NAMORO
No início, o calor da sua palma
encontra a temperatura da minha.
O cumprimento se aprofunda
entre as duas conchas de pele
tão íntimas como as menos
imediatas, e o suor é o mesmo
que vai cobrir e unir
o comprimento todo
dos dois corpos depois.
*
PROVA DE AMOR
Quando sua mão tocava
no meu ombro não era
não era somente ali que eu a sentia.
O toque se alastrava
tomava conta e cobria todo o corpo.
A sensação durava com o calor certo
e você me colhia por dentro.
Eu cabia inteiro no fervor da sua mão.
*
NOME
Cri em outra língua é grito.
Nesta em que eu falo é chamado
cotidiano, terno ou alterado
no vaivém do amor
pelo beijo ou berro, que lambe ou morde.
Foto Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
PERSEGUIDA
Enfio o rosto no seu regaço
a cara, a cabeça toda
no cabelo crepitante, entreaberto
brotando na beira, na origem
no abismo do mundo
e a provo e a possuo e molho
e molho-me no mesmo molho
do corpo, e da suada fantasia.
*
LA GRANDE BAIGNEUSE
O vapor da água do banho
é a última roupa, negligenciável
antes da sua nudez, que o espelho
registra: veste ainda e se esgarça
devagar, depois da banheira esvaziar-se
e da mão limpar o reflexo embaçado.
Banho longo: a água competiu
com sua pele qual era a mais lisa.
Après le bain, sua nudez de costas
(sua pele é meu único luxo)
não tem pressa de enxugar-se
na paz de um quarto de hotel, em Paris.
ARMANDO FREITAS FILHO, 74, poeta, é autor de "Dever" (Companhia das Letras).
FERNANDA BRENNER, 28, artista plástica, atualmente se ocupa da gestão do espaço Pivô.