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    Portugal abre centro para preservação de acervos de arquitetos e documentos

    MARCOS GRINSPUM FERRAZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LISBOA

    29/11/2017 02h04

    Ivo Tavares Studio/Divulgação
    A nova sede da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, Portugal
    A nova sede da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, Portugal

    Quando se pensa em arquitetura, o que vem à mente são as obras construídas. Já os desenhos, estudos dos projetos, maquetes e outros documentos –que revelam os bastidores e os processos de trabalho– ficam em geral esquecidos, tendo importância apenas para os próprios arquitetos ou pesquisadores da área.

    A inauguração neste mês da nova sede da Casa da Arquitetura - Centro Português de Arquitetura, um espaço de 5.000 m² na cidade do Porto, inteiramente dedicado ao armazenamento, à conservação e à divulgação de acervos, é um importante passo na tentativa de alterar esse quadro.

    "Pouca gente conhece, de fato, o trabalho do arquiteto. Nosso grande objetivo é envolver um público amplo nessa discussão", diz o diretor da instituição, Nuno Sampaio.

    Fundada em 2007, a entidade sem fins lucrativos sai de uma pequena casa para um edifício do século 19 recém-reformado –ambos em Matosinhos (zona metropolitana do Porto), cidade natal de Álvaro Siza, principal arquiteto português vivo, e onde estão algumas célebres obras suas.

    O prédio reúne duas áreas expositivas, uma de mil m² e outra de 200 m², um espaço de restauração e conservação de acervo com mais de 1.700 m², biblioteca, auditório, loja e áreas de convivência.

    Para o crítico Guilherme Wisnik, a inauguração do espaço, que tem similares no Centro Canadense de Arquitetura (CCA) ou na Cité de L'Architeture, na França, "espelha o prestígio que a arquitetura tem hoje" em Portugal.

    Com dois arquitetos vencedores do Pritzker (principal prêmio da categoria), Siza e Eduardo Souto Moura, além de nomes de grande destaque como Fernando Távora (1923-2005), Gonçalo Byrne e Carrilho da Graça, o país é um dos que têm maior relevância na produção contemporânea.

    COLEÇÃO BRASILEIRA

    Mas não é apenas a arquitetura portuguesa que ganha foco na Casa. O objetivo é ser um centro internacional, com acervo de variados países. A instituição já possui um projeto de Paulo Mendes da Rocha e em breve aumentará a coleção brasileira.

    Após a mostra inaugural do espaço, sobre a relação entre arquitetura e poder, seguida de outra com obras de cem portugueses produzidas no último quarto do século 20, será aberta em agosto de 2018 a exposição "Coleção Arquitetura Brasileira".

    A mostra é parte de um projeto de formação de acervo, com curadoria de Wisnik e Fernando Serapião.

    O trabalho levará aos arquivos da casa cerca de 90 projetos de diferentes épocas e regiões do Brasil.

    O conjunto terá de documentos originais de obras clássicas de Gregori Warchavchik, Lucio Costa, Rino Levi, Lelé e Niemeyer a trabalhos contemporâneos de Marcelo Suzuki, SIAA, Carla Juaçaba e Mapa BR, entre outros.

    O arquivo todo da instituição será digitalizado e estará disponível online, o que Wisnik vê como importante passo no campo da pesquisa.

    "A questão do acervo em arquitetura é uma coisa ainda pouco clara. Muitas vezes fica sob a guarda das famílias, o que é um problema, ou das bibliotecas universitárias que acabam não tendo a estrutura ideal, por mais que permitam o acesso público."

    E arremata: "Recebemos a abertura da Casa da Arquitetura com a esperança de que seja um tipo de espaço institucional cada vez mais comum no mundo. E no Brasil, claro, onde não existe nada parecido".

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