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    O puxadinho do Pritzker

    ALEXANDRE VIDAL PORTO

    06/04/2014 03h07

    Uma caipirinha para o "Nobel" da arquitetura

    O Prêmio Pritzker é a suprema consagração no campo da arquitetura. Desde 1979, é concedido a um arquiteto vivo, cujo trabalho "represente contribuição significativa para a humanidade". Gente como Luis Barragán, Oscar Niemeyer e Zaha Hadid ganharam o prêmio. Neste ano, foi a vez de o japonês Shigeru Ban receber a distinção.

    Na embaixada do Brasil em Tóquio, essa notícia foi recebida com especial alegria. É que, durante um almoço, três meses atrás, Ban aceitara participar de um projeto de intervenção no prédio da representação, desenhado pelo brasileiro de origem nipônica Ruy Ohtake na região de Aoyama.

    Ban é conhecido por sua consciência social e pela sustentabilidade dos materiais que utiliza. Sua proposta consiste em uma estrutura de tubos de papelão reciclável, que cria um pequeno pavilhão sobre o pátio e a escadaria em frente ao prédio da embaixada. A ideia é oferecer ao público japonês um espaço de convivência e abrigar pequenos shows e atividades culturais durante a realização da Copa do Mundo no Brasil.

    A estrutura será montada pela comunidade brasileira e financiada pela iniciativa privada. Trata-se de um dos primeiros projetos de Shigeru Ban depois de receber o Pritzker. Por essa razão, deverá ser objeto de curiosidade internacional. Como se trata de uma ação entre amigos, o arquiteto, que adora caipirinha, havia-se voluntariado para também organizar uma degustação da bebida numa área do pavilhão que ele chamara de "Shigeru Bar". Resta ver se a agenda do mais recente Prêmio Pritzker permitirá a realização dessa atividade paralela.

    BALEIA HALAL

    Recebo de uma empresa japonesa convite para participar de uma degustação de carne de baleia halal. A denominação atesta que a carne foi obtida e manuseada de acordo com os preceitos islâmicos e que, portanto, é própria para o consumo de muçulmanos.

    O convite informa que a carne provém de baleias pescadas pelo navio Nisshin Maru, que tem um clérigo islâmico a bordo para supervisionar a morte dos cetáceos. Informa também que os ensinamentos do profeta Maomé fazem alusão à iguaria e que a carne de baleia é um dos alimentos oferecidos por Alá aos que chegam ao paraíso. No menu da degustação: bife, sashimi e curry de baleia.

    A empresa reconhece que a pesca de baleias é "objeto de debate", mas pede a compreensão dos convidados para o fato de que o evento se realiza "não como ato político, mas como ato cultural". Para as baleias que estão sendo degustadas, será que isso faz diferença?

    SAKURA EM TUDO

    Não se fala em outra coisa. O inverno em Tóquio foi longo, mas acabou. A onda agora é o hanami (ver as flores). É a estação da floração das cerejeiras, das sakuras. Elas estão por toda parte, cobrindo a capital de branco e cor-de-rosa. Durante as duas semanas da florada, os parques viram área de celebração. As pessoas se reúnem e disputam espaço sob as árvores e suas flores. Parece praia lotada.

    O comércio lucra com isso. As sakuras estão na decoração das vitrines e em produtos tradicionais. Mas também estão em produtos de marcas ocidentais. O McDonald's anuncia um refrigerante e a Häagen Dazs oferece sorvete no sabor sakura. O objeto de desejo dos fashionistas da cidade é uma bolsa com estampa de flores de cerejeira, de edição limitada, feita pelo artista Takashi Murakami anos atrás para a Louis Vuitton.

    PLANEJAR DÁ CERTO

    Na região de Akihabara, o "joshi kosei osanpo" é oferecido abertamente. Trata-se de um serviço que consiste em passear na companhia de uma colegial uniformizada. O preço por 30 minutos de passeio é de cerca de US$ 50. Se quiser tirar uma foto do encontro, paga-se mais cerca de US$ 10. Se quiser andar de mãos dadas, mais US$ 15.

    Os encontros não envolvem sexo necessariamente, mas muitas dessas colegiais são adolescentes. Por isso, as autoridades resolveram intervir. Desde o começo de abril o "joshi kosei osanpo" não será mais tolerado.

    Essa é a primeira ação de um programa para a eliminação da prostituição infantil antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, cujos trabalhos de preparação já estão em curso. É assim que as coisas dão certo.

    Nota:
    Este é meu último "Diário". Deixo Tóquio para voltar ao Brasil. Aos leitores, arigatô!

    ALEXANDRE VIDAL PORTO, 49, é colunista da Folha, diplomata e lança neste mês o romance "Sérgio Y. Vai à América" (Companhia das Letras).

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