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    Crítica

    Clássico policial de Agatha Christie ficaria melhor como minissérie

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    30/11/2017 01h00

    ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE (bom)
    (MURDER ON THE ORIENT EXPRESS)
    DIREÇÃO Kenneth Branagh
    ELENCO Kenneth Branagh, Michelle Pfeiffer, Johnny Depp e Judi Dench
    PRODUÇÃO EUA, 2017, 12 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (30)
    Veja salas e horários de exibição

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    Um dos mais esquemáticos romances de mistério da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976), "Assassinato no Expresso do Oriente" parece um jogo. Em um trem parado no meio de uma nevasca, um homem é morto e praticamente todos a bordo são suspeitos.

    Fazer um filme a partir dele é basicamente criar uma embalagem atraente para expor as pistas e deixar o espectador exercitar sua veia detetivesca.

    O filme dirigido por Kenneth Branagh é belíssimo, embora exagerado no uso de computadores para criar a Istambul de 1934 (de onde parte o trem) e as paisagens geladas das montanhas croatas, onde uma avalanche interrompe a viagem. Dentro dos vagões há um desfile luxuoso de acomodações e comida requintada à disposição de atores famosos e atraentes.

    O problema é justamente como administrar tantos personagens em apenas duas horas de sessão. Essa adaptação enfrenta o mesmo problema da versão cinematográfica de 1974: ao lidar com essa lista de suspeitos, tem pressa de perfilar cada um e todos ficam superficiais, sem conteúdo. Aí, nessa urgência, estrelas charmosas não têm como mostrar muita coisa além de seu charme.

    Há espaço apenas para o próprio Branagh, que constrói em detalhes minuciosos a personalidade irritante do detetive belga Hercule Poirot, herói de boa parte dos romances da escritora, e Johnny Depp, asqueroso no papel de Edward Ratchett, falsificador de obras de arte que é a vítima do assassinato.

    Poirot, que tomou o trem de última hora, tenta descobrir quem deu inúmeras facadas em Ratchett e passa a interrogar os passageiros. Os intérpretes são de gerações diversas, incluindo Judi Dench, Michelle Pfeiffer, Willem Dafoe, Penélope Cruz e Daisy Ridley (a Rey da última trilogia "Star Wars").

    A produção repete assim o mesmo recurso do fime de 1974, que tinha Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Jacqueline Bisset e Albert Finney, este numa versão bem mais sisuda de Poirot do que a de Branagh.

    Assassinato no Expresso Oriente
    Agatha Christie
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    Quem viu o filme antigo ou leu o livro já sabe como a trama vai terminar. E o trecho final ficará muito enfadonho para essa parte da plateia.

    Assim como os interrogatórios de Poirot, suas considerações que expõem o caminho até a solução do mistério são rasas, numa narrativa apressada que pode até deixar algum espectador sem entender direito os eventos que precederam a viagem.

    "Assassinato no Expresso do Oriente" renderia mais como minissérie, com tempo suficiente para envolver o público. Espremido, é apenas um quebra-cabeças mediano em embalagem de luxo.

    Assista ao trailer do filme 'Assassinato no Expresso do Oriente'

    Assista ao trailer do filme 'Assassinato no Expresso do Oriente'

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