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    Geena Davis contra a invisibilidade feminina

    RAUL JUSTE LORES

    16/02/2014 03h41

    Protagonista do clássico feminista "Thelma & Louise" e do extinto seriado "Commander in Chief", no qual interpretou a primeira mulher a ser presidente dos Estados Unidos, a atriz Geena Davis, 58, nunca se submeteu aos papéis subalternos que Hollywood dispensa ao sexo feminino.

    Ela se tornou uma importante lobista no circuito Los Angeles-Washington para aumentar e melhorar a presença das mulheres na TV e no cinema. Davis criou um instituto que estuda políticas de gênero na mídia e pressiona produtores a reverter a invisibilidade feminina nas telas.

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    Entre os números divulgados pelo Geena Davis Institute on Gender in Media, descobrimos que, nos últimos 20 anos, de todos os personagens com alguma fala em filmes, 71% eram masculinos e 29% femininos.

    Em uma palestra no mês passado, Davis indicou um aspecto perturbador dessa narrativa. Em uma economia com desemprego relativamente alto e onde os maiores salários (e muitos dos novos empregos) estão em áreas ligadas à tecnologia e às engenharias, as mulheres não veem muitos "role models" (exemplos a seguir) nesses setores promissores.

    Nos filmes lançados nos últimos cinco anos, há 14,25 personagens masculinos que trabalham em engenharia ou computação para cada papel feminino nessas áreas.

    Em um evento na Casa Branca, executivos do Vale do Silício disseram ao presidente Obama que um filme como "A Rede Social" tinha impacto enorme para estimular jovens a buscarem a carreira de programadores. Mas quase todas as personagens femininas eram namoradinhas dos protagonistas.

    O EXEMPLO DE MICHELLE

    Michelle Obama, 50, também acredita no poder do exemplo -o dela próprio. Nos últimos 15 dias, a primeira-dama americana já participou de cinco eventos na região metropolitana da capital para convencer estudantes de baixa renda a tentarem vagas na universidade.

    "Vocês têm de continuar seus estudos", disse a um grupo de estudantes do equivalente americano ao ensino médio. "Há bolsas, programas de crédito escolar e de premiação a melhores alunos", discursou. Aos 16 anos, Michelle gastava três horas de ônibus diariamente para ir e voltar de uma escola secundária para estudantes de altíssimo desempenho, bem longe da
    proletária zona sul de Chicago em que cresceu.

    Ela acabou estudando sociologia em Princeton e se formou em direito por Harvard. Em ambas, participou de associações de mentores para outros universitários de baixa renda. Michelle já liderou uma campanha por alimentação saudável e mais exercícios para combater a obesidade infantil.

    IOGA NA CATEDRAL

    A Catedral de Washington também busca novo alcance popular. Criada em 1893 pelo governo como templo ecumênico, ela já abrigou sermões de Martin Luther King e funerais de ex-presidentes. Com o corte de verbas federais e uma cara reforma, após o tremor que sacudiu a capital americana em 2011, a catedral quer aumentar o número de doações, que respondem por 65% de seu orçamento.

    O templo passou a cobrar US$ 10 (R$ 24) de entrada de turistas e a organizar aulas de meditação, ioga e tai chi chuan -para isso os bancos são retirados. Segundo o administrador, as novas atividades têm a ver com espiritualidade.

    PROPAGANDAS

    A mídia americana tem pintado um quadro sombrio da Olimpíada de Inverno de Sochi, acusando o presidente russo Vladimir Putin de usá-la para propaganda interna.

    A rede conservadora Fox News deixou a homofobia de lado para criticar a perseguição contra gays na Rússia. Outras emissoras sugerem que atletas e turistas americanos evitem usar uniformes ou bandeiras do país para fugir de agressões.

    Até o "New York Times" tascou um ponto de exclamação e recorreu a Stálin no subtítulo de uma reportagem sobre os jogos. "Bem-vindos a Sochi, um megaprojeto de estilo soviético que faria Josef Stálin orgulhoso!", escreveu.

    A TV NBC, que pagou US$ 775 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão) pelos direitos de transmissão dos jogos, ficou sozinha na promoção do "espírito olímpico". Os demais parecem ter ressuscitado a Guerra Fria.

    RAUL JUSTE LORES, 38, é correspondente da Folha em Washington.

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