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    Movimento dos kibutzim recupera força em Israel

    HARRIET SHERWOOD
    DO "GUARDIAN", EM AFIKIM (ISRAEL)

    27/07/2012 14h00

    Após vários anos de esvaziamento, falências e privatizações, o movimento israelense dos kibutzim está passando por uma notável recuperação, com um crescente número de pessoas querendo aderir a essa forma ímpar de vida coletiva.

    A população dos kibutzim (plural de kibutz) está atualmente em torno de 143 mil, a maior em seus 102 anos de história, após uma expansão de 20% entre 2005 e 2010, de acordo com dados oficiais do Movimento Kibutz.

    Mais gente está atualmente aderindo aos kibutzim do que indo embora deles --ao contrário do que ocorria nos anos de crise--, e o afluxo de adultos em idade produtiva e de crianças pequenas está ajudando a reequilibrar uma população que vinha envelhecendo.

    A maioria dos kibutzim implementou reformas para se tornarem comercialmente viáveis e conter o declínio. A liberalização --incluindo a permissão para rendas diferentes e a propriedade imobiliária-- tornou-os mais atraentes para recém-chegados relutantes em se comprometerem com princípios comunitários absolutos.

    Apenas cerca de 60 dos 275 kibutzim de Israel ainda operam sob um modelo completamente coletivo, no qual todos os membros recebem o mesmo pagamento, independentemente do trabalho que lhes seja atribuído.

    A maior parte dos demais adotou diferenciais salariais para pessoas empregadas pelo kibutz --e, o que é mais importante, muitos membros agora trabalham fora do kibutz e destinam um percentual do seu salário à coletividade.

    Outras medidas incluíram a venda de empresas dos kibutzim, a cobrança de refeições e serviços e o recrutamento de mão de obra agrícola do Sudeste Asiático. As mudanças, necessárias para a sobrevivência, foram dolorosas, especialmente para uma geração de pioneiros dos kibutzim apegada a um sonho socialista-sionista.

    Um crescente número de famílias é atraído para a vida no kibutz por causa da qualidade da educação, do ambiente, do espaço e da segurança. Mas, segundo Amikam Osem, que se tornou membro do kibutz Afikim, perto do mar da Galileia, depois de se casar com uma "kibutznik" há quase 50 anos, a principal razão é o sentido comunitário.

    "Este é um princípio da vida no kibutz --ajuda mútua e responsabilidade pelos outros." Um kibutz é como uma orquestra, com pessoas tocando partes diferentes, "mas juntos criamos algo com sentido".

    TAXAÇÃO PROGRESSIVA

    Nos últimos dois anos, o número de membros do Afikim saltou de 500 para 600, e há atualmente uma lista de espera para os interessados. Muitos são filhos dos integrantes, desejosos de criarem suas próprias famílias num ambiente cooperativo. Outros nunca viveram em um kibutz anteriormente.

    O Afikim adota um sistema de taxação progressiva: quanto mais você ganha, mais você paga para o fundo coletivo. Há uma renda mínima que serve de "rede de segurança" para todos, e o kibutz subsidia saúde, educação, necessidades sociais e cuidados aos idosos.

    O kibutz possui e opera diversos negócios bem-sucedidos, além de fazendas de laticínios e piscicultura, e também cultiva tâmaras, bananas, abacates e azeitonas em suas terras. O refeitório fortemente subsidiado --o coração do kibutz-- fica aberto todos os dias para o almoço, e duas vezes por semana à noite.

    Menahem Kahana/France Presse
    Turistas escutam guia do kibutz Kfar Haruv, em antiga base militar síria com vista para o mar da Galileia, em Golã
    Turistas escutam guia do kibutz Kfar Haruv, em antiga base militar síria com vista para o mar da Galileia, em Golã

    Antes de serem aceitos como membros com pleno direito a voto, os candidatos alugam casas no kibutz. A maioria dos membros atuais tem casa própria, que pode ser legada aos filhos ou vendida de volta para a coletividade. Ocasionalmente, uma família candidata decide que a vida no kibutz não é para ela; às vezes, o comitê de admissões do kibutz considera os candidatos inadequados.

    "Agora poderíamos dobrar o tamanho do kibutz se quiséssemos", disse Yaniv Osem, 50, filho Amikam e chefe eleito do kibutz. "Mas precisamos ter cuidado." Quem tem antecedentes criminais, histórico de má gestão financeira ou comportamento antissocial não é convidado a participar.

    Não há veto a famílias não convencionais, inclusive a casais homossexuais, segundo ele. "É como um clube de campo excelente, mas com uma rede de segurança. É o lugar mais protegido do mundo."

    "Aqui no kibutz não somos vizinhos --somos sócios", disse o pai dele. "O movimento dos kibutzim está num processo de mudança em que há muitas direções diferentes. Mas o que une todos os kibutzim é responsabilidade mútua."

    Entre garfadas da salada subsidiada numa mesa junto à janela do vasto refeitório, Vered Ofir, 45, professora de ginástica e mãe de quatro filhos, refletia sobre a decisão da sua família de aderir à vida comunitária.

    "Foi uma grande mudança para nós, levou um tempo para nos ajustarmos. Mas queríamos viver em uma comunidade, entre amigos", disse ela. O padrão de educação a atraiu, além do fato de que "os bebês tiveram um ótimo lugar para ficar enquanto eu estava no trabalho". Mas, acrescentou ela, "nem tudo é fácil --às vezes tudo é próximo demais, nosso problema é problema de todo mundo".

    Após três anos de avaliação mútua entre família e kibutz, os Ofirs se tornaram membros plenos do Afikim no ano passado. Há algumas semanas, os pais dela chegaram, com a esperança de também entrarem para a comunidade.

    Para Ofir, que nasceu e passou a maior parte da vida em Tel Aviv, o mutualismo se sobrepõe aos inconvenientes da vida no kibutz. "As cidades podem ser lugares muito solitários. Aqui tenho minha própria vida, trabalho fora do kibutz, mas há uma comunidade. É uma coisa muito positiva."

    Tradução de RODRIGO LEITE.

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