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    Peça usa linguagem do melodrama para debater o abuso de mulheres

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    15/11/2017 02h10

    Rafael Ianni/Divulgação
    O showrunner Marksc Schwahn, de 'One Tree Hill' acusado de assédio sexual
    As atrizes Ana Elisa Mattos (deitada) e Joyce Roma em frente à Oficina Cultural Oswald de Andrade

    Vocês que me Habitam", que estreou no início da semana na Oficina Cultural Oswald de Andrade, é um espetáculo feito em camadas.

    São dois planos, o da história de uma menina que sofreu um estupro, e outro mais lírico, da relação das personagens com o tempo.

    Em meio aos dois, estão ainda as camadas de identidade da protagonista —que tenta entender a si mesma e o abuso que sofreu e a relação da violência com uma sociedade de tradição patriarcal.
    "Quantas pessoas são necessárias para que você seja você mesma? Quantas pessoas cabem dentro de você?", ela se questiona em cena.

    A montagem surgiu de uma pesquisa das atrizes Ana Elisa Mattos e Joyce Roma e do dramaturgo Gustavo Colombini sobre o tempo. O texto depois ganhou colaboração da diretora Erica Montanheiro, que criou, com a história do abuso sexual, um fio condutor para a trama.

    Em cena, as atrizes alternam as alusões temporais (o tempo que parou, que ficou suspenso) com a história de uma mulher (Mattos) que, após sofrer um estupro, engravida e procura auxílio médico para realizar um aborto, mas não encontra muito suporte no sistema de saúde.

    A narrativa é costurada pelo melodrama, linguagem que Montanheiro pesquisa há mais de dez anos —ela a inaugurou no seu trabalho com o grupo Os Fofos Encenam e depois a aprofundou durante residência artística na França.
    O resultado se dá principalmente na linguagem corporal das atrizes, com gestos exagerados, quase coreografados, para expressar as angústias e dores da personagem.

    Durante o processo da peça, surgiram no texto "frases novas a cada dia", diz a diretora. Caso de "não tem constrangimento" —referência à decisão do juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto de libertar Diego Ferreira de Novais, que havia ejaculado em uma passageira de um ônibus.

    A equipe do espetáculo também fará, em colaboração com a Secretaria Municipal de Políticas Para as Mulheres, apresentações vespertinas para cerca de 200 mulheres que sofreram algum tipo de abuso e são atendidas pelos centros de amparo à população feminina.

    *

    VOCÊS QUE ME HABITAM
    QUANDO seg., ter. e qua., às 20h; até 20/12
    ONDE Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363, tel. (11) 3221-4704
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    Edição impressa

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