, ao lado do advogado Estêvão Zizzi, pretende lançar a própria versão da vida do irmão em outubro do ano que vem, quando ele completaria 72 anos.

    "Estamos pegando depoimentos porque a gente não quer uma biografia mentirosa para as gerações vindouras", diz a irmã do músico.

    Ela contesta trechos como o que cita um confronto entre Belchior e um decano não identificado da Faculdade de Medicina de Porangabuçu, em Fortaleza, que teria chamado o aluno de "medíocre".

    Para Ângela, no entanto, o trecho "mais ofensivo entre todas as questões ofensivas" é o que, em sua interpretação, negaria a participação de sua mãe em coral de igreja.

    A passagem em questão fala sobre mitos que rodeiam a imagem do ídolo, como "narrativas heroicas que o reportam como ex-cantador de freiras", por exemplo.

    "Tudo cascata. Mãe que cantava em coral de igreja? Essa era uma história típica da mitologia dos artistas negros evangélicos norte-americanos, mas que não batia com a rotina eclesiástica das igrejas do Nordeste brasileiro", diz o trecho do livro.

    Para Jotabê Medeiros, os aspectos citados por Ângela revelam versões discordantes de fontes e, em alguns casos, falhas de interpretação.

    "Não estou dizendo que a mãe dele não cantava na igreja, estou dizendo que a tradição da Igreja Católica brasileira é diferente da igreja evangélica, que tem uma tradição mais apurada nesse sentido, o que fundamenta a tradição de cantores de blues americanos", explica Medeiros.

    Sobre o incidente com o decano, o autor afirma ter ouvido o relato de dois colegas de faculdade de Belchior. "Eu não disse o nome do decano porque sabia exatamente que ele poderia negar", diz.

    Segundo Ângela, "todos os membros da família estão lendo o livro dele com muito carinho, pontuando esses erros e enviando-os para o Zizzi". "Nosso objetivo é tirar o livro de circulação, estamos tomando as providências", diz.

    "É um tipo de autoritarismo, eu não acho isso bacana", diz Medeiros. "Eles têm dito que só eles podem contar a história de Belchior; eles podem, eu só não acho que preciso bater o que eu apurei com o que eles apuraram."

    CONSPIRAÇÃO

    Para ele, as críticas são uma represália por ele discordar da opinião de Ângela sobre o sumiço do cantor.

    "Ela acha que todo o pessoal que abrigou o Belchior no Rio Grande do Sul fazia parte de uma grande conspiração para mantê-lo refém", diz. "Discordo, dentro da minha investigação não achei fundamento para dizer esse tipo de coisa e na biografia digo que acho inverossímil."

    Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano
    Jotabê Medeiros
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    O autor também aponta diferenças entre a intenção da obra dele e a da que Ângela e Zizzi escreverão: "Eles têm como ponto de partida ser uma biografia oficial, a minha é não autorizada, partimos de princípios distintos."

    A nova biografia será narrada em primeira pessoa, a partir de uma entrevista feita com o cantor em Iracema, no Ceará, em 2005, e incluirá depoimentos de amigos e fãs.

    Segundo Zizzi, o livro falará também do "suposto 'sumiço'" do cantor e das três versões que sua mulher, Edna Prometheu, teria dado sobre a morte dele. A Folha tentou entrar em contato com Prometheu, mas não a encontrou.

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