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    Diário de Buenos Aires - Mistérios e espiões

    MARIANA CARNEIRO

    15/03/2015 03h33

    No topo da lista dos mais vendidos na Argentina, atrás somente de "Cinquenta Tons de Cinza" e da franquia John Green, o livro "El Puñal" (o punhal, ed. Planeta), do jornalista Jorge Fernández Díaz, arregimenta leitores em meio ao clima sinistro que domina o país, comovido pela suspeita morte do promotor Alberto Nisman.

    Espionagem, morte e mistério saltaram dos livros de ficção para a realidade e frequentam o noticiário. Quem matou Nisman? O governo, a CIA, o Irã? Teria sido suicídio? O assunto invade as conversas e hipóteses são levantadas quase aos sussurros.

    Na vida real, a investigação patina, versões aparecem a cada instante e a suposição de culpa espreita o gabinete da presidente Cristina Kirchner, principal alvo das acusações do promotor morto.
    A novela de Díaz tem como personagens uma mulher poderosa e um espião, que vasculha a vida dos inimigos de seus patrões. Soa ter relação com a realidade argentina, mas Díaz, que é secretário de Redação do jornal "La Nación", diz que seu livro é pura ficção.

    O clima policialesco e de conspiração política catapultou outras publicações relacionadas ao tema.

    "Matar Sin que se Note"(matar sem que se note, ed. Planeta), de Gustavo Perednik, ganhou nova edição. Trata-se de uma reportagem sobre o caso investigado por Nisman, a suposta conspiração orquestrada por Cristina para encobrir os responsáveis pelo bombardeio da organização judaica Amia -maior atentado da história argentina.

    O HOMEM QUE SABIA DEMAIS

    Outro que chegará às livrarias nos próximos dias é "Código Stiuso" (ed. Planeta), de Gerardo "Tato" Young, que leva no título o nome do espião mais famoso da Argentina: Antonio "Jaime" Stiuso.
    O personagem vale mesmo um livro. Homem poderoso do serviço secreto argentino, espionou inimigos dos governantes por 43 anos. Sua imagem só foi revelada agora e até então era conhecido apenas pelo codinome "Jaime".

    Stiuso passou pela ditadura, redemocratização, governos de radicais e peronistas e, por fim, pela era Kirchner. Recém-expulso do ninho, está sendo acusado pelo governo de fornecer provas falsas a Nisman, a fim de prejudicar Cristina. A realidade nunca foi tão inspiradora para um romance noir.

    O POLÍTICO E O PAPA

    Na semana passada chegou aos cinemas o documentário "Francisco de Buenos Aires", uma produção argentino-italiana dirigida por Miguel Rodríguez Arias.

    O diretor se notabilizou pelo documentário "Las Patas de la Mentira" (1997), em que expôs contradições do ex-presidente peronista Carlos Menem e seus aliados.

    Dessa vez, Arias retrata um personagem quase oposto. Tal qual Menem, Francisco parece ter apreço pela exposição midiática. Mas se o ex-presidente argentino ganhou projeção com uma vida de opulência dourada, a fama de Francisco cresce à medida que demonstra abnegação pelos signos de riqueza da igreja.

    No documentário, o papa é retratado como um sujeito popular, que telefona para os antigos amigos e afirma não ter desejado alcançar a mais elevada (e sagrada) posição na igreja.

    O filme reúne declarações públicas de Francisco, fotos e vídeos, histórias de amigos e entrevistas com biógrafos e com sua irmã.

    Arias mostra o Francisco que todos nós imaginamos, o homem simples que luta pelos pobres e que chegou lá. Não há surpresas.

    O filme está em cartaz em 25 salas de Buenos Aires. No Brasil, será exibido pelo canal Discovery na Páscoa, dia 5/4, às 17h10.

    AINDA A COPA

    Instantâneos registrados por 30 fotógrafos, brasileiros e estrangeiros, não deixam esquecer o momento de perturbação e contrastes que foi a Copa no Brasil.

    Fotos reunidas na exposição "Warld Cup" -"war" de guerra, em inglês- exibem brasileiros que não foram aos estádios. Gente que perdeu a casa para ceder lugar às transformações urbanas, que vive em comunidades pobres ou que enfrentou a polícia nos protestos que antecederam os jogos.

    A exposição permanece em cartaz até o dia 29 de março, no moderno edifício do Centro Cultural de La Cooperación, na agitada avenida Corrientes.

    MARIANA CARNEIRO, 35, é correspondente da Folha em Buenos Aires.

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