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    CRÍTICA

    Documentário revela arquitetura afetiva de Paulo Mendes da Rocha

    LÚCIA MONTEIRO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    15/12/2017 02h05

    Danilo Verpa/Folhapress
    PARATY, RJ - 31.07.2014 - 19H30 - MESA 4 - PARATY, VENEZA NO ATLANTICO SUL - Mesa com Francesco Dal Co e Paulo Mendes da Rocha, com mediacao de Guilherme Wisnik. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, ILUSTRADA)
    O arquiteto Paulo Mendes da Rocha

    TUDO É PROJETO (muito bom)
    DIREÇÃO Joana Mendes da Rocha e Patricia Rubano
    PRODUÇÃO Brasil, 2016; livre
    QUANDO estreia nesta quinta (15)
    Veja salas e horários de exibição

    *

    "Precisa ver se você vai ficar o tempo todo falando pai, pai...". Essa é uma das primeiras frases de Paulo Mendes da Rocha no documentário "Tudo é Projeto".

    Realizado por sua filha Joana Mendes da Rocha em parceria com Patricia Rubano, o filme retraça, de um ponto de vista privilegiado, o percurso do arquiteto, vencedor do prêmio Pritzker (2006) e do Leão de Ouro da Bienal de Veneza (2016).

    Casa Butantã
    Paulo Mendes da Rocha, Catherine Otondo
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    Comprar

    As principais realizações do protagonista estruturam o filme, da Casa Butantã, construída na década de 1960 para ser moradia da família, ao Sesc 24 de Maio, inaugurado neste ano, passando por obras públicas como a reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo e a readequação da Praça do Patriarca.

    Os enquadramentos propostos pelo diretor de fotografia Pablo Hoffmann talvez bastassem para o deleite dos espectadores, tendo em vista a potência cênica dos projetos, a começar pelo Museu do Cais das Artes, em construção em Vitória, cidade natal do arquiteto.

    Mas as realizadoras nos oferecem mais do que isso: não só valorizam o carisma e a inteligência do arquiteto, como também revelam elementos seus pouco conhecidos pelo público.

    É perspicaz o "parti-pris" de montagem, preservando momentos de interação entre filme e filmado. Não raro, o último tenta assumir o comando das gravações, indicando o melhor ângulo para ver suas obras ou questionando a maneira como as entrevistas são conduzidas.

    Quando a diretora pede-lhe que fale sobre "sua arquitetura", ele responde: "não há arquitetura minha ou sua. (...) A arquitetura é a satisfação de desejos humanos, desejos muitas vezes urgentes".

    Enquanto estampam a tela desenhos do arquiteto raramente vistos –não esboços de projetos, mas rostos e corpos, em surpreendentes composições de inspiração cubista–, ouvimos, em off, o autor argumentar que não faz sentido filmá-los.

    Algo, nessas cenas de negociação, lembra o brilhante "Os Dias com Ele" (2014), de Maria Clara Escobar, ainda que a distância entre filha-cineasta e pai-personagem não seja a mesma nos dois filmes, e tampouco o impacto da ditadura militar nas trajetórias rememoradas.

    Há afetividade e reverência na maneira como Joana filma o pai, que em 2018 completa 90 anos.

    Ora enfrenta-o com graça, ora cede a seus imperativos. Liberto do elo filial, o documentário talvez ganhasse em criatividade, por exemplo na linha do que produções recentes vêm fazendo ao apontar falhas da arquitetura modernista (como as da dupla ítalo-francesa Ila Beka e Louise Lemoine, da série "Living Architectures").

    Mas haveria algo melhor do que ver a obra de Paulo Mendes da Rocha narrada pelo próprio? O arquiteto, que equilibra a vaidade por suas realizações com lances de uma modéstia quase cômica, não tem certeza da resposta.

    "Alguém tinha de contar essa história", afirma a filha a certa altura do filme. "Não, por quê? Podia não contar nunca...", responde o pai.

    Assista ao trailer de 'Tudo é Projeto'

    Assista ao trailer de 'Tudo é Projeto'

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