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    Não consegue se desgrudar do e-mail? Os alemães têm a solução

    YVONNE ROBERTS
    DO "OBSERVER"

    15/09/2014 13h38

    O que é exatamente que pensamos que nos vai fazer tanta falta que requer uma resposta imediata, como se qualquer atraso pudesse fazer evaporar a importância do momento, o que dirá da mensagem?

    Para a americana Gloria Marks, professora de tecnologias interativas e de colaboração, o profissional médio checa seus e-mails nada menos que 74 vezes por dia (praticamente não sobra tempo para uma passada rápida na ASOS.com para completar seu guarda-roupa de inverno durante o horário de trabalho ou para ir ao YouTube ver cachorros fofinhos fazendo piruetas de roupa de balé). Jennifer Deal, do Centro Americano de Liderança Criativa, em San Diego, Califórnia, diz que o profissional médio de colarinho branco e dono de um smartphone passa 13,5 horas por dia ligado ao e-mail, e um terço deles não resistem à compulsão de olhar seus e-mails enquanto fazem uma refeição.

    Uma vez criado o vínculo, não há dúvida de que é viciante. Spam, phishing, brincadeiras, ofertas, negócios de ocasião e até a mensagem ocasional de trabalho ou de um amigo, tudo isso faz parte do modo de vida atual, baseado no e-mail. Alguém, em algum lugar, sempre está ansioso por comunicar-se com você. Às vezes a pessoa até sabe seu nome. Mas isso ainda não explica o que é em nós que nos faz não querer esperar, nem por um nanossegundo.

    Antigamente, nos tempos em que os pombos-correio eram altamente valorizados e as comunicações eram feitas por carta, Jane Austen, por exemplo, talvez corresse pelo caminho do jardim para arrancar as cartas das mãos do carteiro e voltasse voando para casa, com papel e caneta em punho, já compondo uma resposta rápida antes mesmo de ser servido o chá das cinco.

    Mas isso não se compara em nada com a febre atual. É como se estivéssemos correndo contra nossa própria mortalidade, quando, afinal, é apenas um e-mail.

    Os alemães não têm uma resposta, mas têm uma solução. A Daimler agora tem uma configuração "modo férias" para os e-mails enviados fora do horário de trabalho. Uma vez aplicada a configuração, ela oferece a quem mandou o e-mail um nome alternativo a quem contatar e depois –e isso requer nervos de aço– o e-mail é destruído. A Volkswagen e a Deutsche Telekom também aderiram ao esquema.

    Não se sabe ainda se essa brutalidade extrema vem acompanhada de assistência psicológica para o transtorno de estresse pós-traumático que será sofrido por todos aqueles carentes profissionais alfa de colarinho branco que, ao retornar de férias ou de um feriado, certamente enxergarão sua caixa de entrada vazia como sinal de que já não são mais necessários/importantes/indispensáveis.

    Pior ainda, o tempo –aquelas mais de 13 horas– antes ocupado respondendo ou deletando 230 e-mails, especialmente os de colegas de trabalho sentados a dois metros de distância, terá que ser preenchido. Mas com o que, exatamente? Trabalho? Isso não!

    Nos anos 1970 nos foi prometido que até o século 21, nas regiões prósperas do planeta, trabalharíamos pelo equivalente de um mês menos por ano e que o dia de trabalho seria encurtado, na medida em que robôs fossem fazendo o trabalho cansativo e árduo e os humanos se encarregassem de pensar.

    O que ninguém poderia ter previsto então foi que o e-mail e a compulsão patológica de conectar-se com qualquer pessoa a qualquer hora –mas geralmente com frequência enorme– iriam ampliar, e não reduzir, as horas de trabalho. A não ser, é claro, que você seja uma das pessoas com coragem suficiente para adotar o "modo férias". Isso sim é bravura.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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