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    Escritores encontram fórmula de sucesso em sagas familiares

    VANESSA THORPE
    DO "OBSERVER"

    12/10/2014 03h25

    O clã Bush, os Spencer, os Huston e os Kennedy voltam a chamar a atenção do público, enquanto editoras lançam livros sobre dinastias com histórias interessantes

    Se existe algo melhor que uma pessoa famosa que escreve a seu próprio respeito, é uma pessoa famosa que escreve sobre sua família famosa. Você ainda não está convencido? As editoras esperam que as novas biografias e autobiografias de celebridades prestes a ser lançadas vão atrair os leitores com suas sagas de dinastias da vida real. Entre as famílias ilustres apresentadas para dissecação estão o clã Bush, a família Spencer, a família Huston –através das memórias da atriz Angelica– e, é claro, os Kennedy, mais uma vez.

    Em alguns casos a visão apresentada é especialmente íntima; Charles Spencer, irmão da falecida princesa Diana, escreve sobre seus próprios antepassados, enquanto George W. Bush apresenta uma apreciação de seu pai. E a biógrafa literária britânica Selina Hastings publica a história da vida de seu pai, o libertino 16º conde de Huntingdon.

    "Os leitores geralmente gostam da história vista sob ótica humana. Com relação a como pais e mães tratam seus filhos, você pode posicionar-se contra eles, como família", comentou Gordon Wise, editor sênior da agência literária Curtis Brown. "E há também o elemento de pesquisa de história familiar, algo que remete a 'Who Do You Think You Are' (programa da BBC em que famosos pesquisam a vida de seus antepassados). Quando tratam de pessoas que tiveram envolvimento histórico com a vida pública, estas podem ser histórias épicas."

    A biografia de George H.W. Bush, o 41º presidente dos Estados Unidos, escrita por seu filho, o 43º presidente, é vista por alguns como um livro sobre a mais bem-sucedida dinastia política recente dos EUA que teria sido lançado agora para coincidir com a decisão que o irmão mais jovem de George W., Jeb Bush, o ex-governador da Flórida, deve tomar sobre sua própria possível candidatura à Casa Branca. Perguntado sobre as ambições de Jeb para 2016, George W respondeu: "Acho que ele faria um grande presidente. Ele entende como é ser presidente, não apenas para a pessoa que é candidata ou que ocupa o cargo, mas para sua família. Ele já viu seu pai ser presidente, viu seu irmão ser presidente. Jeb é um homem que reflete muito. Ele está pesando suas opções."

    O selo WH Allen, da Ebury Publishing, que adquiriu os direitos britânicos sobre "41: A Portrait of My Father", promete uma biografia "altamente pessoal" e "singular e íntima" a ser lançada em 11 de novembro, simultaneamente com a edição americana. Divulgando o livro este ano, o autor -cujo livro anterior, "Momentos de Decisão", detalhou os dilemas mais importantes de sua vida"-disse: "George H. W. Bush é um grande servidor, estadista e pai. Adorei escrever a história de sua vida, e espero que outros tenham prazer em lê-la." A editora do livro nos EUA diz que a obra vai cobrir "toda a vida e carreira do presidente Bush, pai, incluindo seu serviço militar no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, seu trabalho pioneiro no setor petrolífero do Texas e sua ascensão política como deputado, representante dos EUA na China e nas Nações Unidas, diretor da CIA, vice-presidente e presidente". A primeira tiragem nos EUA será de 1 milhão de exemplares. O último livro de George W. Bush vendeu pouco menos de 30 mil cópias, segundo a Nielsen Bookscan.

    Os fãs de uma família presidencial mais glamurosa poderão se animar com o lançamento de mais dois livros sobre os Kennedy em 28 de outubro. "The Good Son: JFK Jr and the Mother He Loved", do biógrafo de sucesso Christopher Andersen, supostamente contém revelações sobre as namoradas de John Kennedy Jr e a noite de sua morte num acidente de avião, em 16 de julho de 1999. Mas o foco principal do livro é sobre sua relação com sua mãe, Jacqueline Kennedy Onassis. A obra vai mapear a depressão que ela sofreu após o assassinato de seu marido em Dallas e como ela encarou a sucessão de mulheres famosas com quem seu filho se relacionou, entre elas Madonna, Sarah Jessica Parker, Daryl Hannah e a esposa dele, Carolyn Bessette.

    A outra crônica dos Kennedy a chegar às livrarias no mesmo dia é a biografia "sensível" escrita por Barbara Leaming da ex-primeira-dama. "Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis: The Untold Story" vai descrever a luta de Jackie para superar o transtorno de estresse pós-traumático após o assassinato de seu marido.

    A família britânica mais famosa da vida pública a ser afetada por uma morte brutal e repentina, os Spencer, é o tema de uma nova história, lançada no mês passado, que acompanha a família aristocrática desde seus primórdios medievais, criando ovelhas, ao longo de séculos a serviço da coroa, chegando até o casamento da irmã do autor com o príncipe de Gales. Elogiado pela crítica por sua habilidade narrativa, o livro se beneficiou do acesso do 9º conde de Spencer a documentos particulares da família.

    O livro de Selina Hastings, "The Read Earl", também vasculha arquivos aristocráticos para relatar a história de seu pai, Jack Hastings, que em 1925 rebelou-se contra sua família conservadora, fugindo com uma bela italiana e deixando a Inglaterra em direção à Austrália para tornar-se pintor. Em seguida o casal se mudou para uma ilha no Pacífico Sul, de onde foi para a Califórnia e então retornou à Inglaterra, onde Hastings levou uma vida social glamurosa com Charles Chaplin e Douglas Fairbanks.

    Gordon Wise acha que Hastings foi hábil ao focar sobre apenas um de seus antepassados aristocratas. "Com uma saga familiar, a dificuldade é que geralmente há uma ou duas gerações que não são tão interessantes quanto as outras, então às vezes a narrativa pode ficar frouxa."

    Para ele, a aristocracia de modo geral está em voga em parte devido ao interesse por Eton e as atividades do Bullingdon Club, o grêmio estudantil de Oxford destacado no filme "The Riot Club". "Essa narrativa forma uma espécie de telenovela", disse o editor. "Essas histórias simplesmente se encaixam com todos os detalhes complexos envolvendo bens e testamentos. Muitas vezes são mais 'Downton Abbey' que o próprio 'Downton Abbey'. Os leitores ficam interessados e espantados ao ver que tudo isso continua a acontecer em um país que hoje é supostamente uma democracia."

    O prefeito de Londres, Boris Johnson, deve lançar ainda este mês seu estudo de sir Winston Churchill, "The Churchill Factor". O livro se debruça sobre o relacionamento de Churchill com seu pai, Randolph, e a posição duradoura ocupada pelo primeiro-ministro histórico como político exemplar. "Apesar de ser ex-jornalista e editor, como Churchill, Boris se sente humilde diante das realizações de Churchill", comentou Wise, admitindo que os autores de livros sobre grandes figuras dinásticas com frequência também revelam algo a seu próprio respeito. "Se eles pertencem à família, muitas vezes estão tentando se destacar, diferenciando-se de seus parentes famosos, ou dizer alguma coisa sobre sua própria posição."

    O novo livro de Anjelica Huston talvez se enquadre nessa categoria. Depois de seu aclamado livro de memórias "A Story Lately Told", a atriz retoma a história de sua luta para erguer sua carreira à sombra das de seu pai, o diretor de cinema John Huston, e de seu famoso ex-parceiro Jack Nicholson.

    E quais são as perspectivas comerciais dessas sagas dinásticas? De acordo com Wise, se as histórias forem relatadas com habilidade, os livros podem vender bem. "Os livros sobre o passado e a história tendem a fazer sucesso no Reino Unido, agradando aos membros das organizações National Trust e English Heritage (que preservam o patrimônio histórico e cultural britânico), mas a publicação de trechos em jornais não vale tanto quanto no passado, de modo que as editoras em muitos casos dependem de um livro ser selecionado para ser finalista para algum prêmio destacado."

    TRÊS CLÁSSICOS

    Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon

    Os primeiros volumes desta obra-prima em seis volumes lançada entre 1776 e 1788 cobrem os triunfos e os erros das grandes famílias e dos grandes guerreiros de Roma. Gibbon iniciou a discussão sobre o que causou a queda do império romano ocidental e o encolhimento do império oriental remanescente nos séculos 4 e 5 d.C.

    The Borgias: History's Most Notorious Dynasty, de Mary Hollingsworth

    O nome dos Bórgia é sinônimo de vaidade, excessos, lascívia e traição. Os Bórgia também foram os maiores patronos das artes na Renascença. Este thriller erudito publicado três anos atrás relata as histórias de Rodrigo Bórgia, mais conhecido como o papa Alexandre 6º, e de Lucrezia Bórgia e seu irmão Cesare.

    The Fitzgeralds and the Kennedys: An American Saga, de Doris Kearns Goodwin

    Esta história de uma das famílias mais poderosas dos Estados Unidos saiu em 1999. A historiadora premiada com o Pulitzer conduz o leitor desde o batismo de John Francis Fitzgerald, em 1863, até a posse de seu neto na Presidência dos Estados Unidos, 98 anos mais tarde.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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