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    Diário de Paraty - A cidade jamais esteve tão ansiosa

    ANDRÉ BARCINSKI

    27/07/2014 03h31

    Paraty nunca esperou a Flip com tanta ansiedade. A festa literária, evento mais importante para o turismo e o comércio locais, este ano ganhou uma relevância ainda maior, por causa do fiasco que foi a Copa do Mundo para a região.

    Restaurantes, pousadas e agências de turismo tinham esperança de faturar alto com a multidão de turistas que, acreditavam eles, invadiria a cidade. Mas a tão prometida "invasão gringa" não aconteceu, e o turista brasileiro, que sempre aproveita as férias do meio do ano na região, também sumiu, afugentado pelos preços altos de passagens e hotéis.

    O resultado foi um mês de junho atípico. O dono de um empório no Centro Histórico, que vende vinhos, doces e cachaças locais, disse que foi o pior mês de junho do estabelecimento em 15 anos. O secretário-adjunto de turismo de Paraty, Gabriel Costa, considerou o resultado aquém do esperado. "Parece que só algumas cidades-sede se favoreceram com a Copa."

    Costa diz que a Flip não é o evento com a maior taxa de ocupação de hotéis na região -Réveillon, Carnaval e a Festa da Cachaça atraem mais gente- mas é o que traz mais lucro e visibilidade. "Na Flip, Paraty ganha uma divulgação imensa em TVs e jornais, e isso ajuda o turismo durante o ano todo."

    Roberto Maia Sampaio, dono de uma conhecida pousada na cidade, a Águas de Paratii, calcula que seu faturamento em junho e julho caiu mais de 50% em relação ao ano passado. O movimento foi tão fraco que ele próprio decidiu tirar férias e foi com a família para Natal, uma das cidades-sede da Copa. "Cheguei logo após os jogos em Natal e percebi que o desastre do turismo não aconteceu só em Paraty, mas no Brasil todo. Hotéis estavam às moscas e dando descontos incríveis. Havia hotéis de luxo convidando pessoas na rua para conhecer os quartos. Nunca vi um desespero igual."

    MUDANÇAS

    Quem for à Flip perceberá algumas mudanças no evento. A Tenda do Telão, que ficava na praia do Pontal, será erguida no Centro Histórico. E a Tenda dos Autores, que recebe os principais debates, mudou de modelo.

    Segundo a organização do evento, a capacidade da sala será a mesma, mas a visibilidade do palco vai melhorar. "A tenda nova é mais comprida e todos os assentos têm uma boa visão do palco", diz Izabel Costa Cermelli, do Conselho Diretor da Flip.

    Os operários que participam da montagem da tenda aprovam: "Essa tenda é bem mais fácil de montar", diz Wagner Malvão, o popular Wagão, que desde a primeira Flip, em 2003, coordena uma equipe de moradores da região contratada para auxiliar na montagem e desmontagem de tendas, palcos e estruturas. "Este ano temos 80 locais na equipe. O pessoal já conta com esse trabalho para ajudar no orçamento em casa."

    LIVRO DE RUA

    É só chegar a época da Flip e eles aparecem: são os "escritores de rua", autores que vendem seus livros pela cidade. Alguns, como o casal que vende literatura de cordel fantasiado de Lampião e Maria Bonita, são velhos conhecidos de frequentadores da feira.

    Mas a abordagem a clientes em potencial não é das mais simpáticas. Muitos usam a mesma frase: "Você gosta de literatura?". É uma estratégia de vendas agressiva e até constrangedora: se o cliente diz que não gosta, passa por ignorante; se diz que gosta, já é uma desculpa para o autor sacar o livrinho e fazer sua propaganda.

    Na ponte que liga o Centro Histórico às tendas principais da Flip, alguns poetas são menos insistentes na abordagem: simplesmente leem trechos de suas obras. Se o cliente gosta, geralmente para e fica ali, apreciando.

    SEM INGRESSO

    Outra novidade este ano: o show de abertura, geralmente um evento concorridíssimo e com ingressos esgotados no primeiro dia de vendas, será aberto ao público.

    A localização do palco também foi mudada, da praia do Pontal para a praça da Matriz, dentro do Centro Histórico. Assim, ninguém precisará de ingresso para ouvir Gal Costa abrindo a Flip na próxima quarta-feira, dia 30.

    ANDRÉ BARCINSKI, 46, jornalista, morador de Paraty, lança, na Flip, "Pavões Misteriosos - 1974 - 1983: a Explosão da Música Pop no Brasil" (Três Estrelas).

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