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    O preço das casas e o da casa de música em Londres

    LEANDRO COLON

    08/11/2015 02h06

    A capital inglesa é um paraíso para turistas e investidores, e o temor de uma bolha imobiliária na cidade é cada vez mais evidente, assustando não só moradores mas também as autoridades e os bancos.

    Beira a redundância dizer que a capital britânica é cara –tanto do ponto de vista imobiliário e turístico quanto do das despesas do cotidiano de um morador local. Tudo isso, claro, sob uma moeda poderosa –a libra esterlina– ante qualquer outra por aí.

    Recentes previsões, contudo, expõem um cenário ainda mais preocupante para o bolso de quem mora ou pretende se estabelecer na cidade. Relatório divulgado pelo banco UBS em 15/10 coloca Londres no topo de "bolha imobiliária" no mundo entre 15 grandes centros avaliados –à frente de Hong Kong, Sydney e Vancouver.

    Segundo dados do governo, a média do preço de um apartamento na cidade (calculada sobre todos os tamanhos) é de 500 mil libras (R$ 3 milhões), muito acima da média da própria Inglaterra, de 186 mil libras. Já o aluguel de um apartamento de um quarto na zona central não sai por menos de 1,7 mil libras. E em Londres é assim: um bom apartamento não fica mais de 72 horas vazio à espera de novo inquilino.

    Os preços de imóveis na capital britânica são os mais distantes da realidade da renda das pessoas que vivem nela, alerta o UBS. Subiram mais de 40% desde 2013. A cidade atingiu 1,8 ponto numa escala que considera o mínimo de 1,5 como de risco de bolha imobiliária.

    Entre os fatores que levaram a isso estão os investimentos estrangeiros em um local considerado seguro financeiramente –sobretudo numa análise de geopolítica global. Somam-se a isso a demanda externa, a atuação também de compradores ingleses e, com igual relevância, a escassez de espaço para construção de novos imóveis.

    Um cálculo dá uma boa perspectiva do cenário: um trabalhador do setor de serviços, ganhando a média salarial da área, precisa trabalhar cerca de 14 anos para ser capaz de comprar um imóvel de 60 m² –o valor da compra equivale ao custo de alugá-lo por 30 anos.

    A CASA CAIU

    Os aluguéis subiram 4,1% nos últimos três anos ante uma inflação estacionada no zero, ou seja, a consequência é dolorida: o custo de vida aumenta em razão da moradia, mas os salários não acompanham esse movimento.

    Sem dinheiro, resta pedir socorro. O Bank of England mostra aumento de empréstimos considerados inseguros, contraídos sobretudo por inquilinos que não conseguem mais bancar aluguéis.

    UMA CASA A CONSTRUIR

    Ao mesmo tempo em que discute o seu boom imobiliário, a cidade debate a construção de um novo e belo espaço para concertos de música clássica.

    Um projeto estimado em 1 bilhão de libras prevê a construção de um "concert hall" com acústica e adequação refinadas para receber grandes orquestras.

    O pedido foi feito pelo maestro inglês Simon Rattle, que deixa a Filarmônica de Berlim para assumir a Orquestra Sinfônica de Londres, em 2017. Para ele, outros lugares destinados a concertos, como o Barbican Hall, não são satisfatórios, em termos de estrutura.

    A ideia de Rattle tem apoio do ministro de Finanças, George Osborne, fã de música clássica, e do prefeito, Boris Johnson. O alto custo da obra, em meio ao transtorno que poderia causar na região onde seria feita, é um obstáculo para que a proposta vá adiante, ainda mais em um momento de forte ajuste fiscal do governo do Partido Conservador nos gastos públicos.

    GOYA E SEUS RETRATOS

    A Galeria Nacional inaugurou em outubro a exposição "Goya: The Portraits", com 70 retratos pintados pelo espanhol Francisco Goya (1746-1828). Os trabalhos foram emprestados por colecionadores e galerias espalhados pelo mundo.

    Justin Tallis/AFP
    Visitantes observam a pintura "A Família do Infante dom Luis de Bourbon" na exposição de Goya na Galeria Nacional
    Visitantes observam a pintura "A Família do Infante dom Luis de Bourbon" na exposição de Goya na Galeria Nacional

    A crítica londrina recebeu a mostra, que vai até janeiro, com euforia –o "Telegraph", por exemplo, a chamou de "a exposição do ano" e o "Guardian" a considerou "espetacular'.

    Entre os personagens da obra de Goya exposta na galeria estão a família do Infante dom Luis de Bourbon, a duquesa de Alba e o conde de Floridablanca.

    LEANDRO COLON, 35, é correspondente da Folha em Londres.

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