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    Séries e novela das nove exploram sexo sob ângulos diferentes

    GUSTAVO FIORATTI
    DE SÃO PAULO

    03/12/2017 02h00

    Reprodução
    Cena de episódio da segunda temporada da série 'Me Chama de Bruna', exibida pelo canal Fox Premium 1
    Cena de episódio da segunda temporada de 'Me Chama de Bruna', exibida pelo canal Fox Premium 1

    Duas séries brasileiras exibidas por canais pagos não se intimidaram com a onda de protestos e medidas judiciais que, neste semestre, ameaçou banir exposições, performances e peças de teatro ligadas ao sexo ou ao nu.

    Especialmente pelo contexto de gritas e liminares, as cenas de sexo (inclusive coletivo) de "A Vida Secreta dos Casais" (HBO) e de "Me Chama de Bruna" (Fox) parecem mais vigorosas do que nunca.

    A novela "O Outro Lado do Paraíso", da TV Globo, também demarca discussões inéditas para a faixa das 21h, com foco em questões mais difíceis de digerir: após repercutir com a cena em que um homem estuprava sua mulher, considera trazer para a pauta a pedofilia.

    Se o tema for aprovado, será tratado "de maneira a alertar mães e pais sobre riscos que os filhos correm, inclusive para indicar os sinais que evidenciam quando foram molestados", diz Walcyr Carrasco, autor da trama.

    "Fiz workshops de aprofundamento emocional e fiquei espantado com o número de pessoas molestadas na infância", comenta.

    SEXO TÂNTRICO

    Com roteiro de Bruna Lombardi e seu filho Kim Riccelli e com direção de Carlos Alberto Riccelli, "A Vida Secreta dos Casais" vai à iminência do explícito, em uma trama de intrigas políticas e conflitos matrimoniais.

    Mãos e bocas vagueiam pelas imagens da abertura, ao som de sussurros. A protagonista, uma sexóloga chamada Sofia (Lombardi) quando não está fazendo perguntas do tipo "o que seu coração quer?" a seus pacientes, avisa que nossos segredos, na maioria, "são relacionados ao sexo".

    O trailer contém um alerta: "segredos são perigosos, às vezes você vira escravo deles".

    A série não evita cenas de atos homossexuais, como aquela em que uma mulher casada chega em casa e vê, na jacuzzi, um homem de olhos fechados e expressão de gozo.

    Ele não está só. O marido emerge e fica explícito que praticava algo que exigiu apneia. Ela só diz: "Manda ele embora, toma um banho, em dez minutos a gente se fala".

    O discurso de Sofia, em consonância com o que Lombardi e suas investidas como palestrante defendem, traz reservas ao sexo "rápido".

    "Nossa busca é resgatar um conhecimento que vem da antiguidade, descobrir o melhor do sexo e sua relação com o sagrado", diz a personagem.

    Lombardi conta que criou como cenário o Instituto Tantra, onde suas ideias sobre sexo ganham volume, "sentindo a música que tocava, a luz das velas perfumadas". Era "a fantasia de um ambiente que levasse a gente para outro patamar", prossegue.

    "É como acho que o sexo está sendo abordado na série, um sexo que busca uma expansão, um outro canal de sensorialidade. Estamos falando de descobertas, em contraponto à coisa consumista e sem encanto."

    Talvez seja o caso de outra Bruna em cartaz, a Surfistinha, personagem vivida por Maria Bopp e que topa tudo, incluindo sexo anal (algo que ela pede efusivamente em uma de suas cenas) e fetiches indumentários.

    Se uma Bruna tem como cenário o Instituto Tantra, a outra trabalha no Paradise, casa de prostituição de luxo.

    SEM ECONOMIA

    O mobiliário de aparência luxuosa tem como uma das inspirações o filme "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick. E, como no longa, as cenas não são econômicas.

    "Esse personagem não é fácil por uma questão óbvia, que é o sexo e a exposição do corpo", diz Bopp.

    "Acho que, na primeira temporada, conquistei isso, considero um território já conquistado. Eu me sinto à vontade em cenas de sexo e de nudez, agora".

    Na segunda temporada, diz a atriz, sua personagem tem "carga dramática imensa". "Fiz cenas dificílimas que não têm a ver com sexo".

    Para Zico Góes, vice-presidente de desenvolvimento de conteúdo da Fox no Brasil, "não há limites [de conteúdo sexual], mas a série "não é de sexo explícito" e "vai no limite de sua história".

    "Se aparece pênis? A gente não se preocupa muito com isso. Naturalmente existe uma... elegância", explica.

    Nas duas séries, assim como em "O Outro Lado do Paraíso", as histórias buscam refletir comportamentos da atualidade.

    Maria Bopp conta que foi ao Café Photo, em São Paulo, e conversou longamente com uma estudante de direito em faculdade particular. "Ela escolhia os clientes."

    Walcyr Carrasco diz que frequenta chats, sem revelar sua identidade, para se informar. "Estamos passando por mudanças enormes, mas contraditórias. Há uma volta a um tradicionalismo, inclusive com a defesa da virgindade masculina e feminina até o casamento", afirma.

    "Mas também há uma liberação". O autor diz "ter notícias" de que, para jovens "recém-saídos da adolescência", até a classificação entre hétero e homossexual caiu.

    A Vida Secreta dos Casais
    Quando na HBO aos dom., às 22h, ou no HBO GO

    Me Chama de Bruna
    Quando na Fox Premium 1, aos dom., às 22h45, ou no Fox Play

    O Outro Lado do Paraíso
    Quando na Globo, na faixa das 21h

    Edição impressa

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