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    CRÍTICA

    Satanique mantém estilo irônico em novo álbum, 'Xenossamba'

    BERNARDO OLIVEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/12/2017 02h05

    Celio Maciel/Divulgação
    Satanique Samba Trio em show
    Satanique Samba Trio em show

    XENOSSAMBA (muito bom)
    QUANDO quinta (14), às 20h
    ONDE Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3397-4002)
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO livre

    *

    Lançado no raro (e estranho) formato vinil duplo de sete polegadas, "Xenossamba" mantém intacto o esforço do quinteto Satanique Samba Trio em manter o seu ouvinte em uma posição incômoda.

    Desde o nome do grupo brasiliense, que nada tem a ver com um trio, até os títulos das composições, dos álbuns e imagens das capas, tudo transpira um sarcasmo milimetricamente calculado para provocar um misto de mal estar e curiosidade.

    Interferências alienígenas em se tratando de música instrumental brasileira –como ruídos, efeitos, gritos– são introduzidas com a intenção de trazer todos os elementos que ao longo das décadas foram expurgados de sua estrutura.

    Deste modo, a iconoclastia é a senha para adentrar no estranho mundo do quinteto, formado por Munha da 7 (baixo), Jota Dale (cavaco), Lupa Marques (bateria), Gustavo "Don Chavez" Elias (violão) e Lucas "Sombrio" Muniz (clarone).

    Oitavo trabalho do grupo, "Xenossamba" propõe um estudo da bossa muzak ou "bossa-nova de elevador", onipresente nas salas de espera dos consultórios médicos. Das oito faixas, quatro delas trazem a habitual desconstrução de paradigmas do grupo; as outras quatro são releituras orientadas por uma estética da sala de espera.

    Ao fim e ao cabo, constituem-se como composições autônomas, impregnadas de ironia e virtuosismo: como o frevo-samba-choro intermitente em "Vendo Vultos" e seu doppelganger praiano "Xenomorphus #2"; ou a bossa nova texturizada por células rítimicas do baião e do jazz em "Glisserrata", transformada em "Xenomorphus #3".

    Sobre "Samba de Todas as Notas", uma observação: surge de uma decepção, quando o compositor Munha da 7, ainda criança, descobriu que o clássico de Jobim continha mais notas do que a anunciada no título"¦

    "Xenossamba" reproduz a figura da anomalia através de uma viagem por dentro do corpo moribundo que pretende expor e ressuscitar.

    Se os discos anteriores caracterizavam-se por uma certa má vontade para com os rigorosos ditames rítmicos do samba e do baião, desta vez, é se valendo das quebradas e engenhos típicos desta linguagem misteriosa que a iconoclastia do grupo se mantém intacta.

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