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    crítica

    Novo álbum do U2 é idêntico a tudo que banda lançou desde 2000

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    01/12/2017 00h01

    SONGS OF EXPERIENCE (regular)
    ARTISTA U2
    GRAVADORA Universal
    QUANTO R$ 35 (CD com 13 faixas); R$ 50 (deluxe com mais 4 faixas)

    *

    Além dos quatro músicos de sempre (Bono, The Edge, Larry Mullen e Adam Clayton), passaram pelo estúdio cinco produtores diferentes: Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Jolyon Thomas e Andy Barlow. E não é que, com tanta gente para dar pitacos, o U2 lança nesta sexta-feira (1º) um álbum em que todas as faixas parecem a mesma?

    "Songs of Experience" é monocórdico. Nas letras, no timbre da guitarra, nos vocais dobrados no refrão, na levada meio frouxa de rock que oscila entre balada e clima etéreo. São tênues variações sobre o mesmo formato.

    Concebido para ser uma segunda parte do álbum anterior, "Songs of Innocence", de 2014, deveria ter saído no ano seguinte. Mas a banda fez reformulações no projeto, adiando o lançamento. Além de uma recepção fria da crítica, aquele disco ficou marcado pela jogada promocional que incluiu músicas automaticamente em contas do iTunes.

    Houve reprovação de parte do público, que não admitiu uma bandeira de integridade roqueira como o U2 em um lance tão "comercial". Isso talvez tenha feito muita gente execrar o álbum mesmo sem dar a ele a devida consideração. O novo trabalho chega com menos alarde e deve ser ouvido com mais boa vontade.

    Claro que quatro décadas como protagonista da classe dominante do rock mundial permitem que o grupo irlandês preserve recursos interessantes.

    Em "Songs of Experience", o quarteto mostra que ainda sabe fazer canções "atmosféricas", em que a instrumentalização começa pífia e aos poucos a música vai tomando corpo. Mas faz isso repetidas vezes nesse seu 14º álbum de estúdio, sem inspiração.

    A única faixa com algum potencial para reivindicar presença em futuras coletâneas "best of" é justamente aquela em que a banda foge do formato de balada meio disfarçada de música ambiente.

    Sozinha, "The Showman (Little More Better)" poderia ser um single que apontasse o U2 de volta ao ofício de criar hinos roqueiros. É irresistível, festiva, com uma pegada de trilha sonora para luau.

    Mas a faixa está nesse disco que soa carrancudo nas letras, apesar de várias falarem de amor. As questões são menos políticas, mais íntimas. Há um ranço hippie nos versos, promessas de um mundo melhor que não se concretizaram, um acerto de contas com o passado e a defesa de que sem o amor nada vale a pena.

    O tom do texto é um tanto entristecido, mesmo em canções que flertam com pop rock um pouco mais contundente, como "Get Out of Your Own Way" e "American Soul", faixas que se conectam na participação (tímida) de um dos nomes mais instigantes do hip hop recente, Kendrick Lamar.

    O resultado do disco é idêntico ao que a banda apresentou nos outros quatro álbuns que lançou desde 2000. Um punhado de canções corretas, algumas mais inspiradas, outras não, e até com um hit eficiente aparecendo aqui ou ali. Mas é pouco para a expectativa que uma banda desse tamanho provoca.

    Muito pouco para quem ajudou a forjar a cara do rock mundial do século 20 com "War", "The Unforgettable Fire" ou "Achtung Baby". O U2 começa a cansar.

    Ouça no spotify

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