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    Exílio de grupo uruguaio El Galpón na ditadura inspira peça 'Vou Voltar'

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    17/11/2017 12h00

    Um dos grupos mais tradicionais do Uruguai, o El Galpón tem uma janela na sua história com o país. Fundado em 1949 em Montevidéu, acabou "ilegalizado" por decreto do regime militar em 1976. Muitos integrantes foram presos, torturados e depois seguiram para o exílio no México.

    É da experiência dos uruguaios que o Ponto de Partida, companhia de Barbacena (MG), tira a trama de "Vou Voltar", peça com sessões em São Paulo até segunda (20).

    Os mineiros, que já somavam parcerias com o Galpón desde os anos 1990, passaram oito dias com os integrantes do grupo uruguaio. "A gente ia das 10h às 22h", lembra Regina Bertola, que dirige e assina a dramaturgia da peça.

    Reuniram relatos como o da atriz e produtora Amélia Porteiro, 70, que viu o marido Dardo Delgado, também ator, ser preso e exilado dois meses antes dela. Amélia viajou ao México grávida de seis meses e acompanhada apenas do filho mais velho, então com menos de dois anos.

    No México, viviam ainda com parte dos pertences empacotados. "Creio que todos chegamos ao exílio com a ideia que seria tudo muito transitório e breve. Sempre tivemos muito claro que iríamos voltar", diz Amélia à Folha.

    Ainda assim, o Galpón seguiu bastante ativo na temporada mexicana. Viajava e apresentava-se pelo país, sempre protestando contra o regime uruguaio após as sessões.

    "A única maneira de manter o grupo foi focar o trabalho no grupo", explica Amélia. Segundo ela, no exílio a companhia se empenhou para se profissionalizar –antes, os integrantes também tinham outros empregos. A mudança marcou o modo de trabalho do coletivo após o regresso ao Uruguai.

    O retorno se deu antes mesmo do fim da ditadura, após forte pressão internacional. Chegaram em 1984 como heróis, recepcionados no aeroporto de Montevidéu por uma caravana que os levou até o centro da capital uruguaia.

    RESISTÊNCIA

    Em "Vou Voltar", contudo, o Ponto de Partida não reproduz literalmente as histórias dos uruguaios, nem repete seus nomes. A dramaturgia ainda é permeada por textos dos escritores Eduardo Galeano e Mario Benedetti. É uma montagem, diz a diretora, que "representa a resistência latino-americana no exílio".

    "O espetáculo o tempo todo pontua a história com o nosso tempo hoje. É muito fácil a gente cair na censura."

    A música, sempre destaque nos trabalhos dos mineiros, traz composições instrumentais de Pablo Bertola e Pitágoras Silveira e um resgate do repertório da MPB.

    Como a canção cuja letra dá nome ao espetáculo: "Sabiá", de Tom Jobim e Chico Buarque, aquela dos versos "Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar/ Para o meu lugar".

    *

    VOU VOLTAR
    QUANDO sex. (17) e sáb. (18), às 21h; dom. (19) e seg. (20), às 18h
    ONDE Sesc 24 de Maio, r. 24 de Maio, 109, tel. (11) 3350-6300
    QUANTO R$ 9 a R$ 30
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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