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    Convocado pelo Teatro Oficina, ato faz 'abraçaço' contra torres no Bexiga

    ISABELLA MENON
    DE SÃO PAULO

    26/11/2017 19h39

    Vestindo camisetas com escritas como "Silvio Santos dê um presente a São Paulo", ou não vestindo nada, como no caso de uma artista que dançou sem camisa, um ato em defesa do Teatro Oficina reuniu cerca de 1.500 pessoas, segundo a organização, neste domingo (26), na frente do teatro, no bairro do Bexiga.

    A manifestação, que contou com artistas, políticos e cantores, promoveu um 'abraçaço' no quarteirão do Oficina, que também abriga um terreno vizinho que pertence ao Grupo Silvio Santos.

    A vizinhança é motivo de embate há 37 anos entre o diretor Zé Celso, responsável pelo Oficina, que quer fazer da área um parque, e a construtora do apresentador, cujo projeto para o local é construir torres.

    "Esse foi o evento mais lindo em que já fui", disse o vereador Eduardo Suplicy (PT) à Folha. Ele contou que frequenta o Teatro Oficina desde a juventude e acredita que ainda há esperança de que o terreno seja usado para a construção de uma praça, ao invés de torres.

    "Essa grande mobilização é importante para fazer com que o Silvio Santos não seja tão insensível e possa contribuir para a cidade", disse. "Ele [Silvio Santos] é um homem de televisão e passou a vida toda interagindo com artistas, eu acho que ele deve ter essa sensibilidade de perceber."

    O ato Domingo no Parque aconteceu cerca de um mês após o Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio, reverter uma decisão de 2016 que proibia a construção de torres, pelo grupo de Silvio Santos, no terreno vizinho do Oficina.

    Organizada pelo Teatro Oficina, em parceria com a comissão Salvar o TBC, a Casa de Dona Yayá e outros espaços culturais do bairro, a manifestação foi, segundo os organizadores, uma resposta à especulação imobiliária da região e em defesa da manutenção desses centros de cultura.

    Durante a tarde, artistas guiaram o público num "abraçaço" em volta do quarteirão do Oficina e do terreno vizinho.

    Segundo Zé Celso, 80, o ator e diretor do Teatro Oficina, a mudança na decisão do Condephaat está ligada ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em agosto de 2016.

    "Em 37 anos, ele [Silvio Santos] não mexeu neste terreno. Com o golpe, tudo vai caindo. As pessoas [dos órgãos públicos] são trocadas por outras que visam o mercado."

    Sem dar declarações durante o ato, Zé Celso explicou em entrevista à Folha que sua postura visou dissociar sua figura da polêmica que envolve o Teatro Oficina e o grupo Silvio Santos.

    "Não é Zé Celso contra Silvio Santos, é Zé Celso e todo mundo", afirmou.

    De acordo com Marília Gallmeister, arquiteta cênica do Teatro Oficina -que, vale lembrar, foi projetado pela ítalo-brasileira Lina Bo Bardi-, a construção de torres pelo grupo Silvio Santos ao redor do teatro não se resume a um problema local.

    "A gente sabe que o que está por trás disso é algo muito mais perverso; se eles conseguem desmontar uma companhia que tem mais de 60 anos, eles conseguem fazer isso com qualquer outra companhia."

    Procurado, o Grupo Silvio Santos disse que respeita a posição de Zé Celso, mas não se pronunciará sobre o caso.

    CACILDA BECKER RESSUSCITADA

    Entre os atos que aconteceram durante a tarde, a atriz Camila Mota, em frente ao TBC, "ressuscitou" Cacilda Becker (1921-1969) em uma performance durante a qual pariu artistas como Ruth Escobar (1935-2017) e Paulo Autran (1922-2007).

    "Esse dinheiro podia ser revertido para atrizes e atores. Queremos dinheiro para mostrar nossa arte", gritou Mota durante a encenação.

    TOMBAMENTO

    O evento aconteceu também em meio a outra polêmica, esta sobre o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), espaço tombado pelo patrimônio histórico há 35 anos e fechado desde 2008, quando foi comprado pela Funarte.

    "Nossa crise é mais humana que econômica", disse a atriz Denise Fraga, que faz parte da comissão Salvar o TBC durante o ato.

    Em agosto passado, o Ministério da Cultura anunciou que iria conceder a administração da casa à iniciativa privada.

    A decisão levou artistas a criarem a comissão Salvar o TBC, que reúne o crítico e pesquisador teatral Alvaro Machado, o produtor Guilherme Marques, o diretor Ruy Cortez e o pesquisador Stênio Dias Ramos, entre outros nomes.

    O grupo e os artistas argumentam que a privatização reduziria a diversidade cultural do TBC, cuja reforma já custou à Funarte cerca de R$ 15 milhões.

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