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    Tartaruga de Darwin evolui e ressurge como humana em peça satírica

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    17/11/2017 02h10

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    O rapper norte-americano Lil Peep morreu na noite desta quarta (15) aos 21 anos
    Marcos Suchara (historiador) e Ana Cecília Costa (Henriqueta) em ensaio de 'A Tartaruga de Darwin'

    Ao longo de seus quase 200 anos de vida, a tartaruga encontrada por Charles Darwin nas ilhas Galápagos –e que serviria de base para a teoria da evolução do cientista inglês– evoluiu. Transformou-se numa senhora de formas humanas, com alguns resquícios de sua origem réptil.

    A trama fabular criada pelo espanhol Juan Mayorga é inspirada em Harriet, tartaruga que viveu até 2006, quando morreu com estimados 175 anos no zoológico de Queensland, na Austrália.

    Era tida como uma espécie levada por Darwin do arquipélago sul-americano em 1835 –hoje há divergências sobre a origem do animal.

    Mas a ciência é só pretexto para o dramaturgo em "A Tartaruga de Darwin", peça que ganha nova montagem brasileira nesta sexta-feira (17).

    Mayorga concentra a trama em Henriqueta (Ana Cecília Costa), versão evoluída do réptil, que chega à casa de um historiador (Marcos Suchara) com uma proposta: ela, que foi testemunha de grandes fatos da história, narraria detalhes dos acontecimentos; em troca, ele a ajudaria a voltar a Galápagos, onde ela quer passar seus últimos dias.

    Henriqueta viu alguns dos maiores acontecimentos da história do século 20. Estava lá na Revolução Russa, nas duas grandes guerras, na queda do Muro de Berlim. É quase "um Forrest Gump", compara a diretora Mika Lins.

    Também questiona algumas verdades históricas e dá importância aos pequenos detalhes, como o olhar de um soldado ao ler a carta da amada.

    Essa "tapeçaria" de diferentes pontos de vista da história seria influência da obra do alemão Walter Benjamin, tema da tese de doutorado de Mayorga, comenta Ana Cecília. Idealizadora da montagem, a atriz já havia encenado em 2015 outra peça do dramaturgo, "A Língua em Pedaços", que voltou ao cartaz no mês passado (leia abaixo).

    Na sua estada, a tartaruga ainda narra o processo de sua evolução. Aprendeu a ler com a revista "Times", que Darwin, entusiasta das cruzadinhas da publicação, espalhava pelo jardim de casa. Soltou a primeira palavra para socorrer uma garota durante a guerra.

    Mas sua transformação sem precedentes desperta a ganância do historiador, da mulher dele (Tuna Dwek) e de um médico (Diego Machado). "De todos os animais, o homem é o mais terrível", diz Henriqueta. "É uma peça crítica [à humanidade]", afirma a encenadora. "Não sobra nada, todos querem explorá-la."

    O figurino de Henriqueta reúne uma série de balagandãs de várias épocas, de um penteado anos 1920 a um tênis de corrida cor-de-rosa do século 21. "Quem viveu 200 anos viveu todos os momentos da moda", brinca Mika.

    O cenário de Cássio Brasil busca um diálogo com a luz: traz um chão e alguns móveis reluzentes, além de um fundo com negatoscópios (aparelhos para ver radiografias), aqui sobrepostos por imagens que rementem aos momentos históricos narrados.

    Mas há "quebras" nos elementos do cenário, do figurino e da música, explica a diretora, como algumas canções pop que pontuam mais humor na narrativa. "Achávamos que tínhamos que rir um pouco da gente mesmo, rir da linguagem do teatro, não se levar muito a sério."

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    A TARTARUGA DE DARWIN
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; sessões extras em 24/11, 1º e 8/12, às 17h; até 17/12
    ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
    QUANTO R$ 9 a R$ 30
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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    + mayorga

    "A Língua em Pedaços", de Mayorga, que Ana Cecília Costa estreou em 2015, voltou ao cartaz no teatro Eva Herz (av. Paulista, 2.073) aos sábados, às 18h, até 9/12 (ing.: R$ 50). A atriz, dirigida por Elias Andreato, divide o palco com Joca Andreazza em texto baseado na vida da freira Teresa d'Ávila.

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