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    Leia poemas de Michel Temer

    MICHEL TEMER
    ilustrações CIRO FERNANDES

    13/01/2013 08h04

    O vice-presidente da República estreia na poesia com "Anônima Intimidade", que sai nesta semana, pela Topbooks (168 págs., R$ 39). "Escrevi estes escritos para mim", diz.

    E o fez, conta, em guardanapos de papel durante viagens aéreas entre Brasília e São Paulo. "Deixava a arena árida da política legislativa e me entregava, durante o voo, a pensamentos."

    Ciro Fernandes/Divulgação
    Desenho de Ciro Fernandes para o livro "Anônima Intimidade", do vice-presidente da República, Michel Temer
    Desenho de Ciro Fernandes para o livro "Anônima Intimidade", do vice-presidente da República, Michel Temer

    No livro, adverte para o caráter ficcional de seus versos, que tematizam recordações de infância e juventude, reflexões metalinguísticas e existenciais e homenagens à figura feminina.

    Em sua introdução, Temer agradece aos amigos o impulso para tirar a obra do âmbito íntimo --em especial, a Carlos Ayres Britto, autor do prefácio.

    "Numa frase", escreve o ex-presidente do STF, "esse Michel Temer sobre quem discorro é o homem maduro que, liricamente, ainda porta consigo os sonhos de sua meninice e juventude". O livro será lançado em São Paulo no dia 31, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

    *

    EXPOSIÇÃO

    Escrever é expor-se.
    Revelar sua capacidade
    Ou incapacidade.
    E sua intimidade.
    Nas linhas e entrelinhas.
    Não teria sido mais útil silenciar?
    Deixar que saibam-te pelo que parece que és?
    Que desejo é este que te leva a desnudar-te?
    A desmascarar-te?
    Que compulsão é esta?
    O que buscas?
    Será a incapacidade de fazer coisas úteis?
    Mais objetivas?
    É por isso que procuras o subjetivo?
    Para quem a tua mensagem?
    Para ti?
    Para outrem?
    Não sei.
    Mais uma que faço sem saber por quê.

    ASSINTONIA

    Falta-me tristeza.
    Instrumento mobilizador
    Dos meus escritos.
    Não há tragédia
    À vista.
    Nem lembranças
    De tragédias passadas.
    Nem dores no presente.
    Lamentavelmente
    Tudo anda bem.
    Por isso
    Andam mal
    Os meus escritos.

    QUEM?

    Loira. Os olhos
    Negros.
    O cabelo, na raiz,
    Negro.
    Os lábios
    Grossos.
    O olhar (não os olhos)
    Distante. Triste.
    Romanceado. Vendo a África.
    Sem a rapidez
    E alegria
    Dos olhos da loira
    Postos na neve.
    A quem minha memória
    Deve armazenar?
    A loira, falsa,
    Ou a mulata, verdadeira?

    EMBARQUE

    Embarquei na tua nau
    Sem rumo. Eu e tu.
    Tu, porque não sabias
    Para onde querias ir.
    Eu, porque já tomei muitos rumos
    Sem chegar a lugar nenhum.

    ANÔNIMA INTIMIDADE

    Correio elegante.
    Hoje, torpedo.
    Bom mesmo era o correio elegante
    Nas quermesses do interior.
    O garçom levava a sua mensagem para alguém.
    Ou trazia,
    Sempre anônimas,
    Palavras de amor.
    Ou admiração.
    Despertava curiosidade.
    Quem mandou?
    E a sua mente divagava.
    Sonhava.
    Fantasiava.
    Desejava.
    Será ela?
    Outra?
    Era uma intimidade aquele anonimato.
    Depois, você caminhava para sua casa, para seu quarto.
    E dormia inebriado pelas palavras e pelo perfume
    Que o correio elegante trazia.

    VERMELHO

    De vermelho
    Flamejante.
    Labaredas de fogo.
    Olhos brilhantes
    Que sorriem
    Com lábios rubros.
    Incêndios
    Tomam contam de mim.
    Minha mente
    Minha alma.
    Tudo meu
    Em brasas.
    Meu corpo
    Incendiado
    Consumido
    Dissolvido.

    Finalmente
    Restam cinzas
    Que espalho na cama
    Para dormir.

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