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    O livro não vai acabar em desuso como o disco de vinil, diz Gerhard Steidl

    THAIZA PAULUZE
    DE SÃO PAULO

    24/11/2017 20h51

    Dono da Steidl, uma das principais editoras de livros fotográficos do mundo, o alemão Gerhard Steidl é enfático em dizer que o produto está longe da extinção. Ao contrário dos discos de vinil e das máquinas fotográficas com filme, relegados ao passado, as obras impressas continuarão abrindo espaços nas estantes por preservarem a memória para as gerações futuras.

    "O livro permanece inalterado mesmo milhares de anos após sua impressão. Não é apenas um lugar de armazenamento, tem memória", disse o editor na abertura do festival de arte e fotografia Zum 2017, realizado nesta sexta-feira (24) pela revista "Zum", no Instituto Moreira Salles, em São Paulo. O festival tem o apoio da Folha.

    Para o alemão, se a opinião daqueles que preveem a extinção do produto estivesse correta, o mercado de literatura clássica na Alemanha já deveria ter desaparecido, uma vez que, após tantos anos, os escritos passam a não ter mais direito autoral nem ganham royalties.

    Assim, a reedição não seria lucrativa, afirmou. "Mas os mercados continuam saudáveis e comprometidos mais do que nunca com novas edições."

    O editor não vê o papel como uma atividade onerosa, mas como um "experimento em si mesmo". Para ele, o livro tem aura, e sua beleza faz parte da mensagem. "Precisamos de coragem para defender a cultura e o conhecimento contra a ideologia de consumo digital rápido."

    O impresso tem, no entanto, que continuar justificando sua existência. "Criar um bom livro não é só ter um bom conteúdo, mas edição cuidadosa, com conceito estético, papel durável, qualidade de impressão e o know-how da indústria editorial."

    FEITO À MÃO

    O modelo de negócio da reconhecida editora é inspirado em seu compatriota Johannes Gutenberg, que, no século 15, inventou a prensa de tipos móveis, permitindo a impressão de livros em massa.

    Para Steidl, Gutenberg inventou um conceito de marketing, que alia três pontos-chave: conteúdo (ele queria tornar a Bíblia mais acessível), arte (ele fez desenhos à mão nos exemplares) e tecnologia (a prensa).

    "Ele participava de todo o processo, desde a concepção até a tipografia, encadernação e venda, sob demanda. Eu copiei esse modelo e trouxe toda a atividade para minha esfera pessoal."

    Steidl abraçou até a impressão dos exemplares. Terceirizar o serviço era motivo de frustração. "As empresas não tinham paixão, amor pela estética, faziam o processo o mais rápido possível e mandavam a fatura. Era horrível pagar uma fortuna por um resultado incrivelmente ruim."

    Para ele, bons frutos aparecem quando o dono está no controle de todas as fases. "Em outras editoras, o design é feito na Espanha, o detalhe, na Índia, e a impressão e encadernação, na China. Em geral é uma decepção para autor e leitor. Os livros da Steidl são distribuídos em todos os países, mas são produzidos apenas na Alemanha por mim."

    Sua editora produz 130 livros visuais por ano. "Poderia dobrar a impressão, contratar mais gente, mas eu não quero perder a qualidade."

    A globalização foi aliada dos negócios. Em poucos anos, as obras deixaram de ser vendidas majoritariamente na Alemanha; atualmente, Hong Kong recebe 60% dos livros da editora.

    A Steidl doou 1.300 exemplares à biblioteca do IMS Paulista, que agora faz parte do seleto grupo que recebeu o acervo da editora, entre eles uma biblioteca na própria Alemanha e outra em Cingapura. A próxima será a Biblioteca Pública de Nova York, nos EUA.

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