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    Dois poemas de Sérgio Medeiros sobre Nova York

    SÉRGIO MEDEIROS

    02/03/2014 03h09

    SOBRE O TEXTO Sérgio Medeiros é poeta, autor de "O Choro da Aranha Etc." (7Letras), e tradutor do "Popol Vuh" (Iluminuras). Os poemas abaixo farão parte do livro "Viagens e Passeios às Ilhas", a sair pela Iluminuras, em data não definida.

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    A PRÓXIMA VIAGEM

    [Eis alguns postais antigos: eu os ofereço aos
    turistas nostálgicos que irão em breve a Nova York.]

    - murcho na calçada o rato sorridente
    se levanta de repente aparecendo enorme
    acima dos carros estacionados e continua
    a se encher de ar enquanto mãos o amparam
    pelas costas até deixá-lo perfeitamente
    ereto

    - no totem escuro colado à parede pode-se
    introduzir o braço pois é inteiramente oco
    e não toca o chão apenas o teto

    - a mulher protege a bolsa e o braço
    esquerdo sob o guarda-chuva mas
    estica para fora dele o braço que
    segura o cigarro aceso batendo nele
    para fazer a cinza cair na calçada
    molhada pela garoa

    - em cada carro estacionado ao lado
    do parque é colocado sobre o capô
    um grande cone colorido como um chifre
    de unicórnio

    - passada a chuva o sol brilha ao meio-dia
    enquanto na calçada um funcionário limpa
    com um pano o corrimão dourado do
    departamento de polícia da cidade de Nova
    York

    - táxis amarelos passam juntos na
    sombra que as árvores do parque
    lançam amplamente na Avenue of the
    Americas

    *

    A ILHA DE TRISHA BROWN

    Roupas brancas que vestem bailarinos. Calças. Camisas. Algumas são lançadas no chão do palco.
    Deslizam. Deslizam depressa. Primeiro sem pressa. Bem devagar.
    Levadas embora pelo vento de grandes ventiladores ruidosos. Vários ventiladores.
    Que num extremo do palco atraem bailarinos.
    As peças de roupa branca vão parando no palco enroladas em si mesmas.
    Estremecem. Poderão ainda escorregar no chão liso um pouco mais. Para a frente. Ou para os lados.
    Depois elas pararão. Definitivamente. Mais tarde virão recolhê-las. Ao final do espetáculo.
    Findos os aplausos

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