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    Após condenação, Bernardo Paz renuncia à presidência do Inhotim

    AMANDA NOGUEIRA
    NATHALIA DURVAL
    DE SÃO PAULO

    28/11/2017 17h13 - Atualizado às 20h16

    Nelson Almeida/AFP
    O empresário Bernardo de Mello Paz idealizou o museu Inhotim nos anos 1980
    O empresário Bernardo de Mello Paz idealizou o museu Inhotim nos anos 1980

    Bernardo de Mello Paz, empresário que idealizou o Inhotim nos anos 1980, renunciou à presidência do museu nesta terça-feira (28).

    A decisão foi divulgada após Paz ter sido condenado, em setembro, a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro em movimentações financeiras de empresas das quais foi sócio. A defesa nega as acusações e já recorreu da sentença.

    O economista Ricardo Gazel, que ocupou o cargo de diretor-executivo do instituto entre setembro de 2012 e setembro de 2013, assume a presidência do conselho.

    Segundo a assessoria de imprensa do Inhotim, o afastamento partiu de uma iniciativa do empresário e seria uma tentativa de desatrelar sua imagem da do museu.

    A renúncia reitera o discurso da defesa. À época da condenação, o advogado do empresário, Marcelo Leonardo, afirmou que os fatos listados pela Procuradoria não tinham relação com o instituto. "Eles dizem respeito a episódios de 2007 e 2008, relativos a empresas de mineração e siderurgia de que Bernardo foi sócio", disse.

    Procurado pela reportagem, Leonardo não soube precisar os motivos que levaram seu cliente a deixar o cargo.

    Referência em arte contemporânea e um dos maiores centros artísticos ao ar livre da América Latina, o Inhotim foi construído em uma fazenda de Paz em Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte. O instituto opera normalmente.

    ENTENDA O CASO
    A decisão da juíza federal Camila Franco e Silva Velano pela condenação de Paz havia sido publicada em setembro, mas só divulgada neste mês pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais.

    Maria Virgínia de Mello Paz, irmã do empresário, também foi condenada por participar do crime, mas teve pena menor, de cinco anos e três meses em regime semiaberto.

    Segundo a Procuradoria afirmou na denúncia apresentada em 2013, o empresário e sua irmã praticaram lavagem de ativos de suas empresas, escondendo a origem e a natureza de recursos provenientes de sonegação de contribuições previdenciárias, nos anos de 2007 e 2008.

    As movimentações que chamaram a atenção do Coaf (unidade de inteligência do Ministério da Fazenda que detecta operações irregulares no sistema financeiro) implicavam, entre outras empresas, a Horizontes Ltda., criada com a finalidade de manter o Instituto Inhotim a partir de doações de outras empresas.

    De acordo com a Procuradoria, a Horizontes repassou a outras empresas de Bernardo Paz ao menos US$ 95 milhões que inicialmente haviam sido doados ao instituto.

    OUTRO LADO
    Marcelo Leonardo, que também é o representante legal de Maria Virgínia de Mello Paz, afirma que a condenação de seus clientes por lavagem de dinheiro é injusta.

    "Ele é inocente e a decisão é injusta, por isso já recorremos para o Tribunal Regional Federal da Primeira Região, onde a gente espera que a decisão seja revertida e ele, absolvido", diz Leonardo.

    Segundo a sentença, além das transações irregulares entre empresas de Paz, foram constatados saques em espécies nas contas do grupo "sem que se pudesse identificar o destino final dos valores".

    O advogado afirma que as movimentações são alterações financeiras regulares.

    DÍVIDAS
    As acusações remetem ao período em que Paz foi proprietário do conglomerado Itaminas, composto por 29 empresas, a maioria na área de mineração e siderurgia.

    Em 2010, o grupo foi vendido por US$ 1,2 bilhão para uma estatal chinesa a fim de liquidar as dívidas dos sócios, calculadas em cerca de US$ 400 milhões à época.

    Paz ainda possui uma dívida de cerca de R$ 150 milhões com o governo de Minas Gerais e recentemente ofereceu obras do acervo do museu para quitar o valor.

    Sua proposta lista cerca de US$ 170 milhões em trabalhos de artistas como Adriana Varejão e Cildo Meireles –se convertida a reais, a oferta chega a R$ 550 milhões, mais que o triplo devido.

    Atualmente, as obras de arte são de propriedade de Paz, cedidas ao instituto a título de comodato. Em fevereiro, o empresário doou ao instituto todas as edificações e terrenos que formam a área de visitação do museu, com cerca de 140 hectares.

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