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    Crítica

    MasterChef é mix de BBB, show de calouros e sobrevivência na selva

    VINICIUS TORRES FREIRE
    COLUNISTA DA FOLHA

    06/12/2017 01h00

    Reprodução
    Francisco e Pablo, finalistas do 'Masterchef Profissionais
    Francisco e Pablo, finalistas do 'Masterchef Profissionais'

    Se o objetivo é deixar todo mundo nervoso, eles conseguem. Não tem muita cozinha ou alegria de comer nesse MasterChef. Lembra mais uma mistura de BBB, programas de sobrevivência na selva e show de calouros e prêmios do Sílvio Santos. Tudo temperado pelo constrangimento tenso de ver gente espinafrada em público pela atividade em tese inocente de fazer um prato de comida.

    Para quem nunca viu o programa e cozinha alguma coisa, fica uma vontade forte de dar uma panelada naquela gente toda que inferniza o cozinheiro.

    O pobre do sujeito se debate em suor e agonia para fazer "n" pratos enrolados em 14,7 segundos e o pessoal vem bater papinho mole. "Explique o que você está fazendo" (tentando cozinhar, seu mala). Ou vem amolar e botar pilha, "faltam só três nanossegundos, gente, corre", diz a apresentadora de longo rosa e decote cavadão, com um jeito de personal trainer "simpática, mas dura", Ana Padrão.

    Jamais façam isso com alguém que prepara amorosa mas furiosamente um jantar complexo para vocês. Deixem o cozinheiro cozinhar.

    Claro, é apenas um programa de auditório. Tem torcida, votação, palpite de rede social, entrevista com os candidatos nervosos e aqueles pacotes de emoção de TV com sabor artificial de baunilha.

    Vem a família. Um rapaz manda alôs para o "paizão". Uma criancinha corre para dar um abraço no papi que está para entrar no Coliseu das panelas e das reduções. Eles gostam de uma redução, pelo jeito.

    Os cozinheiros se tratam com fair play. Ouvem discursos motivacionais no início e no fim do show, espuma de RH com suflê de demagogia.

    Não se trata bem de cozinha, ali. Mal se vê ou se entende o que eles cozinham. As microentrevistas não fazem muito sentido, curtas e crípticas. Tem uns merchants meio ridículos.

    Falta a alegria de gente comendo no final, uma mesa feliz. Há apenas jurados julgando, meio patrões, todos chefes de cozinhas de boa comida (além de Jacquin, Paola Carosella e Henrique Fogaça). Há ingredientes de dar inveja, que nem um milésimo do público terá o prazer de comer. Morilles, por exemplo, um cogumelo caro.

    Engraçado, há legendas para o português que fala o chef francês Erick Jacquin. Mas os caracteres no vídeo dizem que um foie gras foi "souté" ("sauté"? Salteado). Lembram aqueles cardápios simpaticamente cômicos com nomes estropiados de receitas estrangeiras (peixe à "bela maneira", "tornedor" etc.).

    Pelo menos não se pede que o cozinheiro faça em cinco minutos uma comida com "ingredientes malucos, tipo goiaba mais café", como o cozinheiro e empresário de restaurantes Jun Sakamoto ironizou uma vez esse tipo de competição.

    Típico, o povo torcia pelo cozinheiro mais pobrinho, Pablo Oazen, enfim vitorioso, que vende sanduíches e tem um gastrobar (?) em Juiz de Fora. O outro, Francisco Pinheiro, já dirigiu cozinha grande e até estrelada. Os dois parecem excelentes cozinheiros e merecem simpatia, gente que está ali apenas na batalha para melhorar de vida.

    Este jornalista torceu apenas para que ninguém passasse muita vergonha.

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