Como letrista, SZA é conhecida por sua autoconsciência aguda; ela escreve sobre a mecânica do desejo e da insegurança com um olhar tão penetrante que sua música pode soar quase indecente. Mas esse instinto incomum de autoavaliação também pode causar complicações.

A cantora de rhythm and blues, cujo nome de nascimento é Solána Rowe, criticou seu próprio álbum de estreia, "Ctrl", e o reviu tão a fundo que o lançamento foi adiado em um ano.

"Minha ansiedade me dizia o tempo todo que estava péssimo", disse SZA, falando suavemente e sem hesitar.

Usando suéter folgado de lã, com um pé num tênis grandão Balenciaga apoiado sobre a mesa de madeira, ela enumerou as falhas do disco.: a paleta sônica do álbum era superficial demais, os conceitos e as palavras escolhidas eram redundantes, e os ganchos poderiam ser mais fortes.

Em um momento enquanto estava gravando, SZA ameaçou no Twitter abandonar a música por completo.

Quando seu selo interveio e programou o lançamento ela disse que "queria andar logo e fracassar de uma vez".

Mas aconteceu o oposto. "Ctrl" emergiu como um dos álbuns mais aclamados do ano pela crítica e virou um talismã para mulheres jovens, especialmente mulheres jovens negras, que se enxergavam em suas parábolas resolutas sobre liberação sexual e consequências emocionais.

CINCO VEZES

No 60º Grammy Awards, na noite deste domingo (28), ela será a mulher com o maior número de indicações, cinco: melhor artista revelação, melhor performance de rhythm and blues, melhor performance de rap, melhor canção de rhythm and blues e melhor álbum contemporâneo urbano.

Parte dela ainda não consegue acreditar. Quando perguntamos o que vai fazer se receber um Grammy, ela respondeu: "Acho que vou ter que reavaliar minha vida'. Para ela, um elogio virou uma espécie de crise.

Numa indústria onde as estrelas mais jovens são as que geram mais energia, SZA floresceu relativamente tarde.

Ela lançou seu primeiro EP por conta própria aos 22 anos (hoje tem 27) e chegou à música como refúgio, depois de ter trabalhado como bartender e balconista da Sephora.

SZA nasceu em St. Louis, filha de uma executiva de comunicações católica e um produtor de TV muçulmano.

Em "Ctrl", sua meta foi alcançar transparência e humanidade. SZA queria mostrar uma mente e uma cabeça trabalhando. Queria dar voz a tudo que ela antes mantivera oculto.

Em "Supermodel", a faixa de abertura, ela atormenta um namorado ausente ("você foi um amante temporário"), antes de voltar a faca contra si própria ("por que sou tão fácil de esquecer?").

No single "Drew Barrymore", uma confissão de supostos pecados ("sinto muito por não ser mais bem comportada, sinto muito porque não raspo as pernas à noite") vira uma palavra de ordem em tom de desafio.

"Não tenho vergonha de aparecer. É uma discussão que já tive com muitos homens, que me achavam irreverente demais, pouco feminina. Muitas mulheres negras são vistas assim. 'Você é grossa, ou mal-educada, ou tosca, ou sarcástica.' Mas para mim isso é lindo."

Falando a reação das pessoas a "Ctrl", SZA disse: "É como se Deus estivesse me dando um tapa na cara".