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    Criador do Inhotim oferece obras de arte para bancar dívida com MG

    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    22/11/2017 12h45

    Bernardo de Mello Paz, empresário que criou o Instituto Inhotim, ofereceu obras de arte em exposição no museu para saldar uma dívida com o governo de Minas Gerais. A proposta lista cerca de US$ 170 milhões em trabalhos de artistas renomados como Adriana Varejão e Cildo Meireles.

    Entre as obras estão "Celacanto Provoca Maremoto", painel que imita azulejos portugueses, e a escultura "Linda do Rosário", ambas de Varejão. Foram oferecidas também "Inmensa", conjunto de cadeiras e mesas de Meireles, e "Gigante Dobrada", escultura de ferro de Amílcar de Castro.

    A proposta foi divulgada pelo "Valor Econômico" e confirmada pela Folha. Todo o acervo do Inhotim é avaliado em US$ 1,5 bilhão.

    O governo de Minas ainda vai estimar o valor exato das obras por meio de consultorias especializadas, mas, em uma avaliação inicial, a proposta foi classificada de "insuperável" pelo advogado-geral do Estado, Onofre Batista.

    Nelson Almeida/AFP
    Bernardo de Mello Paz, empresário que idealizou o museu Inhotim em meados dos anos 1980
    Bernardo de Mello Paz, empresário que idealizou o museu Inhotim em meados dos anos 1980

    Segundo Batista, a ideia do governo mineiro é manter as obras no museu. "Se o governo aceita, neste caso, por se tratar do Inhotim e da sua relevância para Minas Gerais, vamos desenhar um formato para cumprir a missão de garantir o funcionamento do Inhotim", disse.

    A dívida de Paz com o governo, vinda de sua atividade na mineração, se arrasta por mais de 25 anos e chegou a R$ 500 milhões. Com a adesão ao Plano de Regularização de Créditos Tributários, lei estadual aprovada em julho que dá desconto para que devedores acertem suas contas, o montante cai para cerca de R$ 150 milhões.

    A oferta de Paz, se convertida a reais, chega a R$ 550 milhões —mais que o triplo devido. A lei estadual aceita o pagamento de dívidas com obras de arte e prevê que, caso o valor do bem supere o valor da dívida, o devedor não tem direito à diferença.

    Embora a oferta de Paz não ajude a cobrir o deficit nas contas de Minas Gerais, serve ao propósito do governo de preservar Inhotim, tido como importante fonte de receita por receber até mais visitantes que as cidades históricas.

    "Não é uma questão de caixa. Se a gente não cuidar da galinha, pode perder toda a produção de ovos que Inhotim proporciona", afirmou Batista.

    Batista avalia que há riscos que podem atingir o museu, como a incerteza após a condenação de Paz, em setembro.

    LAVAGEM DE DINHEIRO

    Paz foi condenado a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro em movimentações financeiras de empresas das quais foi sócio. A defesa nega as acusações e já recorreu da sentença.

    Com a propriedade de parte das obras, o governo quer assegurar que o Inhotim continue atraindo visitantes. Batista afirmou ainda que o processo de pagamento da dívida será judicializado e terá a participação do Ministério Público.

    Segundo o Instituto Inhotim, "a negociação visa dar perenidade ao relevante acervo artístico em exposição no Inhotim, uma vez que um dos termos negociados com o Estado é a permanência das obras no museu, a título de comodato, sem possibilidade de serem removidas".

    Atualmente, as obras de arte são de propriedade de Paz e são cedidas ao instituto a título de comodato. Em fevereiro, o empresário doou ao instituto todas as edificações e terrenos que formam a área de visitação do museu, com cerca de 140 hectares.

    Além de investimentos de Paz e da verba de visitação, o Inhotim é financiado pelo governo de Minas e pela Lei Rouanet.

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