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    Diário de Londres - O tempo das guerras

    LEANDRO COLON

    22/02/2015 03h17

    Sete meses após os bombardeios dos Aliados que destruíram a cidade alemã de Dresden, em 1945, o fotógrafo alemão Richard Peter voltou ao local para registrar o que sobrara. Um estudante de 17 anos capturou imagens da nuvem em Hiroshima 20 minutos após a bomba atômica atingir a cidade japonesa na Segunda Guerra.Em 2013, Chloe Dewe Mathews fotografou a área onde soldados britânicos, franceses e belgas eram executados na Primeira Guerra Mundial (1914-18) por suas próprias tropas, acusados de covardia e deserção.

    Quem vier a Londres até 15/3 pode ver a exposição "Conflict, Time, Photography", aberta desde novembro na Tate Modern. O curador Simon Baker inspirou-se no clássico livro "Matadouro 5", do americano Kurt Vonnegut (1922-2007), que, como prisioneiro de guerra, testemunhou o bombardeio a Dresden.

    A ideia da mostra é apresentar imagens feitas em conflitos segundo o momento em que foram captadas: minutos, dias, semanas ou décadas após os ataques.É possível ter ideia da imediata consequência de um bombardeio ou o rastro de um ataque aéreo muito tempo depois de sua ocorrência.

    O museu reservou 11 salas de uma galeria para montar a exposição. A primeira, intitulada "Moments Later" (momentos depois), exibe, por exemplo, os cliques dos segundos imediatamente posteriores a um ataque americano no Afeganistão, em 2001, e de outro no Iraque, em 2006, além da imagem de um assustado fuzileiro naval que acabara de entrar em combate em 1968, no Vietnã.

    As galerias seguintes seguem a ordem cronológica dos registros de outras guerras, inclusive a da Crimeia (1853-56), com fotos tiradas pelo britânico Roger Fenton (1819-69), pioneiro na cobertura de guerra para o fotojornalismo.

    MENOS DINHEIRO

    Enquanto isso, o tradicional Museu da Ciência de Londres, em South Kensington, reclama da falta de dinheiro. A política de austeridade fiscal do governo de David Cameron também atingiu o setor nos último anos. Só o Museu da Ciência e seus três "irmãos regionais" (em Manchester, York e Bradford) tiveram cerca de 30% dos recursos públicos cortados.

    O Reino Unido terá eleição em maio para escolha de um novo Parlamento. A "faca" no orçamento será um dos principais temas de campanha. Em entrevista publicada pelo "Financial Times", o diretor do Museu da Ciência, Ian Blatchford, previu cenário de declínio, caso os cortes permaneçam.

    "Se houver uma nova rodada de cortes após as eleições gerais, ficará insustentável. O efeito é letal", disse ele, ex-diretor-adjunto do vizinho Victoria & Albert.

    Como em todos museus nacionais, no Museu da Ciência a entrada para exibições permanentes é franca. As tradicionais (e pequenas) doações dos visitantes somaram 2 milhões de libras (R$ 8 mi) em 2014, quando 3,3 milhões de pessoas passaram pela instituição.

    MENOS AÇÚCAR

    A mais nova polêmica dos britânicos é sobre o patrocínio a um de seus principais cartões-postais: desde janeiro, a roda-gigante à beira do Tâmisa chama-se oficialmente Coca-Cola London Eye. A empresa de refrigerantes firmou acordo para substituir a de energia EDF.

    Entidades de saúde protestaram: argumentam que uma atração turística destinada à família não pode servir à promoção de bebida açucarada e pouco saudável.

    A organização Children's Food Campaign distribuiu 500 escovas de dentes aos visitantes da London Eye para lembrar que, toda semana, cerca de 500 crianças são tratadas de problemas dentários causados pelo açúcar.

    MENOS ÁLCOOL

    Na terra dos pubs, o consumo de bebida alcoólica entre adultos tem caído, segundo recente pesquisa do órgão britânico de estatísticas. Entre 2005 e 2013, caiu de 29% para 18% a proporção dos que bebem pelo menos uma vez por semana no Reino Unido. Mais de um quinto não bebe álcool de jeito de nenhum.

    Autoridades comemoram os números, sobretudo porque doenças causadas pelo abuso de álcool são campeãs dos tratamentos do sistema nacional de saúde. Só na Inglaterra, cerca de 3,5 bilhões de libras (R$ 14 bilhões) são gastos por ano para cuidar de pessoas doentes por causa da bebida alcoólica.

    LEANDRO COLON, 34, é correspondente da Folha em Londres.

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