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    Onze escritores falam do futebol no campo e nos livros

    ALVARO COSTA E SILVA
    ilustração LEDA CATUNDA

    25/05/2014 03h07

    RESUMO A Folha ouviu para este texto 11 escritores de vários países cujas vidas e obras se entrelaçam com o futebol. Além de fazerem suas apostas para a Copa que se aproxima, os autores convocados puseram sobre a mesa tópicos como a pertinência do esporte como tema literário e os protestos durante o evento esportivo.

    *

    Eles um dia sonharam ter a exatidão de Platini, a inteligência de Cruyff, a liderança de Sócrates, a habilidade de Rensenbrink, a elegância de Tostão, a invenção de Riquelme. Mas a vida os fez escritores. E eternos fãs do futebol.

    Autores contemporâneos de diferentes nacionalidades, vindos de países mais ou menos bem-sucedidos nos gramados -independentemente da paixão pelo esporte que neles se devote- tratam os craques como referência literária.

    Quando Juan Villoro elege Sócrates como seu ideal, não pensa só na identificação física -ambos de barba e com mais de 1,90 m de altura. Um dos escalados para a próxima Flip, o mexicano, 57, é autor de artigos e livros sobre futebol. No mais famoso, "Dios Es Redondo" [Anagrama, R$ 52, 288 págs.], há muito "da elegância em campo, da forma de transmitir sabedoria e segurança", que o escritor aponta no estilo do "Doutor".

    Da mesma forma, a "arte de manejar o espaço e o tempo", dotes de Riquelme e Xavi, transparecem nas linhas de "Boquita" [Booket, US$ 22,66 na Amazon, 480 págs.], a história do time argentino Boca Juniors contada por seu torcedor Martín Caparrós, 56.

    Alguns foram mais longe: calçaram chuteiras quase profissionalmente. O boliviano Edmundo Paz Soldán, 47, era um camisa 10 ofensivo e habilidoso, a ponto de ter sido convidado para jogar três anos na Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, com os estudos pagos em troca do passe.

    Autor do romance "Norte", traduzido no fim do ano passado no Brasil, procura inocular sua obra com a precisão dos passes do francês Michel Platini. Paz Soldán usa o futebol também como matéria de ficção: em sua mais recente coletânea de contos, "Billie Ruth" [Páginas de Espuma, US$ 21,75 na Amazon, 152 págs.], há três relatos em torno do tema.

    "Eu me interesso, em particular, pelo drama dos ex-jogadores", diz. "O que significa abandonar a carreira com só 35 anos e ter todo o tempo para recordar? É como se a vida fosse mais bonita quando você era jovem e não se deu conta."

    Independentemente do grau de entrecruzamento de obra, vida e esporte que possa haver em cada caso, a 18 dias do jogo de abertura entre Brasil e Croácia, no Itaquerão, em São Paulo, os escritores boleiros só pensam na Copa.

    Fazem previsões acerca do campeão, apontam craques, analisam treinadores e táticas, estudam a tabela, citam jogos memoráveis, criticam a Fifa e entendem os protestos contra o evento.

    Sobretudo, porém, já torcem como se estivessem discutindo com amigos numa mesa de botequim ou mesmo nos estádios custosamente recém-construídos ou reformados, agitando bandeiras e mentalmente empurrando a bola para o gol. Encontram até tempo para teorizar sobre as relações entre o esporte e a literatura.

    ROMANCE

    Paz Soldán, por exemplo, é adepto da ideia de que falta um grande romance sobre futebol, discussão que volta e meia inflama os meios literários no Brasil. "Há tanta paixão, tanto drama e, no entanto, nos falta narrá-lo de maneira mais épica. Existem alguns bons contos e grandes ensaios, mas ainda não escrevemos o grande romance da bola latino-americano", defende.

    Com a publicação de "O Drible" [Companhia das Letras, R$ 38, 224 págs.], de Sérgio Rodrigues, no ano passado, houve quem desse essa busca por terminada. O autor afirma que gostaria de ser um Tostão -"pouco atlético, cabeção, toque refinado, inteligência futebolística espantosa"-, e o próprio ídolo reconheceu as qualidades do livro na quarta capa: "Faltava à literatura brasileira um grande romance como este, que perpassa pela história do futebol", escreveu.

    Rodrigues, 52, contudo, não endossa a polêmica, que acha "meio boba". "As relações entre literatura e esporte não são tão mecânicas assim, e o futebol tem aparecido na produção brasileira contemporânea, sem essa obrigação de levantar a taça. A lógica do Grande Romance do Futebol ou de qualquer esporte é marqueteira, não literária. No dia em que um escocês escrever o Grande Romance do Curling e um japonês gordo virar best-seller com o Grande Romance do Sumô, talvez eu mude de ideia."

    Bósnio radicado nos EUA, autor de ensaios e livros de ficção que discutem a condição de exilados e refugiados, Aleksandar Hemon bate sua bolinha três vezes por semana em Chicago. Peladeiro clássico, já operou os dois joelhos.

    Ele brinca dizendo que, quando parar de jogar -no início, emulava o ponta-de-lança holandês Rensenbrink; com a idade, porém, recuou e virou "um Claude Makelele piorado"-, terá tempo para pensar numa história.
    "Na verdade, falar de futebol na literatura não é nada fácil. Corre-se o risco de parecer banal ou entediante. Como o sexo, é sempre melhor fazer", diz Hemon, 49.

    Juan Pablo Villalobos, 40, traduziu "O Drible" para o espanhol -com o título de "El Regate", o romance saiu há pouco pela Anagrama- e lança, em duas semanas, "No Estilo de Jalisco" [eds. Bateia e Realejo, R$ 24,90, 96 págs.], sobre a Copa de 1970. Na opinião do mexicano radicado em Campinas, o futebol constitui uma narrativa em si.

    "É cheio de metáforas, de analogias, de lições morais. É um esporte tão retórico... Provavelmente por isso não precisa da ficção", diz ele, que, em devaneios, atua como o espanhol Iniesta.

    Juan Villoro apresenta argumentos semelhantes aos de seu conterrâneo: "O futebol já chega narrado. É repleto de mitologias, ilusões, superstições, anedotas de todo o tipo. Um grande romancista inventa outra zona de realidade. O futebol já está inventado. Por isso se presta mais à crônica; basta pensar em Nelson Rodrigues, que escreveu com o verdadeiro olhar de um fanático por futebol".

    FAVORITISMO

    O autor de "O Drible" prefere não seguir o bate-bola e se volta ao jogo em si para defender sua certeza de que, no Mundial, a seleção brasileira se encontra numa situação de favoritismo natural, devido a dois simples fatores: "Por ser o Brasil e por jogar em casa".

    O argentino Caparrós, o mexicano Villoro e o português Miguel Sousa Tavares não descartam a conquista do escrete canarinho, mas lembram que Argentina e Alemanha estão no páreo com chances iguais de vitória. "É verdade que o cruzamento nas oitavas de final é perigosíssimo e pode acabar cedo com a festa. Mas estou otimista", afirma Rodrigues.

    Sua convicção encontra eco na de André Sant'Anna, que abordou o esporte em "O Paraíso É Bem Bacana" [Companhia das Letras, R$ 67, 456 págs.]. O romance, de 2006, mistura relações sociais, políticas, raciais e religiosas mas, no fundo, gira em torno do futebol.

    O protagonista, um antiherói, é Muhammad Mané, aliás, Manoel dos Anjos (nome que soa quase como Manuel dos Santos, o Mané Garrincha), que se torna um fenômeno mundial do esporte.

    "Antes de mais nada, o futebol é muito importante na minha vida, inclusive filosoficamente. Mas reconheço que deve ser difícil para um leitor que não gosta de futebol entrar no barato da história", afirma Sant'Anna, 49. Fã do holandês Cruyff, ele voltou aos gramados em dois contos de seu novo livro, "O Brasil É Bom" [Companhia das Letras, R$ 39, 192 págs]: "Amor à Pátria" e "A História do Futebol".

    Com a experiência de quem vive quatro meses ao ano na Alemanha, Marcelo Backes, 40, aponta a seleção do país teutão como a que joga o melhor futebol do planeta, no momento. "Tem um dos melhores goleiros, se não o melhor, Manuel Neuer. O grande Lahm, o capitão. E um meio-campo, defensivo e ofensivo, incomparável: Schweinsteiger, Khedira, Özil, Kroos, Müller, Marco Reus, este particularmente grandioso, Götze, Schürrle. E só há espaço para quatro, talvez cinco, caramba!". "Há aquele velho ditado: no fim, ganha a Alemanha", comenta o português Sousa Tavares, 61.

    Apesar de sua própria apreciação do time germânico, porém, Backes aposta que o Brasil será campeão, opinião compartilhada pelo bósnio Hemon. 
Backes, entretanto, contempla aquela que seria "a pior das hipóteses": "Em cores bem vivas, imagino um 'maracanazo' ainda pior, protagonizado pela Argentina". "É a partida que todos esperamos e tememos, não?", diz Caparrós, sem esconder a esperança de que "a Argentina desentale o espinho da garganta" e leve o caneco, "após 50 anos perdendo em tudo" para o Brasil. "E não falo de futebol", frisa.

    TORCIDA

    O que parece consensual entre os escritores ouvidos pela Folha é a diferença que pode fazer, na contenda, atuar em casa, amparado pela torcida. Ainda mais quando se sabe que, no seleto grupo de campeões do mundo (apenas oito países), não se costuma desperdiçar a oportunidade. Em 19 Copas, a mais espetacular "débâcle" foi protagonizada justamente pelo Brasil, no Maracanã, na final contra o Uruguai, em 1950.

    Mas há quem prefira ver o "fator casa" com outros olhos: "No caso brasileiro, a torcida é um vendaval. Incentiva, mas também bota pressão. É a única seleção para a qual o vice-campeonato seria um fracasso", comenta Juan Villoro.

    Apaixonado pelo Boca Juniors -cuja torcida é justificavelmente chamada de "La 12", ou o 12° jogador em campo-, Martín Caparrós vale-se da tarimba de ex-repórter esportivo para desviar o assunto.

    "Perguntei a muitos jogadores sobre o peso da torcida. Uns me disseram que é decisivo; outros, que nem tanto. Acho que o local do jogo é muito mais importante na hora de influenciar um árbitro. Espero que no Mundial eles tenham vergonha e apitem direito."

    O técnico da seleção brasileira -Luiz Felipe Scolari, comandante do penta em 2002- hoje é considerado um trunfo, principalmente depois que conseguiu definir um time e um esquema de jogo para a Copa das Confederações do ano passado, com boas atuações, a principal delas na vitória de 3 a 0 sobre a Espanha na final.

    "Antes de 2002, eu desprezava o Felipão e o futebol pragmático que representava. Mas não me esqueço da queimadura de segundo grau na língua que ele me provocou naquela Copa. Agora só posso dizer que estamos bem servidos de treinador", elogia Sérgio Rodrigues.

    "Aponto o Brasil como favorito mais pelo fato de Felipão ser um bom pastor e os jogadores de futebol, de modo geral e nietzscheanamente falando serem, mais do que qualquer ser humano, animais de rebanho", teoriza Marcelo Backes.

    Pode-se concordar ou não com o autor do romance "O Último Minuto" [Companhia das Letras, R$ 41, 224 págs.], que tem um ex-treinador como personagem principal, mas espera-se, nesse caso, que a saúde de Neymar, 22, equivalha à de uma vaca premiada.

    O argentino Caparrós não aposta suas fichas no jogador. Em sua coluna no jornal esportivo portenho "Olé", em agosto de 2012, o escritor criticou o estilo do brasileiro, classificando-o de "futebol foca", aquele que prioriza o espetáculo em detrimento da eficiência. De lá para cá não mudou de opinião:

    "Tenho acompanhado Neymar no Barcelona. Continua foca: é muito habilidoso, mas não conclui as jogadas. Por ser tão bom com a bola nos pés, poderá evoluir e se tornar o jogador que todos esperam. Quem sabe no Mundial do Qatar, daqui a oito anos?"

    Já Juan Villoro -com quem Caparrós escreveu a quatro mãos o livro "Ida y Vuelta" [Seix Barral, R$ 49, 192 págs.], sobre o Mundial da África do Sul- acha que Neymar fará "uma Copa esplêndida".

    Foto Raquel Cunha/Folhapress

    Com a Bolívia desclassificada, Edmundo Paz Soldán tem a vantagem de torcer apenas pela arte e derrete-se de admiração pelo brasileiro: "Ele flutua em vez de correr. Embora pareça frágil, tem muita força e é capaz de levar o time nas costas, como fez na Copa das Confederações".

    "Neymar é fantástico", ecoa Sousa Tavares. "Vamos ver se tem estrutura psicológica e competitiva para disputar um Mundial. Mas lembro que o Hulk, que conheço dos tempos em que atuou no meu time, o Porto, pode ser tão ou mais importante", diz o português -que, além de romancista, comentarista político e torcedor da equipe do norte de Portugal, é colunista do jornal esportivo "A Bola".

    André Sant'Anna arremata os elogios: "Já é comprovadamente um craque e está entre os cinco melhores jogadores do mundo. Na Copa, pode vir a ser o melhor".

    Até que Juan Pablo Villalobos propõe o duelo que todos têm na cabeça:"Que Neymar desafie Messi ao trono de melhor do mundo. Tem qualidade para fazê-lo".

    BUSÍLIS

    Aí está o busílis. A maior expectativa de atuação individual na Copa gira em torno do craque Lionel Messi, "La Pulga Atómica", quatro vezes eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo. Especula-se que o argentino possa repetir as façanhas de Garrincha em 1962 no Chile e de Maradona em 1986 no México, quando, praticamente sozinhos, ganharam a competição, com gols e lances decisivos e sem comparação na história do futebol.

    "Morei oito anos em Barcelona e vi muitas vezes o Messi no Camp Nou. É ainda melhor do que na televisão. Infelizmente para o Brasil, a lógica é que 2014 seja a Copa de Messi", diz Juan Pablo Villalobos.

    Precavido, Caparrós lembra que Messi, ao contrário de Maradona, sempre precisou de grandes equipes: "É possível que ele ganhe a Copa sozinho. Mas, por sorte, não está só: Higuaín é um goleador soberbo, Agüero um grande atacante, Di María passa por um momento fantástico e Gago, se não se machucar, está entre os melhores camisas 5 do mundo".

    Para Villoro, Messi, 26, não se impõe como líder: "A pressão lhe faz mal. Tem alma de menino; prefere ser o mimado que o responsável. Apesar disso, poderá, sim, ser o fator decisivo. A Argentina tem ataque e meio-campo estupendos. O mistério mora na defesa".

    Sérgio Rodrigues vem com água para pôr no chope: "Messi é sem dúvida o melhor do mundo. Pode até ganhar a Copa sozinho, se estiver inspiradíssimo, mas é difícil. Tem uma frieza que beira a desconexão emocional e que, mesmo sendo uma qualidade marcante do estilo dele, não combina com a tarefa de incendiar um time inteiro. Maradona era fogo, Messi é gelo".

    O português Cristiano Ronaldo, que neste ano tirou do argentino a Bola de Ouro, vive, aos 29, sua fase mais equilibrada. Mas isso não deve fazer Portugal conquistar o título inédito, na opinião de Miguel Sousa Tavares.

    "Como se viu nos dois jogos da repescagem com a Suécia, ele precisa de espaço porque é, acima de tudo, um atleta de exceção. Em contra-ataque, aproveitando a velocidade e o remate que tem, pode decidir jogos; mas, contra defesas fechadas e recuadas, perde-se. Além do mais, Ronaldo não tem quem o mereça na seleção. É a mais fraca seleção portuguesa de que me lembro. Ganhar a Copa seria um novo milagre de Fátima."

    BICHO-PAPÃO

    Maior bicho-papão dos últimos anos e com a base formada pelo time do Barcelona, a seleção da Espanha venceu o que de mais importante disputou: as Eurocopas de 2008 e 2012 e o Mundial de 2010. Chega ao Brasil sob uma suspeita: teria sua geração de craques -Casillas, Sergio Ramos, Xavi, Iniesta, Villa- envelhecido?

    Daí que Villoro diga que se trata da única seleção "que compete consigo mesma". Ou que Paz Soldán a considere, hoje, previsível, necessitando "reinventar sua fórmula". A escalação, que pode estar sendo divulgada no exato momento em que você lê este texto, pode jogar alguma luz sobre as dúvidas.

    Para Villalobos, porém, tais argumentos não convencem: "Acho, honestamente, que esse papo de decadência da Espanha só existe no Brasil. Às vezes até penso que é uma estratégia para tentar desestabilizar a seleção espanhola, que reúne jogadores bons o suficiente para armar dois times que poderiam brigar pela Copa. Todos falam de Xavi ou Iniesta. Mas não devemos esquecer que eles têm Santi Cazorla, Thiago Alcântara, David Silva, Juan Mata... no banco!".

    Além dos "suspeitos habituais" -como classifica Brasil, Alemanha, Espanha e Argentina-, Sérgio Rodrigues avalia as possibilidades de equipes com tradição no campeonato: "A Itália corre por fora, sempre. Não acredito que Inglaterra e França possam ir longe. E a Holanda vai se candidatar a bater na trave e entrar, para variar, em vez de bater na trave e sair".

    Como seleção-surpresa, há a Bélgica. O Corvo Edgar, personagem secador convicto criado por Xico Sá, 51, em suas colunas da Folha, não tem dúvida. "Vai dar Chile. Em homenagem ao meu amigo Roberto Bolaño", garante a ave agourenta pousada no ombro de Xico, um dos poucos escritores a não preferir, se pudesse, jogar na linha: "Meu sonho era ser o Iachin, goleiro da ex-URSS".

    Villoro nutre uma certeza filosófica: "Nas Copas, a expectativa é sempre maior e melhor que a realidade". Nesse ponto, a do Brasil parece insuperável.

    "Pode ser a mais incrível das Copas. O nível técnico dos times e de alguns jogadores é altíssimo. E talvez possa ser a última grande Copa, esportivamente falando. Pois penso que as próximas -na Rússia e, particularmente, no Qatar- vão levar o futebol para lugares onde só o dinheiro sujo importa", critica Aleksandar Hemon.

    O craque Tostão, 67, colunista da Folha, também aposta no espetáculo, mas aponta senões: "Os quatro favoritos são Brasil, Alemanha, Argentina e Espanha. Nos gramados, o nível técnico deve ser bom. Haverá problemas na organização, nos estádios, nas ruas, mas acredito que será uma bela festa", diz ele, que considera não ter ficado nenhum jogador importante fora da lista de convocados para a seleção brasileira. "O único que não merecia é o zagueiro Henrique. Havia outros bem melhores."

    VAI TER COPA?

    O Mundial se desenha inesquecível não apenas no campo. Os protestos prometem marcar a 20ª Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014, cujos gastos podem superar US$ 15 bilhões.

    "Acredito que vão ocorrer protestos, e com toda a razão. A Fifa (em minha opinião, uma organização quase mafiosa) só pensa nos lucros, e não no interesse dos países, das pessoas e do futebol. Virá o dia em que, tirando países que queiram vitrine, mais nenhum governo sério aceite sediar no seu país um Mundial com tal caderno de encargos e exigências", critica Miguel Sousa Tavares.

    "A Copa vai mudar o rumo de algumas coisas, tornar mais sutis decisões até agora tomadas de um modo vergonhosamente vertical. Eu me orgulho de que isso aconteça no Brasil", diz Marcelo Backes.

    Já Villoro diz esperar "que haja dois públicos críticos e pacíficos, um dentro e outro fora do estádio".

    "Agora que gastaram os tubos, quero ver os jogos, não curto essa ilusão de achar que o Mundial resolveria os problemas de um país, assim como não o arruína. Vai ter Copa e protesto, vai ser lindo", convoca Xico Sá, que não esconde a decepção com a lista de Felipão: "Faltou o melhor jogador do país: mesmo com o banzo de caboclo amazônico, Ganso joga mais que essa turma toda de brucutus que veio dos times da Inglaterra. Faltou um marrento tipo Luis Fabiano ou o gordinho Walter no ataque".

    "Obviamente vai ter Copa. Se, na época da decisão de realizá-la no Brasil, em 2007, todos soubessem que haveria tantos problemas graves, um grande protesto talvez pudesse inviabilizar o Mundial. Hoje não", diz Tostão.

    Na pergunta que parece pura retórica, mas que não cala, é o argentino Caparrós quem introduz em campo, uma vez mais, uma questão narrativa.

    "Amigos brasileiros me dizem que há muita gente disposta a usar o Mundial como faz o governo: para mostrar ao mundo o que considera ser o verdadeiro Brasil. Creio que serão dias de grande competição também nesse plano: dois relatos sobre o país se enfrentarão. Veremos quem ganha."

    ALVARO COSTA E SILVA, o Marechal, 51, é jornalista.

    LEDA CATUNDA, 52, é artista plástica. Algumas de suas obras estão na exposição "Pintura como Meio: 30 Anos Depois", no MAC-USP Nova Sede até 23/8.

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