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    CRÍTICA

    'Algo de Novo' fala sobre tabu de forma leve, divertida, sem culpas

    ANDREA ORMOND
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/11/2017 01h00

    Divulgação
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    Eduardo Valdarnini e Micaela Ramazzotti em cena do filme "Algo de Novo"

    ALGO DE NOVO (bom)
    DIREÇÃO Cristina Comencini
    ELENCO Paola Cortellesi, Micaela Ramazzotti e Eduardo Valdarnini
    PRODUÇÃO Itália, 2016, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (16)
    Veja salas e horários de exibição

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    Dirigido pela italiana Cristina Comencini, "Algo de Novo" fala de um tabu. Duas quarentonas namoram o mesmo rapaz de 19 anos. Lucia (Paola Cortellesi) e Maria (Micaela Ramazzotti) praticamente devoram Luca (Eduardo Valdarnini).

    O grande perigo do filme estaria em reduzir tudo a uma fórmula pronta. Seria cansativo vermos Lucia e Maria no papel de mulheres frágeis, manipuladas pelo galã de cabelos encaracolados. Ou de tiranas velhas, sem coração.

    É bom que fique claro: as duas melhores amigas apenas querem se divertir. Nada mais.

    "Algo de Novo" assume totalmente a comédia, sem culpas. Leve, divertido, solar. Um combo feminino, com Comencini na direção e adaptando a própria peça teatral ("La Scena"). Cortellesi e Giulia Calenda ajudam no roteiro.

    Ninguém quis se dar ao trabalho de reinventar a roda. Uma personagem alegre (Maria), outra séria (Lucia). Até mesmo os figurinos representam essa dualidade quase infantil, que vai sendo quebrada lentamente.

    Por outro lado, Luca não é unidimensional. Não é um garoto bobo, nem se coloca no papel de aprendiz, como um Harold sequestrado de "Ensina-me a Viver". Também não encarna a figura do opressor masculino. É apenas um jovem.

    Cortellesi e Ramazzotti estão completamente previsíveis, mas adoráveis. Repetem a velha estratégia das duplas cômicas: enquanto uma morde, a outra assopra. Enquanto uma é doidivanas, a outra coloca ordem na baderna. Com tanta empatia, "Algo de Novo" poderia dar um passo além e consumar o relacionamento das duas. Mas aí já seria pedir demais. O poliamor vem na versão para iniciantes.

    No belo e recente "Fala Comigo", o brasileiro Felipe Scholl uniu um jovem de 17 a uma mulher de 43. A tese central está longe do empoderamento feminino em si, mas na entrega dos personagens. Já "Doidas e Santas", de Paulo Thiago, opera o milagre dos códigos psicologizantes e dos questionamentos sobre o papel da mulher na sociedade.

    Curioso perceber que o desejo feminino, de um modo ou de outro, vai parar nas telas. Por mais díspares que sejam os filmes, o público está recebendo produções antenadas com o novo espírito. Sinal dos tempos. Seja no Coliseu, seja nos trópicos brasileiros, as mulheres compartilham um cotidiano frenético. E o mercado, como não é trouxa, adora.

    Assista ao trailer de 'Algo de Novo'

    Assista ao trailer de 'Algo de Novo'

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