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    Obra de Andy Warhol vai inundar museus e leilões em 2015

    TED LOOS
    DO "NEW YORK TIMES"

    11/01/2015 03h47

    Prepare-se para uma enxurrada de trabalhos de Warhol este ano, e não apenas em leilões. Cerca de 40 exposições de obras do artista, muitas delas nunca antes vistas pelo público, vão inundar museus de arte e instituições universitárias.

    A força responsável pela enxurrada é a Fundação Andy Warhol para as Artes Visuais, que acaba de encerrar sua terceira e última rodada de um programa recorde de doações e agora inicia uma fase nova e mais madura, voltada unicamente às doações.

    Nesta última fase, a fundação doou mais de 14 mil trabalhos, em sua maioria materiais fotográficos e estampas, estipulando que os museus devem expor os trabalhos em até cinco anos. Desde 1999 a fundação já distribuiu 52.786 trabalhos de Warhol para 322 instituições.

    Andy Warhol Museum
    O artista pop norte-americano Andy Warhol em comercial da TDK, em 1982, em Pittsburgh, nos Estados Unidos
    O artista pop norte-americano Andy Warhol em comercial da TDK, em 1982, em Pittsburgh, nos Estados Unidos

    Christine J. Vincent, que dirigiu para o Instituto Aspen o Estudo Nacional de Instituições Dotadas por Artistas, disse que as doações de obras de Warhol "são ímpares entre fundações dotadas por artistas, em termos do número de obras doadas e do número de instituições que as receberam". (Para dar uma ideia do alcance da atuação da Fundação Warhol, ela também ajudou a financiar o próprio estudo.)

    Nas próximas seis semanas, exposições de obras de Warhol serão inauguradas no Instituto Abroms-Engel para as Artes Visuais, parte da Universidade do Alabama em Birmingham (a mostra incluirá uma serigrafia do rosto de Richard Nixon intitulada "Vote em McGovern"); no Museu de Arte do Middlebury College, no Vermont (com uma serigrafia de Mao Tse-tung), e no Museu de Arte da Universidade do Arizona, em Tucson (essa exposição incluirá fotos de polaroide e de prata coloidal do cenário do "downtown" nova-iorquino nos anos 1970 e 1980).

    Entre as gravuras vintage de Warhol destinadas a dez instituições internacionais e ao Centro Cantor de Artes, da Universidade Stanford, há fotos "alinhavadas-não alinhavadas" -imagens únicas que Warhol contratou uma mulher para alinhavar em grades de quatro, seis ou oito (elas incluem imagens de manequins masculinos, vacas, grafitagens de Pac-
    Man e uma foto da escritora Tama Janowitz feita à moda de Picasso). Quando Warhol morreu, uma pilha de fotos foi encontrada ao lado de uma máquina de costura; as fotos seriam costuradas. Recentemente o conselho da Fundação Warhol decidiu que a melhor solução seria fazer com que fossem alinhavadas como Warhol pretendia, pelo Fabric Workshop and Museum, de Filadélfia.

    A fundação tem uma dotação em dinheiro de mais de US$280 milhões e ativos no valor de mais de US$350 milhões. Em 2015 ela vai doar quase US$14 milhões em dinheiro, principalmente para instituições nos Estados Unidos.

    "Andy disse 'vamos apoiar as artes visuais'", disse Joel Wachs, o presidente da fundação, falando da missão dela. Segundo ele, um dos mais importantes projetos novos da instituição é uma dotação de US$300 mil por dois anos para a criação da Common Field, uma rede nacional de espaços e projetos comandados por artistas.

    "Quando digo que Andy será conhecido por sua filantropia tanto quanto é conhecido por sua arte, é verdade."

    Desde 2008 a fundação vem se concentrando em doar trabalhos a galerias de arte de escolas e universidades, onde tem encontrado um público sedento de material de Warhol para expor e usar.

    E há muito entre o qual escolher, por conta da abordagem prolífica de Warhol à arte e à vida, que o levava a carregar uma câmera para todo lugar e fazer o que descrevia como um "diário visual".

    "Não é por nada que chamavam o estúdio dele de Factory (fábrica)", disse Wachs, aludindo à produtividade dela. Ele notou que Warhol costumava fazer centenas de fotos de polaroide de um único tema, para usar para a criação de um retrato pintado.

    O Museu de Arte do College of Wooster, no Ohio, recebeu 150 obras de Warhol desde 2008, em sua maioria fotos polaroides, estampas de silk-screen e impressões fotográficas de prata coloidal em preto e branco. O museu vai expor muitas delas numa mostra no outono americano deste ano que vai destacar o uso pioneiro do selfie pelo artista.

    "É uma coisa importantíssima para nós, em vários níveis", comentou a diretora do museu, Kitty Zurko. "Somos um museu-escola. Usamos estes materiais ativamente no dia a dia. Mas também somos uma escola de artes liberais. Nem todo o mundo é estudante de arte, mas todo o mundo sabe quem é Warhol -até um estudante de química sabe."

    O Centro Cantor de Artes recebeu o maior dos presentes recentes de obras de Warhol, incluindo 4.115 folhas de negativos -abrangendo a coleção integral de fotografia em preto e branco do artista-e 3.624 folhas de contatos.

    "Stanford pode fazer algo que não está ao alcance de outras instituições: adotar uma abordagem realmente interdisciplinar e plural a Warhol, que é apropriada", disse a diretora do centro, Connie Wolf.

    Embora não haja exposições programadas do material de Warhol em Stanford até 2017, as folhas de contatos serão usadas este ano, juntamente com imagens de Eadweard Muybridge, pioneiro inglês da fotografia, do século 19, numa aula na Escola de Medicina da Universidade Stanford que pretende aguçar as habilidades clínicas dos estudantes de medicina através de uma análise de obras de arte.

    Os museus maiores não foram esquecidos na rodada mais recente de doações. Warhol montou seis "álbuns de família" que abrangem números diversos de fotos de polaroide, e a fundação deu um álbum a cada uma das seguintes instituições: o Museu de Belas-Artes de Houston, o Museu Whitney de Arte Americana, o Museu de Arte de Filadélfia, o Museu Nelson-Atkins de Arte, a Casa George Eastman e o Museu de Arte de Portland, no Oregon.

    Mas será que tudo com que Warhol trabalhou realmente é uma obra de arte? "Muitos destes trabalhos ele fez para seu uso pessoal", comentou Peter Barberie, curador de fotografia no Museu de Arte de Filadélfia, informando ainda que muitas das 467 imagens que constam do álbum recebido pelo museu são "de pessoas famosas, cães e homens nus". Algumas delas foram exibidas pelo museu no ano passado.

    Segundo Barberie, o museu ficou satisfeito em recebê-las, porque não tinha polaroides de Warhol e porque as imagens proporcionam uma visão do processo artístico. "Não foram as latas de biscoitos de Warhol que foram vendidas em leilão", disse o curador. "A fotografia estava à base da arte dele."

    Segundo ele, o simples fato de Warhol nunca ter vendido ou doado essas imagens acrescenta valor a elas. "Essas eram as imagens de que ele realmente gostava e que ele guardou para si mesmo."

    Tradução de CLARA ALLAIN

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