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    Companhia faz percurso no centro de SP inspirada em 'Mrs Dalloway'

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    27/11/2017 02h00

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Da esquerda para a direita: Ronaldo Serruya, Rodolfo Amorim, Juliana Sanches e Janaina Leite na estrutura da estufa
    Da esquerda para a direita: Ronaldo Serruya, Rodolfo Amorim, Juliana Sanches e Janaina Leite na estrutura da estufa

    Um silêncio contemplativo, mas também o nada dizer que causa um certo incômodo.

    Para seu novo espetáculo, "Intervenção Dalloway - Rio dos Malefícios do Diabo", que estreia nesta segunda (27), o Grupo XIX de Teatro se soltou um pouco da dramaturgia tradicional, de personagens e história definidas, e mergulhou num percurso pelo centro de São Paulo, abafando o burburinho da cidade e acentuando seus detalhes.

    A companhia, cujos primeiros trabalhos (como "Hysteria" e "Hygiene") eram marcados pela pesquisa histórica, agora parte de "Mrs Dalloway" (1925), romance de Virginia Woolf que acompanha a protagonista nos preparativos para uma festa e suas andanças por Londres. Mas o livro é apenas um norte.

    "Intervenção" acontece durante a semana, no período da tarde, acompanhando o movimento do centro. Começa com um encontro entre a companhia e os espectadores (a quem é recomendado usar roupas confortáveis para a caminhada).

    Depois de algumas menções à obra de Woolf, o público é dividido em grupos guiados pelos atores -Janaina Leite, Juliana Sanches, Luiz Fernando Marques, Rodolfo Amorim e Ronaldo Serruya.

    A plateia faz o percurso munida de abafadores de ruído, criando um "silêncio dentro de São Paulo", comenta Amorim. "Nos primeiros espetáculos, a gente tinha um discurso. Esses silêncios também significam não saber bem o que dizer hoje [numa sociedade polarizada]."

    INTERNO

    É um caminho, continua Serruya, que busca o "deslocamento interno" (das sensações de cada um com a cidade e com os outros) proposto pela escritora inglesa no livro. "Nós construímos o espetáculo junto com o público. É uma viagem muito individual", afirma Marques.

    A atual pesquisa do XIX, denominada A Estufa e a Cidade (um debate sobre nossa relação com o meio urbano e as "bolhas" em que vivemos), nasceu de um trabalho que o grupo fez em 2015 durante uma mostra no Sesc Consolação sobre o centenário do polonês Tadeusz Kantor.

    À época, a companhia partia de antigas performances do encenador nas quais ele embalava os atores, como numa metáfora da opressão.

    Em "Intervenção", o percurso desemboca num espaço no vale do Anhangabaú, nome de origem tupi-guarani cuja tradução é posta no subtítulo da peça, "Rio dos Malefícios do Diabo" -conta-se que os indígenas temiam as águas do riacho. Ali, é construída uma estufa, na qual o grupo cria outras formas de ver e ouvir a cidade.

    "Há uma relação, nesse nome, entre morte e vida", afirma Sanches. "De criar artificialmente condições naturais para que as coisas floresçam."

    INTERVENÇÃO DALLOWAY
    QUANDO seg. a qui., às 16h; até 14/12
    ONDE Ponto de encontro: edifício sede da SELJ - Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo (antigo Banco de São Paulo), pça. Antônio Prado, 9
    QUANTO grátis; reservas pelo reservadalloway@gmail.com ou facebook.com/grupoxixdeteatro
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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