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    Crítica

    Sermão budista da animação japonesa 'Por Que Vivemos' cansa

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    23/11/2017 01h00

    Divulgação
    Cena da animação japonesa 'Por Que Vivemos', de Hideaki Ôba
    Cena da animação japonesa 'Por Que Vivemos', de Hideaki Ôba

    POR QUE VIVEMOS (ruim)
    DIREÇÃO Hideaki Ôba
    ELENCO Katsuyuki Konishi, Ayumi Fujimura, Hideyuki Tanaka
    PRODUÇÃO Japão, 2016, 10 anos
    QUANDO estreia na quinta (23)
    Veja salas e horários de exibição

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    Nas últimas três décadas, a excelência das animações japonesas, conhecidas no Brasil como animês, esteve muito associada a Hayao Miyazaki, hoje com 76 anos.

    Uma das viradas da carreira desse diretor de Tóquio aconteceu com a fundação do seu estúdio de animação, Ghibli. Lá foram produzidos filmes como "Meu Vizinho Totoro" (1988), "A Viagem de Chihiro" (2001) e "Vidas ao Vento" (2013).

    Também japonês, Hideaki Ôba chegou a trabalhar com Miyazaki no Ghibli, mas pouco assimilou das lições do mestre, a julgar pela animação dirigida por ele "Por que Vivemos", agora ao circuito comercial do Brasil.

    O filme de Ôba é uma peça de propaganda de uma das vertentes do budismo, a Terra Pura. Ao assumir essa linha doutrinária, "Por que Vivemos" se afasta automaticamente das ambiguidades narrativas e da imaginação visual com as quais Miyazaki tem fascinado crianças e adultos mundo afora.

    O filme de Ôba se baseia em episódios verídicos do período feudal do Japão, no século 15. O personagem central é Ryôken, um agricultor que se sente responsável pela morte trágica de sua mulher, que estava grávida.

    Ryôken trilha um caminho já conhecido: a culpa conduz à ira que, por sua vez, resulta em uma adesão crescente à religião. Ele acaba se tornando monge ao seguir rigorosamente o mestre Rennyo, que propaga os ensinamentos do Buda Amida, reverenciado pela Terra Pura.

    Dez minutos de sermão de Rennyo são um aborrecimento para o espectador, seja ele budista ou não. E há ainda que suportar expressões repetidas como um mantra, como "o navio do voto da grande compaixão".

    Muitos cinemas no Brasil já deixaram de existir, dando lugar a templos. As salas sobreviventes fariam bem se reservassem suas telas aos filmes, e não às pregações, sejam quais forem as religiões.

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