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    Masculinistas atacam "feminazis"

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

    08/03/2015 03h26

    Veja o caso de Nemo, o peixinho da Disney que se perdeu no mar. "Se fosse a mãe procurando, o filme teria menos de cinco minutos", diz uma publicação popular no Facebook.
    Mas era o pai. E como todos os machos, seja na terra, seja no mar, foi incapaz de cuidar direito da prole.

    Para os masculinistas, essa piada aparentemente inocente revela o quão sexista a sociedade é... com os homens. "Ao contrário do preconceito contra as mulheres, visto como algo ruim, o contra os homens é ignorado e, ainda pior, muitas vezes ridicularizado", diz uma das fundadoras do site Masculinismo.org. Veridiana Wassen, 32, é uma bem-sucedida executiva de empresa farmacêutica nos Estados Unidos. Decidiu lutar pelos direitos do homem porque, ora bolas, ninguém estava pensando neles.

    Quando o filho tinha sete anos, perguntou-lhe "por que os meninos são estúpidos?". Um amiguinho usava uma camiseta onde se lia "garotos são estúpidos, joguem pedra neles". Wassen foi tirar satisfação com a mãe. "Para minha surpresa, ela disse que sabia e que achava tudo muito engraçado."

    Wassen não riu. Também não achou graça quando uma personagem da série "As Brasileiras", da Globo, castrou o namorado. "Dá para imaginar um programa em que a mulher é mutilada e isso é visto como piada?"
    Em dezembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que dá preferência à guarda compartilhada a pais separados em vez de privilegiar a mãe. Uma batalha ganha, mas a luta continua, segundo Aldir Gracindo, 43, editor do braço brasileiro do portal "A Voice for Men".

    A "voz para os homens" tem diretrizes como antifeminismo ("ideologia de ódio, baseada em elitismo feminino"), anticavalheirismo ("sexismo que funciona tanto contra o bem-estar dos homens quanto a credibilidade das mulheres") e "pró-direitos reprodutivos dos homens".

    Essa última prega que, em países onde o aborto é legalizado, o homem tenha o direito de "renunciar juridicamente" à paternidade dentro do prazo dado para a mulher decidir se quer ser mãe (geralmente, 12 semanas). Trocando em miúdos: ficar de fora da certidão de nascimento e não pagar pensão.

    Enquanto serve suco e bolinhos na casa que divide com a mãe em São Paulo, Gracindo expõe suas teses sobre as "feminazis", que teriam uma "visão dos homens pior do que nazistas têm dos judeus".

    Muitos masculinistas veem a Lei Maria da Penha como inconstitucional por só contemplar um sexo: "Os homens que passam por violência doméstica sofrem um estigma social. Eles crescem aprendendo que, se tomar soco, deve levar na esportiva. Se uma menina disser que o tio na escola a bolinou, é um justo escarcéu. Quando é o menino que fala da professora que o seduziu, ganha tapinha nas costas", diz Gracindo.

    Mesmo adultos podem ser vítimas, lembra ele. "Mas se eu falar que acontece, os próprios homens me dizem: ei, eu quero ser estuprado, é só me chamar!"

    O vendedor ambulante Felipe Stancioli, 24, investe no Facebook contra o que julga serem "demonizações" do feminismo. Compartilhou, por exemplo, uma montagem em que feministas nuas criticam o "maníaco" Julien Blanc, enquanto uma mocinha sorridente come pipoca no cinema. "Agora podemos ver em paz 'Cinquenta Tons de Cinza'. Vem com tudo, Christian!"

    Blanc, para quem não lembra, é o "instrutor de paquera" barrado em alguns países por causa de técnicas polêmicas -um truque é puxar a "fêmea" pelos cabelos até a virilha do conquistador.

    Stancioli diz não ter "qualquer simpatia" pelo suíço. Mas sua fúria volta-se contra as feministas e sua "politiquice sem sentido". "É a típica falsa-política-marqueteira que diz por aí que há uma 'cultura do estupro', quando no fundo querem é regular o comportamento normal das pessoas. Blanc não foi julgado por crime algum nem faz apologia do estupro. Ele crê que mulheres se sentem atraídas por um arquétipo de 'macho-alfa-dominador'."

    Falar a favor de seu gênero, para ele, "não é reafirmar o jargão de que lugar das mulheres é na cozinha, e sim perceber que o homem que dizia isso, na época dele, tinha obrigação de sustentar uma mulher, mas não podia ser sustentado por ela. É uma forma mais pluridimensional de ver a situação".

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, 28, é jornalista da Folha e assina o blog Religiosamente no site do jornal.

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