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    Crítica

    Sem cair em armadilhas, autor mapeia bem mudanças de 1492

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    20/12/2017 02h05

    1492: O ANO EM QUE O MUNDO COMEÇOU (muito bom)
    AUTOR Felipe Fernández-Armesto
    TRADUTOR Luiz de Araújo
    EDITORA Companhia das Letras
    QUANTO R$ 43,88 (416 págs.)

    *

    Se a primeira viagem de Colombo rumo às Américas é a única coisa que vem à cabeça quando você pensa no ano de 1492, é porque as implicações globais dessa data ainda são pouco conhecidas, argumenta o historiador britânico de origem espanhola Felipe Fernández-Armesto.

    É obvio que o navegador genovês que revelou o Novo Mundo à Europa é um personagem importante das reviravoltas daquele ano, assim como seus patrocinadores, os "reis católicos" Fernando de Aragão e Isabela de Castela.

    Mas, nesse ano, é igualmente crucial mostrar figuras como Ivan 3º, grão-príncipe de Moscou; o africano Sonni Ali, fundador do Império Songhai (atual Mali); ou Montezuma 2º, senhor dos astecas.

    Daí o título completo do livro de Fernández-Armesto, "1492: O Ano em que o Mundo Começou", enfatizando as conexões entre os eventos do fim do século 15 e a configuração atual do planeta todo.

    Quando as coisas são colocadas nesses termos, é claro que surge a tentação de olhar os últimos 520 anos pelo lado errado do telescópio.

    O historiador britânico, que hoje é professor da Universidade Notre Dame (EUA), escapole habilmente dessa armadilha ao se concentrar primeiro nos detalhes dos diferentes contextos históricos de 1492 e só depois tentar entender como eles poderiam se encaixar no quadro mais amplo.

    Um exemplo desse método vem do outro divisor de águas da história da península Ibérica naquele ano: a derrota definitiva do Islã na Europa Ocidental, consumada com a conquista do reino muçulmano de Granada por Fernando e Isabel no dia 2 de janeiro.

    Como seria de esperar, os "reis católicos" comemoraram a anexação de Granada usando a retórica tradicionalmente empregada nas Cruzadas: uma forma de "consagrar a Espanha a serviço de Deus".

    Por outro lado, o que pouca gente leva em conta é como os monarcas espanhóis só partiram para a conquista definitiva depois de décadas extorquindo a nobreza islâmica de Granada. Católicos, sim, mas reis em primeiro lugar.

    1492 - O Ano em que o Mundo Começou
    Felipe Fernández-Armesto
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    O olhar de Fernández-Armesto para o detalhe é preciso ao mostrar que a África Ocidental tinha muito pouco de tribal ou primitiva. O império consolidado por Sonni Alim é só um exemplo da complexidade social e política.

    Apesar de se dedicar aos dramas da humanidade, o livro ressalta como as transformações de 1492 transformaram a Terra num único supercontinente do ponto de vista biológico, um processo de simplificação ecológica que continua a cobrar um preço alto. São fatores tão importantes para a história, à sua maneira, quanto as ambições de navegadores como Colombo.

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