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    Crítica

    Candidato da Noruega ao Oscar faz retrato de jovem sobrenatural

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/11/2017 16h25

    THELMA (bom)
    DIREÇÃO Joachim Trier
    ELENCO Eili Harboe, Ellen Dorrit Petersen e Henrik Rafaelsen
    PRODUÇÃO Noruega/França/Dinamarca/Suécia, 2017, 16 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (30)
    Veja salas e horários de exibição

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    Os fenômenos paranormais parecem ter saído de moda do cinema, com exceção dos filmes de terror, gênero fantástico por excelência. Antes de se perder no limbo, os personagens sensitivos forneciam enigmas e soluções também a policiais, dramas e suspenses psicológicos. Por isso, "Thelma" é um filme anômalo em mais de um sentido.

    O dinamarquês Joachim Trier, em seu quarto longa, reafirma as qualidades de estilo que firmaram seu nome desde os primeiros trabalhos. A primeira sequência de "Thelma", por exemplo, combina a inquietação emocional com um domínio admirável do espaço, implantando o mistério de imediato.

    Sem dar explicações e explorando o poder das elipses, Trier nos aproxima da desordem mental de uma jovem capaz de mover pessoas e provocar fenômenos sobrenaturais.

    As convulsões e alucinações que ela sofre podem ter origem na ordem familiar repressiva por motivos religiosos ou provir de um distúrbio psíquico escondido no passado. A irrupção do desejo homossexual nesse contexto impõe outra camada torturante à vida mental de Thelma.

    Uma das características fortes desse tipo de história é a indeterminação entre experiências objetivas e subjetivas, a superposição destas instâncias nas cenas em que o fantástico irrompe no cotidiano e interrompe a normalidade.

    A vantagem aqui está na multiplicação de hipóteses. A investigação clínica aponta algumas razões que podem aliviar o sofrimento da protagonista. Enquanto isso, o processo de autodescoberta dela introduz uma série de traumas de infância e familiares.

    O sentimento religioso, por sua vez, é representado na forma do temor e da onipresença de algo superior que vigia, controla e pune. Nesse caso, a figura paterna atua como instância repressora, mas incapaz de dominar as capacidades da filha.

    O peso dessa relação espiritual atualiza um aspecto comum nas cinematografias nórdicas, desde o sentido do sagrado do dinamarquês Carl Dreyer aos medos confessos e inconfessos da alma em boa parte da obra de Bergman.

    Trier renova essa característica conjugando o psicológico com os elementos sobrenaturais que se manifestam na própria natureza, como revoadas de pássaros, aparições de serpentes e cenas em que extraem impacto visual a partir de elementos como água, gelo e fogo.

    Esse conjunto de temas é tão forte que exige um tratamento capaz de ultrapassar o anedótico. Para não transformar o filme num óbvio jogo de enigmas solucionado com uma viradinha final, Trier adota um registro mais distanciado, reiterado na frieza dos tons da fotografia e na atuação em modo autômato de Eili Harboe. O resultado é, de propósito, gélido.

    Assista ao trailer de 'Thelma'

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