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    crítica

    Álbum sela reunião de Cat Stevens e sua versão muçulmana, Yusuf

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    28/01/2018 02h00

    Jorge Fuica/AFP
    Yusuf, que se chamava Cat Stevens até 1977, em show no Festival de Viña del Mar, no Chile
    Yusuf, que se chamava Cat Stevens até 1977, em show no Festival de Viña del Mar, no Chile

    THE LAUGHING APPLE (muito bom)
    ARTISTA Yusuf/Cat Stevens
    LANÇAMENTO Universal Music
    QUANTO R$ 30 (CD)

    *

    Recém-lançado, "The Laughing Apple" mais parece o disco de uma dupla: Cat Stevens e Yusuf. O primeiro é um dos maiores vendedores de discos no mundo nos anos 1970. O segundo é o mesmo cantor e compositor inglês de 69 anos, mas com o nome que adotou em 1977, após sua conversão ao islamismo.

    As duas fases da vida do artista estiveram completamente separadas por mais de 30 anos, até o início desta década, quando Yusuf começou a cantar em seus shows canções que foram famosas, muito famosas mesmo, nos álbuns que Cat Stevens lançou entre 1967 e 1978.

    Nesse período, ele vendeu mais de 40 milhões de discos, disputando o topo das paradas com os pesos-pesados do rock da época, Led Zeppelin e Elton John. Hits como "Father and Son", "Morning Has Broken", "Peace Train", "The First Cut Is the Deepest", "Oh Very Young" e "Wild World" tocaram no mundo todo.

    Durante férias no Marrocos, em 1976, Stevens se aproximou da religião islâmica atraído pelas canções ritualísticas. Após um aprendizado de quase dois anos, ele fez sua conversão em 23 de dezembro de 1977.

    "The Laughing Apple" é uma espécie de retomada oficial das canções antigas de Cat Stevens, que Yusuf refutava com veemência. O álbum tem 11 faixas, e quatro delas são regravações de músicas que estão no segundo álbum da carreira de Stevens, "New Masters", de 1967.

    No início dos anos 1970, o cantor admitiu sua decepção com esse disco. Ele não gostou dos arranjos criados pelo produtor Mike Hurst, encorpados com sons orquestrais.

    Neste que é seu quarto álbum após a conversão, Yusuf reencontra o produtor Paul Samwell-Smith, um dos grandes da década de 1970 e responsável pelos álbuns mais bem-sucedidos de Stevens.

    SIMPLICIDADE

    "Blackness of the Night", "I'm So Sleepy", "Northern Wind" e a faixa-título receberam versões mais simples, com poucos instrumentos e destaque para a voz grave e ainda cristalina do cantor.

    Outra faixa resgatada do passado é "Grandsons", lançada em coletâneas com o título "I've Got a Thing About Seeing My Grandson Grow Old" e versos modificados.

    As seis músicas inéditas do disco foram compostas por Yusuf como uma espécie de trilha sonora para um livro infantil. O encarte que acompanha o álbum mostra a historinha de um velho contando a crianças episódios de sua vida.

    Ouça no deezer

    As letras estão ilustradas com desenhos do próprio Yusuf. Essa dedicação às artes visuais é anterior à decisão de Cat Stevens fazer música.

    "The Laughing Apple" pode não atingir o estágio sublime da produção do trovador nos anos 1970, mas traz beleza e melancolia em baladas de singular arquitetura pop.

    Em comparação às músicas "recicladas" do álbum "New Masters", as canções recentes de Yusuf podem soar mais ingênuas. Uma sagacidade provocadora do poeta Cat Stevens se perde, substituída pela boa contação de histórias de Yusuf.

    Mas, num balanço final, as duas fases distintas da criação do compositor convivem sem estranhamento. Quem não conhece as versões originais de "New Masters" é incapaz de apontar quais são as faixas de releituras.

    Fazendo uma ponte de 50 anos entre Cat Stevens e Yusuf, "The Laughing Apple" é uma agradável viagem a um rock que não se faz mais.

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