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    Peça sobre desaparecimento reabre porão do Centro Cultural São Paulo

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    01/12/2017 02h00

    As paredes frias e tortuosas do porão do Centro Cultural São Paulo de certo modo refletem a devassidão dos personagens de "Pequenas Certezas", espetáculo que reabre o espaço nesta sexta (1º), para convidados, e no sábado (2), para o público.

    Primeira versão brasileira do texto da mexicana Bárbara Colio, a montagem foi concebida para o local e aproveita os vazios e as estruturas do porão. "O espaço tem muitos traços da dramaturgia", diz a diretora Fernanda D'Umbra.

    Colunas, nichos e paredes cavernosas abrigam um suspense pincelado de humor negro que se passa em torno do desparecimento de Mario.

    Para entender o ocorrido, Natalia (Mariana Leme), mulher com quem ele mantinha um relacionamento, viaja da capital mexicana a Tihuana acompanhada da mãe (Chris Couto). Ali conhece os irmãos dele, João (Ivo Müller) e Sofia (Rita Batata), e descobre que, antes do sumiço, Mario fraudara documentos de herança.

    O vazio deixado por ele e os mistérios do seu desaparecimento são permeados por referências à morte, em especial a um conceito, bastante atrelado à cultura mexicana, de humor e de veneração dos que se foram –a mãe de Natalia tem um estranho hábito de sepultar desconhecidos.

    Há também uma discussão sobre o desapego e sobre como a morte pode servir de vínculo entre pessoas desamparadas, comenta D'Umbra.

    "Essa ideia de como a gente deixa algo que não existe mais definir as nossas vidas. Eu brinco que esse espetáculo é uma ode à liberdade e à coragem, porque é preciso coragem para você se libertar do outro ou de uma ideia."

    Colio, que hoje comanda na Cidade do México a companhia BarCoDrama, ainda costura seu texto com sensações um tanto comuns às cidades latino-americanas, como o medo da violência.

    D'Umbra tem um histórico com o porão do CCSP. Em 2000, produziu ali uma mostra de 11 peças do Cemitério de Automóveis, grupo então capitaneado por ela e por Mário Bortolotto. Em "Pequenas Certezas", a diretora traz poucos elementos ao cenário e volta a aproveitar os espaços vazios (reflexos da devassidão das personagens).

    Busca ressonâncias da dramaturgia também na iluminação de Aline Santini, que cria transições entre claros e escuros, revelando e escondendo as cenas, assim como o mistério de Mario.

    *

    PEQUENAS CERTEZAS
    QUANDO qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; de 2 a 17/12 e de 4 a 28/1
    ONDE Centro Cultural São Paulo - espaço Ademar Guerra, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002
    QUANTO R$ 20 (4/1: R$ 3)
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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