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    Crítica

    'O Palácio da Memória' amplia potência em versão impressa

    ANTONIO PRATA
    COLUNISTA DA FOLHA

    11/11/2017 02h00

    Luiza Sá-Davis/Divulgação
    O escritor americano Nate Dimeo lança o livro 'O Palácio da Memória
    O escritor americano Nate Dimeo lança o livro 'O Palácio da Memória'

    O PALÁCIO DA MEMÓRIA (ótimo)
    AUTOR Nate DiMeo
    TRADUÇÃO Caetano W. Galindo
    EDITORA Todavia
    QUANTO R$ 44,90 (256 págs.); R$ 29,50 (e-book)

    *

    Nate DiMeo tem 43 anos, nasceu em Rhode Island, nos Estados Unidos, e desde 2008 produz para a NPR (a rádio pública americana) o podcast "Memory Palace", no qual conta histórias extraordinárias de pessoas desconhecidas e histórias desconhecidas (mas não menos incríveis) de pessoas extraordinárias. (thememorypalace.us ).

    Histórias extraordinárias de pessoas desconhecidas: Henry Brown, um escravo que consegue escapar de seu cativeiro na Virginia escravocrata, em 1849, enviando-se por correio, dentro de uma caixa, para a Filadélfia abolicionista. Minik Wallace, um esquimó de sete anos que, no outono de 1897, se vê órfão e sozinho em Nova York.

    Mil e setecentos soldados do Terceiro Reich que fingem se apaixonar pelo vôlei para escapar de um campo de prisioneiros no Estado do Arizona, em 1943.

    Histórias desconhecidas de pessoas extraordinárias: o Nobel Guglielmo Marconi, pai do rádio, que acreditava na imortalidade do som.

    Assim, todas as ondas sonoras já produzidas continuariam reverberando por aí, para sempre.

    Infelizmente, Marconi morreu sem conseguir criar o receptor potentíssimo que o permitiria sintonizar Shakespeare ensaiando com um ator ou Jesus proferindo o Sermão da Montanha.

    O astronauta John Glenn, que, orbitando a Terra a 30 mil quilômetros por hora, 200 km acima do solo, viu do lado de lá da janela milhares de bolinhas cintilantes, como vaga-lumes a acompanhá-lo na viagem. De volta, o astronauta afirmou que ninguém poderia ver o que ele viu e não acreditar em Deus.

    (Anos depois, provou-se que as orbes cintilantes eram o xixi congelado de John Glenn, expelido da cápsula, refletindo a luz do Sol.)

    COISA DE FÃ

    Essas e outras 50 histórias ficariam restritas ao público da rádio pública americana, não fosse o tradutor brasileiro Caetano W. Galindo, um fã do podcast.

    Galindo mandou um e-mail para Nate DiMeo com a proposta de verter as narrativas para o português e transformá-las num livro —coisa que DiMeo não havia feito nem sequer nos Estados Unidos.

    Nate DiMeo é um repórter/historiador fantástico, capaz de desenterrar todos esses personagens e essas histórias, além de um narrador assustadoramente bom.

    Mas há outra razão, suspeito, para que ele consiga manter a tensão e o suspense sempre lá no alto, desde a primeira frase das histórias: é o fato de o material ter sido escrito originalmente para ser ouvido, não lido.

    O Palácio da Memória
    Nate Dimeo
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    Ao escutarmos um conto produzido para o rádio (assim como ao assistirmos a um filme ou a uma série de TV), temos menos paciência para divagações ou desvios do que ao lermos um livro.

    O que já era forte no áudio, agora impresso, ganha ainda mais potência.

    É possível saborear, na cadência de leitura de cada um, a prosa fina, enxuta e comovente oferecida pelo autor —e pelo tradutor.

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