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O diretor Luiz Fernando Carvalho no galpão da Vila Leopoldina |
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Ilustrada
Saturday, 27-Apr-2024 10:10:25 -03Luiz Fernando Carvalho abre galpão para ensaiar filmes em São Paulo
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO06/12/2017 02h20
Circulando descalço e com os cabelos descoloridos pelo amplo tablado, o diretor Luiz Fernando Carvalho remove um pôster e exibe o "flutuograma" que ele mesmo riscou com giz na parede: "planeta flutuante = idílio amoroso <–> imaginação amorosa".
Ele indaga à reportagem: "Será que a força da gravidade não muda quando estamos apaixonados e aí por isso nos sentimos flutuando?".
Seja qual for a resposta, o cineasta tem como seu novo centro gravitacional um galpão de 40 m x 28 m na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, onde ele prepara dois novos filmes.
Prepara, não; pesquisa.
"Isso aqui é um galpão de processo criativo, de escavação. Não tem nada a ver com a pré-produção em si", diz Carvalho. Nos fundos, um pianista dedilha "Hallellujah", canção de Leonard Cohen.
Carvalho usa o espaço para "escavar" dois longas: "A Paixão Segundo G.H.", inspirado em romance homônimo de Clarice Lispector, e "Objetos Perdidos", que tem por base roteiro original seu, escrito com João Paulo Cuenca.
O diretor conduz leituras dramáticas, propõe exercícios de corpo e voz a seus atores, às vezes sugere danças e usa a lousa para explicar alguma coisa no local, outrora ocioso e cedido pela Academia de Filmes, que produzirá os longas originados dali.
As duas obras devem começar a ser rodadas a partir de março. Os elencos ainda não estão definidos, mas alguns atores já foram convidados para ensaiar no lugar.
A atriz Maria Fernanda Cândido dará vida a G.H. no filme inspirado na obra de Clarice, sobre uma mulher que faz um mergulho existencial após matar uma barata no quarto da empregada.
O longa tem ramificações com "Objetos Perdidos": nesse, a personagem feminina (Marcela Vivan Russo) é "clariciana", segundo o diretor, e deseja adaptar "A Paixão Segundo G.H.", o que fará os dois filmes dialogarem.
Em comum, o fato de girarem em torno do afeto, da "sensação de flutuação" -daí o "flutuograma", que, ele espera, deve ajudar a definir a velocidade da câmera.O diretor conta que acalenta criar espaços de ensaios desde que rodou o premiado "Lavoura Arcaica" (2001).
Na época, isolou-se com o elenco numa fazenda em Minas e fez os atores aprenderem a semear e a ordenhar vacas. "Não queria que eles imitassem o mundo, mas que inventassem o mundo", diz.
No galpão, Carvalho escreveu no alto os nomes de seus novos projetos, encheu o lugar de livros (há, por exemplo, um sobre o pintor Goya, outro sobre o cineasta Tarkóvski), entremeados por um crânio, e pôs nas paredes textos com sua assinatura.
Num deles, diz: "O preto é a luminosidade além da luz. A todos nós, as dádivas, os mistérios e a elegância do preto. Com toda a luz. LFC".
Em fevereiro, a Rede Globo deixou de renovar o contrato de LFC após 30 anos de trabalho, que resultaram em obras com marca visual bem forte, como as novelas "Renascer" e "O Rei do Gado" e a minissérie "Os Maias".
"Eu jamais poderia fazer esses filmes na televisão. Meu tempo na TV aberta acabou."O galpão paulistano também tem prazo. "Ele está na nuvem. Se meu próximo projeto for nos pampas, ele desce da nuvem e eu o abro lá. O galpão está dentro de mim."
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