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    Havaiano Jack Johnson canta tema anti-Trump em show esgotado em SP

    MARCO AURÉLIO CANÔNICO
    DO RIO

    07/11/2017 02h00

    Morgan Maassen/Divulgação
    Ex-surfista profissional, Johnson apresenta turnê com cenografia feita de plástico retirado das praias do Havaí
    Ex-surfista profissional, Johnson faz turnê com cenografia feita de plástico retirado das praias do Havaí

    O mundo está uma bagunça: há plástico demais nos oceanos, raiva demais nas redes sociais e um empresário que apresentava reality shows presidindo a nação mais poderosa do planeta.

    "São tempos malucos", diz o cantor havaiano Jack Johnson, 42. "Os artistas sempre têm um papel nesses momentos." Para ele, "As canções funcionam em mão dupla: o autor reflete o que vê na sociedade e a sociedade reflete o que vê nas obras".

    Isso explica o tom de algumas canções do disco mais recente, "All the Light Above it Too", lançado em setembro.

    Nele, mantendo a mesma sonoridade "luau acústico" que o caracteriza, Johnson trata de política, poluição e da exposição.

    Ele recebeu a Folha pouco antes de seu show na Jeunesse Arena, no Rio, na noite deste domingo (5). Magro, com a pele queimada pelo sol praiano de seu Havaí natal, usava camiseta, calça jeans e chinelos —mesmo visual com que subiria ao palco.

    "Como fã de música, muito da maneira como encaro o mundo vem do que eu ouvia nas canções do Neil Young, do Greg Brown. Às vezes as canções traduzem algo que você sente, mas não consegue expressar."

    Entre as novas músicas, a mais abertamente política é "My Mind Is for Sale", que fala da eleição de Donald Trump à Presidência em versos como "não ligo para os seus muros paranoicos tipo 'nós contra eles'".

    "Que uma estrela de 'reality TV', sem nenhuma qualificação para ser presidente dos Estados Unidos, consiga ascender tão rapidamente é algo que precisa ser comentado", diz Johnson.

    Ele se preocupa em não soar como se estivesse patrulhando: "Ninguém tem obrigação de cantar sobre o que quer que seja, mas, como pai e como alguém que tem fãs jovens que ainda estão definindo sua visão de mundo, senti a responsabilidade de falar sobre isso".

    Apesar das letras românticas (todas dedicadas à mulher) e contemplativas (sobre a natureza, o mar, o mundo) serem mais conhecidas, Johnson diz que se engajar não lhe é estranho: "Cada um dos meus discos tem algum comentário político ou social".

    O tom mais assertivo do último álbum, no entanto, rendeu-lhe certa antipatia nas redes sociais. Não que ele tenha entrado para ver.

    "Não uso a internet para ver notícias sobre mim mesmo, acho muito perigoso. Ou você vai ver gente dizendo que você é o maior, e isso não é bom para sua cabeça, ou vai ver gente dizendo que você não presta, o que pode te desanimar e te levar a desistir."

    SHOW DE SUCESSOS

    Na atual turnê, que chega a São Paulo nesta terça (7), só duas canções recentes têm entrado no repertório: a mencionada "My Mind Is for Sale" e a praiana "Big Sur".

    Desde a abertura, com "You and Your Heart", "Taylor", "Staple it Together" e "Sitting, Waiting, Wishing", predominam os sucessos radiofônicos que os fãs cantarolam e registram nos celulares. Na plateia, há uma clara predominância de casais.

    Acompanhado de uma trinca de amigos (baixo/acordeom, bateria/cajón, piano), o havaiano mostra no palco a mesma simpatia e tranquilidade dos bastidores.

    Saúda e agradece ao público em português, desce para tirar selfies com os fãs colados na grade, lê cartazes que eles levam, põe pitadas brasileiras em certas canções – "Staple it Together" é misturada com "Mas que Nada", de Jorge Ben Jor, e "Banana Pancakes" ganha um "fala comigo em português, meu amor".

    O cenário é simples, eficiente e, claro, ecologicamente correto: lâmpadas coloridas dentro de cúpulas de plástico reciclado ("Tirado das praias do Havaí", informa o cantor) e, sobre o palco, uma rede ondulada que emula o mar e o céu, de acordo com as luzes projetadas.

    A apresentação reflete muito do clima relaxado do disco, o primeiro em que Johnson tocou a maior parte dos instrumentos.

    "Foi meio acidental, estava experimentando a bateria, o baixo, para depois mostrar aos músicos para eles fazerem versões mais bem acabadas. Quando ouvi minhas versões originais, achei interessante, tinha algo vivo na maneira como eu cantava e tocava violão."

    *

    JACK JOHNSON
    QUANDO nesta terça (7), às 22h
    ONDE Espaço das Américas (r. Tagipuru, 795, Barra Funda, SP)
    QUANTO R$ 240 a R$ 460 (ingressos esgotados)
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    Edição impressa

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