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    Andrew Garfield moveu apenas a cabeça durante maior parte de filme

    DANIEL BUARQUE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

    16/11/2017 02h00

    Enquanto caminha pelas ruas de Londres, onde vive, o ator Andrew Garfield costuma ser abordado por fãs do seu personagem mais famoso. "Muitos nem chegam perto e só gritam 'Homem-Aranha', de longe", conta, em entrevista à Folha, em um hotel no centro da capital inglesa.

    Porém seus tempos de enfrentar vilões na tela e de fazer acrobacias no ar ficaram para trás. O foco de seu novo filme propõe uma discussão sobre o sentido da vida: "Uma Razão para Viver", de Andy Serkis, no qual Garfield atua quase sem se mexer.

    O filme pode dar ao ator uma nova indicação ao Oscar após a nomeação na edição passada por "Até o Último Homem", de Mel Gibson.

    O ator interpreta a história real de Robin Cavendish, inglês que ficou paralisado do pescoço para baixo ao contrair pólio aos 28 anos e que se tornou um símbolo da luta de deficientes por dignidade e qualidade de vida. Durante a maior parte do filme, ele atua sentado ou deitado, movendo apenas a cabeça.

    O título do filme em português é uma adaptação do original em inglês "Breathe" (respirar). Trata-se de uma referência ao aparelho que o mantêm vivo com respiração artificial, e que é praticamente um personagem no filme. Mas Garfield acha que a versão brasileira funciona bem.

    "Adoro este título. Acho que faz muito sentido. O filme tenta responder a essa pergunta: Por que estamos aqui? O que estamos fazendo? Como damos sentido a esta vida que nos foi dada?", diz.

    Segundo ele, viver um personagem com deficiência o levou a pensar sobre o privilégio de ter um corpo que funciona. "Nós, que temos nossos corpos e não enfrentamos dificuldades, ficamos muito preguiçosos e complacentes. É só quando isso é ameaçado que as coisas precisam ganhar foco e as pessoas precisam responder a essas perguntas. Por que estou respirando neste mundo? Esta é a pergunta do filme."

    De acordo com o astro, a experiência serviu para que ele repensasse sua própria vida.

    "Quando nasci, contrai meningite, e isso podia ter me matado ou me deixado com sequelas graves. Não aconteceu, mas acho que é algo que faz parte da minha vida, e penso sobre isso frequentemente. Saber disso é algo que deixa resíduos em mim."

    É assim que ele constrói a atuação do seu personagem paralisado. "Foi muito interessante entrar naquele corpo e naquela circunstância. Você aprende muito sobre seu próprio corpo", conta.

    "Ainda há muito que precisa ser feito pelos direitos dos deficientes no mundo."

    Garfield não conhecia a história de Cavendish até se deparar com o roteiro do filme e ficou comovido com a história de amor entre seu personagem e Diane (Claire Foy). É ela quem dá força a Cavendish e o ajuda a sobreviver.

    AVISO DE SPOILER

    O filme também propõe uma discussão sobre eutanásia e ética médica. Isso porque Cavendish decidiu dar fim à própria vida, quando seu corpo começou a dar sinais de que pararia de funcionar completamente.

    "Acho que é uma questão muito pessoal. Robin tomou a decisão que tomou. E parece uma decisão positiva, de uma forma estranha", diz.

    "Não acho que as pessoas devem interferir na vida e nas decisões de outras pessoas. Não há doutrina religiosa que possa me convencer do contrário. É uma decisão pessoal", defende Garfield.

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