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    Inhotim está descolado dos negócios do empresário, afirma novo gestor

    RUBENS VALENTE
    ENVIADO A BELO HORIZONTE

    13/12/2017 02h05

    Novo presidente do conselho de administração do Instituto Inhotim, o economista Ricardo Gazel, 58, assumiu o cargo antes ocupado pelo empresário Bernardo de Mello Paz com a tarefa de acalmar parceiros do museu e apostar na continuidade dos projetos.

    Em entrevista à Folha no escritório do instituto em Belo Horizonte, ele diz que os negócios do museu são auditados e separados dos de Paz. Em 2016, o orçamento de Inhotim foi de R$ 32 milhões.

    Gazel fez mestrado e doutorado nos EUA, onde foi professor e economista no Fed, o Banco Central dos EUA, e no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Washington. Trabalhou por quatro anos como economista do Banco Mundial.

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    Folha - Que estratégia Inhotim adotou para fazer frente à acusação contra Bernardo Paz?

    Ricardo Gazel - O instituto vai continuar como sempre esteve, totalmente separado dos negócios do Bernardo.

    Tem uma estrutura toda de controle interno. Vai continuar e aperfeiçoar cada vez mais as questões ligadas, por exemplo, à auditoria. Somos auditados pela Ernst & Young e nunca houve objeção. [...] O Bernardo começou esse processo, desde a criação da Oscip em 2008 e a criação dos mecanismos de controle. Depois o Bernardo doou suas terras e as edificações para a Oscip. Isso faz com que tudo continue numa separação cada vez maior.

    Empresas parceiras de Inhotim, como a Vivo, têm setores de compliance. Em virtude da condenação, alguma empresa ameaça rescindir a ligação?

    Até o momento, não. Mas exatamente nesse período do ano ocorre o processo em que Inhotim renova suas parcerias. Como em todos os anos, há um diálogo e sempre estivemos muito abertos e vamos continuar a prover os parceiros de todas as seguranças que eles precisam.

    Por que Paz se afastou da presidência do conselho?

    Foi uma decisão dele. Uma das razões foi evitar interpretações dúbias que surgiram. Por exemplo, a de que o Inhotim esteja envolvido em qualquer acusação. Não está. Com as empresas do Bernardo são coisas totalmente separadas. Ele é um empresário, tem suas empresas, e Inhotim é uma Oscip.

    Mas uma das empresas investigadas é a Horizontes, que financia o museu Inhotim.

    Sim. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A Oscip recebe recursos de várias empresas, inclusive de empresas de Bernardo, sim, mas são coisas separadas. Esse dinheiro é contabilizado, são prestadas contas, ele é auditado.

    A Horizontes compra obras de arte para Inhotim ou faz algum negócio em nome de Inhotim?

    Não. A Horizontes e o Bernardo adquiriram um acervo, durante muitos anos, e o acervo continua dele. Recentemente [setembro de 2016] o Bernardo doou as terras onde está Inhotim, que são 140 hectares, e as edificações. O acervo é dele e das empresas dele.

    O que a Oscip faz? Ela é dona do terreno e das edificações, e não do acervo que está dentro das edificações. A Oscip opera o jardim botânico e o museu. [...] A Horizontes não é mantenedora do Inhotim, ela é doadora para manutenção do instituto, como várias outras empresas. Não é barato, obviamente, manter um projeto como Inhotim.

    Na denúncia, o Ministério Público Federal diz que o "caixa dois" das empresas de Bernardo foi usado para compra de obras de arte para Inhotim.

    Inhotim nunca adquiriu obra de arte. As obras que estão expostas pertencem a Bernardo Paz e são dadas em comodato. Eu não sei como ocorreu o processo de aquisição dele. O que sei é que o Bernardo adquiriu todas essas obras com seus recursos, que vieram das atividades de mineração. Poucas obras foram cedidas em comodato pelos próprios artistas.

    Qual é o seu prognóstico para o Instituto Inhotim?

    É continuar, em um processo de perenizar. Inhotim é um ativo cultural tão grande para o Brasil, para Minas. [...] Tem provado ao longo do tempo que tem amadurecido seus processos de gestão e de governança. Hoje é uma instituição muito sólida.

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