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    Mesmo atrás das grades, Manson marcou presença na cultura pop americana

    TONY GOES
    COLUNISTA DO "F5"

    20/11/2017 11h46

    Charles Manson já era pop antes mesmo de se tornar um dos "serial killers" mais famosos de todos os tempos. Ou, pelo menos, tentava ser: na década de 1960, depois de cumprir duas sentenças de prisão por crimes como roubo de carros e estelionato, Manson sonhava em ser um astro de rock. Compunha, tocava guitarra e circulava pelo meio musical da Califórnia, onde ficou amigo de Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys.

    A banda chegou a gravar uma música de Manson como o lado B de um compacto, mas mudou a letra e o título: "Cease to Exist" ("deixar de existir", em tradução livre) se transformou na menos lúgubre "Never Learn to Love" ("nunca aprender a amar"). Nos créditos da faixa, Wilson aparece como seu único autor.

    Mas foi outra canção que ficou para sempre associada a Manson e à sua "família" de assassinos: "Helter Skelter", do chamado "White Album" dos Beatles, lançada um ano antes dos crimes que chocaram o mundo.

    Manson chamava de "Helter Skelter" a guerra apocalíptica entre negros e brancos que, segundo sua pregação alucinada, em breve engolfaria o mundo. As mortes brutais da atriz Sharon Tate e mais oito pessoas serviriam de gatilho para precipitar o conflito.

    Preso em 1970 e condenado à morte, Manson e outros membros de seu grupo mais tarde tiveram as penas comutadas para prisão perpétua. Nos quase cinquenta anos que se seguiram, mesmo atrás das grades, o líder da "família" jamais abandonou seus delírios de estrelato. Chegou a lançar dois álbuns gravados na cadeia: "LIE" (1970) e "Live at San Quentin" (1993).

    Manson de fato se tornou uma estrela, mas não por causa de seu talento musical. Sua figura sinistra, tão bizarra que parecia ficção, fascinou dezenas de artistas e inspirou dezenas de obras.

    O cantor Marilyn Manson deve a ele seu sobrenome artístico. A banda Guns N'Roses gravou uma de suas composições no disco "The Spaghetti Incident?" (1993). Linda Kasabian, membro da "família", inspirou o nome da banda Kasabian. Outra integrante, Lynette Fromme - que não participou dos assassinatos de 1969, mas, em 1975, tentou matar o então presidente americano Gerald Ford - virou personagem de "Assassins", um musical da Broadway criado por Stephen Sondheim.

    Sem falar nos inúmeros filmes, documentários e séries de TV. Como a recente "Aquarius", em que David Duchovny (popularizado por "Arquivo X") fazia um detetive que investigava a "família" Manson.

    Até mesmo Quentin Tarantino, talvez o mais pop dos cineastas, se deixou seduzir: seu próximo filme, ainda em fase de pré-produção, focará no ano de 1969, e dedicará boa parte aos crimes dos seguidores de Charles Manson.

    Isto quer dizer que, mesmo depois da morte, Manson e sua imagem satânica —o olhar esbugalhado, a suástica feita a faca no meio da testa— ainda continuarão a assombrar a cultura pop dos Estados Unidos.

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