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    Homossexual não assumido se reconhece em foto de exposição

    DEPOIMENTO A CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    05/12/2017 02h00

    Chico Felitti/Folhapress
    Foto exposta na mostra sobre sexualidade do Masp em que homem, gay não assumido, se reconheceu
    Foto exposta na mostra sobre sexualidade do Masp em que homem, gay não assumido, se reconheceu

    RESUMO João (nome fictício), um relações públicas de 28 anos, descobriu há duas semanas que era peça de museu. Ao entrar na mostra "Histórias da Sexualidade", no Masp, deu de cara com uma reprodução de si mesmo quase em tamanho natural, pendurada na parede. Na foto do alemão Wolfgang Tillmans, ele está de costas no elevado João Goulart, mais conhecido como Minhocão, abraçado com o então namorado, com quem retomou contato graças à obra. O modelo acidental não assume sua orientação sexualidade para a família.

    *

    Fui visitar o Masp numa terça (14/11) porque nesse dia da semana a entrada é gratuita e estou desempregado há mais de um ano. A fotografia de Wolfgang Tillmans foi a primeira obra que vi da mostra "Histórias da Sexualidade".

    Na hora, eu pensei: "Nossa, que clichê, a foto de um casal de homens andando abraçado no Minhocão". Daí olhei por mais um segundo e me toquei: "Espera, eu reconheço esse tênis e essa camiseta. Eles são meus".

    Comecei a procurar outros sinais que confirmassem que era eu na foto: uma pinta, uma cicatriz. Era eu na foto, feita sem que eu soubesse.

    Tentava sair dali, ver as outras obras da exposição, mas acabava voltando para a foto. Não conseguia prestar atenção em mais nada. Para falar a verdade, não consigo lembrar de nenhum outro trabalho da exposição.

    Meu pai, minha mãe, meus tios e meus avós não sabem que eu sou gay. Não levo namorada mas também não levo namorado para os encontros de família.

    Na minha família é um esquema "don't ask don't tell" ["Não pergunte, não diga", apelido da lei que até 2010 proibia que homossexuais declarados fizessem parte das Forças Armadas dos EUA].

    Não conto para a minha família porque eu acho que eles não querem saber. Não é um problema meu com a minha sexualidade, é um problema deles com algo que não querem ver. E acho que a relação funciona muito bem assim.

    Meus amigos sabem. As pessoas com quem trabalhei sabem. Não me preocupa que me reconheçam. Até porque acho que a minha avó não vai visitar essa mostra do Masp.

    Tirei uma foto da foto em que apareço e mandei para o meu ex, que aparece abraçado comigo. Acabamos almoçando juntos no mesmo dia, ali perto da avenida Paulista. Demos risada da história.

    Mas não vejo problema em não ter visto a foto ser feita. Nunca passou pela minha cabeça processar ou pedir que tirem. Só estou pensando em pedir uma cópia da foto para o artista. Talvez eu mereça, né?

    *

    HISTÓRIAS DA SEXUALIDADE
    QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h (qui. até as 20h); até 14/2
    ONDE Masp, av. Paulista, 1.578, tel. (11) 3149-5959
    QUANTO R$ 30 (ter. grátis); 18 anos (classificação indicativa)

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