• Ilustrada

    Wednesday, 01-May-2024 01:12:31 -03

    Crítica

    Deslizes marcam tese sobre obra de Woody Allen

    SÉRGIO RIZZO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/12/2017 01h00

    O CINEMA E O TEATRO DE WOODY ALLEN (regular)
    AUTORA Myriam Pessoa Nogueira
    EDITORA Scriptum
    QUANTO: R$ 60 (360 págs.)

    *

    O que Woody Allen, cujo novo filme, "Roda Gigante", estreia no Brasil nesta quinta-feira, tem a ver com Aristófanes, Sófocles, Eurípedes e Shakespeare? Ou com Bertolt Brecht, Arthur Miller, George Bernard Shaw e Tennessee Williams?

    Respostas detalhadas em "O Cinema e o Teatro de Woody Allen", que também faz o caminho inverso: além de examinar o teatro no cinema do diretor, vasculha rastros do cinema no teatro de Allen.

    Obra teatral numerosa, respeitável e, nos Estados Unidos, popular. "Sonhos de um Sedutor" (1969), que deu origem em 1972 a um filme dirigido por Herbert Ross, foi sucesso na Broadway e uma das peças mais encenadas no país nos anos 1970.

    A ampla pesquisa de Myriam Pessoa Nogueira mapeia não só diversas outras peças mas também contos de Allen publicados originalmente na revista "The New Yorker" e depois reunidos em coletâneas, além de entrevistas e outros materiais.

    Como trabalho de pesquisadora, resultado de tese de doutorado defendida na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, o livro faz saltar a cada página o empenho de quem foi aos EUA conferir, entre outras preciosidades, roteiros e manuscritos doados por Allen à Universidade Princeton.

    Não é, contudo, um esforço que redunde em fôlego crítico. Como se estivesse um pouco intimidada a expressar sua própria voz, a autora concentra-se em alinhavar opiniões de terceiros sobre os temas em jogo, em um fluxo incessante de citações.

    Para o leitor não acadêmico, o expediente pode incomodar. Que tal oito autores citados em uma única página (26), começando por Kierkegaard e chegando a Bergson? Ou, em apenas quatro linhas (pág. 105), os termos metatextualidade, intertextualidade, intermidialidade e autotextualidade?

    A opção dos editores por manter, ao que tudo indica, o texto original da tese, tende a restringir o alcance da obra. Fosse reeditado para publicação, perderia pouco da substância (e do valor acadêmico) em nome de linguagem e estrutura mais convidativas à enorme legião de admiradores de Allen.

    A edição do texto para um público não iniciado contribuiria, também, para reduzir as diversas idas e vindas do livro, que dá muitas vezes a impressão de girar em falso ao retomar obras, ideias e abordagens realizadas em capítulos anteriores.

    Se a pesquisadora foi metódica e detalhista em sua tese, a revisão do livro poderia fazer justiça a tais qualidades. Deslizes ligeiros, como "Univeristy", e mais significativos, como "Sandy Morse" (em referência ao apelido da montadora Susan E. Morse, mas como se fosse o nome creditado nos filmes), pipocam.

    Em outro indício de cuidados acadêmicos desnecessários (e contraproducentes) fora do ambiente acadêmico, o livro termina com algumas páginas que resumem o que se leu anteriormente. Se é preciso explicar...

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024