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    Crítica

    Ator em crise existencial inspira drama argentino de gosto amargo

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    23/11/2017 01h00

    Divulgação
    Guillermo Pfening e Rafael Ferro em cena do filme 'Ninguém Está Olhando'
    Guillermo Pfening e Rafael Ferro em cena do filme 'Ninguém Está Olhando'

    NINGUÉM ESTÁ OLHANDO (bom)
    DIREÇÃO Julia Solomonoff
    ELENCO Guillermo Pfening, Elena Roger, Rafael Ferro
    PRODUÇÃO Argentina/Colômbia/Brasil/Eua/França, 2017, 14 anos
    QUANDO estreia na quinta (23)
    Veja salas e horários de exibição

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    Ao andar pelas ruas de Nova York, o argentino Nico (Guillermo Pfening) encontra uma cadeira que estava abandonada em uma calçada e decide levá-la para casa. Longe de ser exuberante, a cadeira alia conforto e resistência. Cumpre bem, portanto, a função que se espera dela.

    É uma passagem aparentemente banal de "Ninguém Está Olhando", novo filme da diretora argentina Julia Solomonoff. Mas o drama concebido pela cineasta é como a cadeira do personagem: simples do ponto de vista estético e, no final das contas, mais vigorosa do que parecia à primeira vista.

    Ator de grande popularidade na Argentina, Nico troca Buenos Aires por Nova York. Ele diz a todos que está em Manhattan por conta de projetos no cinema, mas logo se descobre que deixou seu país de origem devido a um caso amoroso mal resolvido com um produtor de TV.

    Nos EUA, Nico coleciona namoros e trabalhos breves. Só há consistência na relação dele com um bebê, de quem cuida para ganhar uns trocados. Enquanto o mundo rui ao seu redor, o protagonista se ampara em um afeto quase paterno.

    A convivência com o bebê é um bálsamo no dia a dia dessa Nova York vista pela América do Sul, uma cidade que se impõe, sobretudo, pela frieza.

    No microcosmo de Nico, a rejeição é profissional e afetiva. Ele não avança como um ator para tipos norte-americanos devido ao sotaque e tampouco se enquadra no estereótipo latino porque é loiro. Além disso, a cena gay da metrópole, ainda que vibrante, não oferece o acolhimento que ele procura.

    Há ainda o macrocosmo de argentinos, brasileiros, colombianos, paraguaios... Manhattan os incorpora, mas como uma subclasse. Nesse aspecto, um mérito de "Ninguém Está Olhando" é deixar que o gosto amargo suba lentamente à superfície, sem a ebulição do denuncismo.

    A crise existencial do personagem é bem delineada pelo roteiro, também de Solomonoff. A qualidade dos diálogos, aliás, tem sido marca fundamental do cinema argentino neste século.

    Mas fatia expressiva da força dramática do filme se deve à interpretação notável de Guillermo Pfening. Sem recorrer a rompantes para reiterar a solidão, o ator põe a sensibilidade a serviço de Nico, um homem em fuga e, em última instância, em busca de si mesmo.

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    Assista ao trailer de 'Ninguém Está Olhando'

    Assista ao trailer de 'Ninguém Está Olhando'

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