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    Diário de Lisboa - Povo que cais descalço

    ISABEL COUTINHO

    07/12/2014 03h31

    Numa semana em que muito se discutiu se a imagem de Portugal ficou afetada internacionalmente por causa dos sucessivos casos de corrupção que foram parar à Justiça, culminando na prisão preventiva do ex-primeiro ministro José Sócrates, outros portugueses estão a dar o que falar lá fora.

    Os Dead Combo souberam que duas das suas músicas -"Lisboa Mulata", que tem vídeo oficial realizado por Mário Melo Costa, e "Rumbero"- foram escolhidas para fazer parte da banda sonora do filme "Focus", de Glenn Ficarra e John Requa, com Will Smith no papel principal mas também com participação de Rodrigo Santoro, com estreia em 2015 (no Brasil, como "Golpe Duplo").

    A banda, um duo instrumental formado por Tó Trips e Pedro Gonçalves, que mistura jazz, fado e "western spaghetti", lançou o seu quinto álbum em março, "A Bunch of Meninos" que tem canções com títulos sugestivos como "Miúdas e Motas" ou "Povo que Cais Descalço".

    Quando o chef norte-americano Anthony Bourdain esteve a fazer em Lisboa um dos episódios do seu "No Reservations", em 2012, teve-os por convidados. Foram ao Sol e Pesca, restaurante onde se comem as típicas conservas portuguesas. Depois da emissão do programa nos EUA, três dos seus álbuns entraram para o top dez dos discos de músicas do mundo mais vendidos no iTunes norte-americano.

    OS LOBOS DE VHILS

    Também o artista Alexandre Farto anda nas bocas do mundo. É um dos 11 artistas urbanos escolhidos para o projeto "U2: Films of Innocence" que será lançado no dia 9 de dezembro e servirá como "contraponto visual para o álbum 'Songs of Innocence'", que a banda irlandesa lançou gratuitamente em setembro no iTunes. O filme é uma "uma coleção de curtas artísticos inspirados" no álbum e já está em pré-venda no iTunes, onde se explica que "tendo os murais políticos da Irlanda do Norte como referência, o U2 criou este projeto para celebrar o poder único e democrático da arte urbana".

    Já está disponível um trailer o português, também conhecido como Vhils, fez o filme da canção "Raised by Wolves" (que rodou num antigo estaleiro em Cacilhas, Almada, uma paisagem industrial abandonada). Vhils tem atualmente uma exposição no museu da Caixa Cultural em Recife com a reinstalação da peça "Incisão", resultado de uma residência artística e da colaboração com a tribo guarani da aldeia Araçaí.

    DO ALENTEJO PARA O MUNDO

    Para provar que um alentejano nunca canta sozinho, uma comitiva de 21 homens do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa viajou de autocarro do Alentejo até Paris, com dois leitões assados, presuntos, queijos e pão alentejano na bagageira. Tudo para cantarem por alguns minutos na sala da Unesco e ouvirem o anúncio de que o cante coral alentejano tinha sido considerado patrimônio cultural imaterial da humanidade, um dia depois da roda de capoeira.

    Agora, em Portugal, já há quem sonhe com a criação de casas de cante, tal como existem casas de fado, e os jovens estão orgulhosos da tradição que associavam aos mais velhos e ao trabalho nos campos. Esse canto -que se pensa ter nascido da música gregoriana, dos cantos polifônicos sacros medievais e da música deixada pelos árabes-, vive no documentário "Alentejo, Alentejo", de Sérgio Tréfaut (goo.gl/empZ29), cineasta português nascido em São Paulo, filho de um alentejano e de uma francesa.

    INÉDITO DE AMÁLIA

    Também passaram agora três anos desde que o fado é patrimônio imaterial da humanidade, o que levou a que, além de se formarem novas gerações de fadistas -o Museu do Fado tem uma escola de guitarra portuguesa, orientada por António Parreira, aulas de canto e de letras para fado-, se tenham recuperado algumas gravações.

    Uma delas é de Amália Rodrigues, que fez em 1951 num estúdio improvisado na rua Nova do Almada, no Chiado, em Lisboa, para a Valentim de Carvalho antes de ter ido em 1952 para Londres gravar nos estúdios da EMI de Abbey Road.

    As canções podem ser ouvidas no CD duplo "Amália no Chiado", coordenado por Frederico Santiago. Traz um inédito "Fado Lamentos" com letra e música da própria Amália.

    ISABEL COUTINHO, 48, é repórter do jornal português "Público".

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