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    Diário de Buenos Aires - Os espaços vetados e os odores da cidade

    FELIPE GUTIERREZ

    16/11/2014 03h25

    Espaços flexíveis para apresentações culturais, que abrigam shows, festas, exposições e peças de teatro, proliferam em Buenos Aires desde meados da década passada. São lugares pequenos, normalmente privados, conhecidos como centros culturais. Neste ano, porém, mais de 30, de um total estimado de 180, foram fechados pela prefeitura.

    Os fiscais baixaram as portas de casas como a El Sueñero, na Boca, e a Casa del Pueblo, no centro. Pela legislação da cidade, é preciso um alvará de funcionamento para cada atividade específica, o que os centros não têm. A prefeitura ainda impõe uma multa de entre 10 mil e 15 mil pesos (R$ 3.000 a R$ 4.500), que os estabelecimentos dizem não ter como pagar.

    Os proprietários dos espaços se organizaram e formaram o Meca (Movimento de Espaços Culturais e Artísticos). Eles se reuniram com vereadores simpáticos à causa para redigir um projeto de lei que reconheça os espaços multifuncionais.

    Segundo Pablo Leibson, 28, um dos líderes da organização, os vereadores governistas se comprometeram a aprovar o texto até o fim do ano. Para atrair atenção à causa, eles já fizeram protestos na frente da prefeitura e da Secretaria de Cultura. No domingo passado (9), o Meca organizou um pequeno festival no parque Rivadavia, no Caballito, bairro no centro geográfico da cidade. Em frente a uma estátua de Simon Bolívar a cavalo, se apresentaram Unidad Orquestral Mínima, Peteco Carabajal, Ariel Prat e outras bandas de música folclórica de pequena projeção.

    O público era formado essencialmente por militantes peronistas, e o tom era de crítica à "cultura como entretenimento ou espetáculo" e ao "macrismo"-movimento político encabeçado pelo prefeito Maurício Macri, pré-candidato à presidência no ano que vem.

    CICLOVIAS PORTENHAS

    Mais de 4.000 ciclistas participaram da pedalada de fechamento do Festival da Bicicleta, que ocorre há três primaveras na cidade, com oficinas de manutenção e exibição de documentários e palestras.

    Buenos Aires tem feito o que pode para estimular esse meio de locomoção. A cidade é atravessada por cerca de 120 km de ciclovias de mão dupla (como as novas de São Paulo), há quatro anos vigora um esquema de aluguel, e os bancos emprestam dinheiro sem juros para compra de bicicletas.

    Estacionar a magrela não é difícil: espalharam-se paraciclos tanto em praças como em esquinas (muitos deles são privados, de estabelecimentos que tentam atrair clientes, às vezes dando desconto para quem chega pedalando).

    A prefeitura estima que cerca de 180 mil trajetos diários para o trabalho ou para a escola são feitos em bicicleta -3% do total desse tipo de deslocamento.

    JACARANDÁ E METRÔ CHEIO

    O artista plástico Martín Bonadeo expõe, até o dia 13 de dezembro, obras de arte que exalam cheiros de Buenos Aires.

    Ele fez quadros e peças com fragrâncias que remetem à cidade. As pinturas ficam em caixas com tampa de vidro e, para sentir o cheiro, o visitante tem de abri-las. Para escolher os odores ele pediu ajuda aos amigos. Chegou a jacarandá, café, chocolate, lixo, asfalto em dia quente e metrô cheio de gente.

    Bonadeo então entrou em contato com fabricantes de essências, que enviaram a ele 50 fragrâncias.

    "Vórtices Aromáticos" está em cartaz na galeria Práxis, no bairro da Recoleta. Não é a primeira vez que Bonadeo brinca com cheiros: há dez anos, ele expôs no Malba (Museu de Arte Latino-Americana) peças feitas com madeira podre tirada do mar para dar ao visitante a sensação de estar em um calçadão.

    DE PORTAS ABERTAS

    Em outubro aconteceu a segunda edição do "Open House Buenos Aires", em que cerca de 70 edifícios abriram suas portas para curiosos. A iniciativa anual é do grupo CoHabitar Urbano, formado por arquitetos, fotógrafos, professores e interessados em urbanismo.

    Muitos dos prédios são comerciais ou públicos, como hotéis, teatros e bibliotecas, mas residências também foram incluídas, como as do parque Los Andes, que são de um estilo de moradia coletiva típico da metade do século 20, no bairro de Chacarita.

    Não só edifícios históricos estavam abertos. Um prédio de escritórios erguido em 2010 também recebeu visitantes.

    FELIPE GUTIERREZ, 34, é correspondente da Folha em Buenos Aires.

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